Disfunções do trato urinário inferior em crianças e o processo de desfralde: educação em saúde como ferramenta para educação positiva

  • Author
  • Bruna Batista Da Cas
  • Co-authors
  • Sabrina Orlandi Barbieri , Melissa Medeiros Braz
  • Abstract
  • O desenvolvimento infantil é composto por marcos em diferentes instâncias, com aquisição de capacidades psíquica, cognitiva, motora e psicossocial. Nesse sentido, dentre os marcos do desenvolvimento estão a micção e a defecação voluntárias, com o controle dos esfíncteres, a partir do desenvolvimento do sistema nervoso e da consciência da criança sobre a própria necessidade de urinar ou evacuar. O controle esfincteriano ocorre por volta dos 2 anos de idade, enquanto a continência urinária diurna deve ocorrer até os 4 anos e a noturna até os 5 anos, sendo mais tardio entre os meninos. O desenvolvimento de tal consciência e desses controles caracterizam não só a maturidade biológica, como também aspectos de relação da criança para com o ambiente e consigo mesma. Ademais, é importante refletir sobre as experiências e influências que moldaram os comportamentos da criança em relação à micção e defecação, originadas desde o nascimento, uma vez que podem impactar sua autopercepção e comportamentos futuros, destacando a importância de um ambiente de apoio e compreensão. Nesse sentido, o processo de desfralde, no qual a criança, com o apoio dos pais e dos educadores, aprende a utilizar o penico ou o banheiro de forma independente, compõe um dos marcos de desenvolvimento.

    Caso o desfralde seja realizado de maneira precoce ou inadequada, podem ocorrer Disfunções do Trato Urinário Inferior (DTUI), durante o período escolar, que afetam órgãos responsáveis pelo armazenamento e eliminação da urina - intercorrências comuns em crianças, porém frequentemente negligenciadas. Nesse contexto, a escola exerce papel fundamental tanto na detecção de possíveis afecções, quanto na promoção de um ambiente adequado às necessidades de eliminação fisiológicas. Assim, é essencial garantir um ambiente escolar que promova a progressão da independência da criança nos cuidados com o próprio corpo, incentivando a comunicação de suas necessidades e estabelecendo o desenvolvimento de hábitos de higiene em uma rotina cotidiana consistente. Outrossim,  a educação para a saúde é um direito, sendo assim crucial o conhecimento dos educadores a respeito dos processos básicos de saúde, a fim de instituir em suas propostas pedagógicos competências de autocuidado. Dessa maneira, a escola é capaz de cumprir o desenvolvimento integral das crianças.

    As vivências supracitadas, embora variáveis entre as crianças, apresentam o aspecto comum da necessidade de conhecimento adequado e abordagem responsável por parte dos pais e professores, uma vez que aspectos de higiene pessoal estão relacionados ao bem-estar biopsicossocial infantil. Nesse sentido, a educação em saúde de responsáveis e educadores é fundamental para uma educação positiva. Essa abordagem positiva, baseada no respeito mútuo e integridade física e emocional da criança, é capaz de auxiliar o desenvolvimento de hábitos saudáveis, validar emoções e estimular o diálogo, compreensão e promover a auto responsabilidade quanto a sua saúde.

    Portanto, este trabalho tem como objetivo relatar a experiência na elaboração de uma cartilha informativa sobre o desfralde, destinada à orientação das famílias e/ou responsáveis e de uma cartilha informativa sobre DTUI voltada aos professores da educação infantil.

    A partir de práticas de ensino, pesquisa e extensão voltadas à prevenção e tratamento das DTUI, realizadas com crianças em uma escola pública e no Ambulatório de Fisioterapia da instituição de ensino superior, observou-se a necessidade de desenvolver um material educativo para realizar práticas de educação em saúde junto a pais e professores. Nesse contexto, acadêmicos de graduação e pós-graduação da Universidade Federal de Santa Maria elaboraram duas cartilhas educativas, uma direcionada aos pais ou responsáveis, para auxiliar as condutas no processo de desfralde, e a outra direcionada a professores a respeito das DTUI, abordando as características e relevância da atenção voltada às crianças que sofrem com essas alterações.  Ambas aguardam publicação por meio de um edital institucional. O desenvolvimento das cartilhas incluiu pesquisa bibliográfica e entrevistas com pais e professores, visando identificar dúvidas e dificuldades no processo de desfralde e das DTUI. Para isso, foram realizadas reuniões entre discentes e docentes para organizar o roteiro e os conteúdos a serem abordados. Além disso, foi discutido a respeito da linguagem adequada para atingir o público alvo e a utilização das figuras ilustrativas pertinentes. Após a publicação, a cartilha será distribuída em escolas municipais e estaduais, quando serão realizadas atividades de educação e saúde para pais e professores.

    As cartilhas são compostas, cada uma, por 11 páginas. Foram desenvolvidas de forma didática e atrativa para a orientação e manejo quanto às problemáticas de cada tema.  A cartilha sobre desfralde tem como público alvo pais ou responsáveis. Ela foi organizada em tópicos que abordam desde o processo de micção até orientações práticas para identificar e conduzir o desfralde, incluindo informações sobre práticas como a higiene natural, visando promover uma abordagem consciente e prevenir problemas futuros relacionados ao trato urinário. A cartilha a respeito das DTUI foi elaborada para professores e organizada em 6 tópicos, abordando desde a definição das DTUI até orientações sobre como identificá-las na escola, lidar com situações como pedidos frequentes de ida ao banheiro e oferecer apoio aos alunos e suas famílias. 

    O desfralde é um passo importante para a autonomia da criança em relação à sua higiene pessoal. Esse período configura para os familiares um contexto de ansiedade e curiosidade, pois muitas vezes se sentem despreparados frente a esse processo. Outrossim, comumente hábitos de higiene e uso do banheiro são transmitidos dos pais para os filhos, ditando comportamentos. Dessa maneira, são aspectos geracionais que podem estar sendo vivenciados a partir da cultura, sendo importante o subsídio de conhecimento científico como componente complementar e de orientação para um manejo adequado dessas práticas. Portanto, é evidente que a orientação e suporte dos familiares ou responsáveis sobre o desfralde, incluindo a identificação dos sinais de prontidão e orientações práticas, é essencial para promover uma abordagem benéfica às crianças. As DTUI são comuns na infância e podem afetar significativamente o desempenho escolar e biopsicossocial. Ademais, os sinais e sintomas muitas vezes passam despercebidos pelos familiares e cuidadores. Educadores, portanto, precisam estar preparados para reconhecê-los e intervir adequadamente, informando os pais e encaminhando aos serviços de saúde se necessário. Após a publicação das cartilhas, pretende-se disseminar esse material em instituições de saúde e educacionais, dessa maneira cumprindo o papel social das universidades em democratizar o acesso à informação de qualidade para a sociedade.

  • Keywords
  • Trato Urinário Inferior, Criança. Especialidade de Fisioterapia, Desfralde, Educação
  • Subject Area
  • EIXO 1 – Educação
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