As crianças representam um grupo vulnerável em termos de idade e, portanto, é dever dos adultos responsáveis garantir a proteção integral das crianças, abrangendo aspectos físicos, emocionais e psicológicos. O ambiente escolar, onde passam muito tempo, é propício a vivências que irão, direta ou indiretamente, influenciar as relações interpessoais e individuais dos alunos. Ademais, complicações relacionadas à micção podem ser prevenidas e ou controladas e os professores podem desempenhar um papel significativo na promoção do autocuidado por meio de seu planejamento educacional. Isso oferece oportunidades para ensinar e reforçar hábitos saudáveis. No entanto, até mesmo o simples ato de pedir para ir ao banheiro pode ser complicado para as crianças, devido a regras rigorosas ou restrições de tempo impostas, o que pode causar ansiedade em quem precisa urgentemente atender às suas necessidades fisiológicas. Nesse contexto, é previsto que a criança vá ao banheiro pelo menos duas vezes durante o turno escolar, podendo variar entre as crianças devido a fatores como nervosismo, situações familiares, mudanças na alimentação, sono e algumas doenças. Isso porque, a partir dos 5 anos, é normal que a frequência urinária seja entre 4 e 7 vezes por dia, com um intervalo entre as idas ao banheiro aproximadamente de três em três horas. A supressão imposta às idas ao banheiro pode resultar em perdas urinárias, causando desconforto e constrangimento para o aluno. Nesse cenário, práticas de bullying são frequentes e devem ser desencorajadas, sendo fundamental que os educadores abordem a situação com sensibilidade. A garantia do acesso adequado dos alunos aos banheiros escolares é essencial para o seu bem-estar físico e emocional. No entanto, diversas barreiras, que impedem este acesso podem surgir, tais como condições precárias de higiene, falta de recursos básicos (como papel higiênico, toalhas e sabonete) e sinalização inadequada do caminho para os toaletes. Essas barreiras não apenas causam desconforto físico e constrangimento social (urinar na roupa), como também podem ter impactos significativos na saúde física (incontinência urinária, refluxo vesicoureteral) e psicológica dos alunos. Neste contexto, este trabalho propõe investigar o acesso de crianças escolares ao toalete e as possíveis repercussões na saúde relacionada ao sistema urinário.
Para o presente estudo, foi realizada uma pesquisa descritiva. Compuseram a amostra 77 crianças de 5 a 11 anos incompletos regularmente matriculadas em uma escola pública de grande porte de uma cidade do interior do Rio Grande do Sul. Dentre os alunos, foram incluídas crianças neurotípicas do sexo masculino e feminino. Em contrapartida, foram excluídas crianças que apresentavam incapacidade para responder aos questionários, aquelas que tivessem condições neurológicas, transtorno do espectro autista, transtorno de déficit de atenção e hiperatividade ou deficiência cognitiva. As crianças foram convidadas a participar da pesquisa no período escolar e foi solicitada autorização de seus pais ou responsáveis para participação do estudo. Na avaliação, as crianças foram chamadas no turno da aula para responder aos instrumentos de pesquisa sem que prejudicasse o andamento da aula. Dessa maneira, foram aplicados dois questionários, um sobre dados sociodemográficos, a fim de verificar informações como peso, altura e Índice de Massa Corporal (IMC), e outro sobre a caracterização dos hábitos urinários e intestinais das crianças, o qual continha perguntas como: frequência e hábitos urinários na escola, bem como barreiras para o uso do sanitário na escola. Esses dados foram analisados através de estatística descritiva.
Em suma, foram avaliadas 77 crianças com média de idade de 8,15 ± 1,23 anos. A maioria era do sexo feminino (79,41%), branca (47,06%) e eutrófica (44,12%). Em relação aos hábitos urinários, 16,88% das crianças relataram não utilizar o banheiro da escola. Dentre essas, 9,09% afirmaram não sentir vontade, 3,90% mencionaram que o banheiro era sujo, e 3,90% apontaram outros fatores, como a necessidade de buscar papel higiênico na direção, uma vez que este não é de livre acesso nos banheiros da escola. Além disso, 46,75% das crianças indicaram não ter livre acesso ao banheiro, citando diversos motivos, como retorno recente do recreio, faltar apenas 10 minutos para o recreio, aguardar a volta de um colega ou somente ir se estiverem com muita urgência. Por outro lado, 12,99% das crianças admitiram já terem molhado suas roupas de xixi na escola.
O estudo revelou que as crianças enfrentam diversas barreiras no acesso ao banheiro na escola, muitas vezes evitando utilizar o toalete da instituição e até urinando nas roupas, comprometendo, assim, sua integridade física. Dentre os fatores que justificam essa prática, estão restrições de acesso aos sanitários, condições sanitárias inadequadas de higiene e indisponibilidade de papel higiênico. Os dados coletados ressaltam a necessidade de promover ambientes escolares inclusivos e respeitosos à integridade dos alunos. Nesse sentido, é crucial que as escolas repensem suas políticas, que podem ser resolutivas com medidas simples, como incluir cuidados básicos de saúde no currículo escolar, e condições de infraestrutura relacionadas ao acesso irrestrito ao banheiro e recursos de higiene da instituição, garantindo dignidade e liberdade para as crianças satisfazerem suas necessidades fisiológicas sem constrangimento. No que se dispõe ao uso dos banheiros, é essencial que a instituição possua condições de fácil acesso, como por exemplo, o caminho bem indicado e a utilização de vasos sanitários adequados à estatura das crianças, além da manutenção da higiene dos sanitários e garantia de recursos de higienização aos alunos. Outrossim, é sabido que dentro do contexto de escolas públicas, os recursos podem ser limitados. Contudo, existem alternativas criativas que podem ser utilizadas, como o redutor de assento, apoio para os pés, a adequada higienização do vaso sanitário e orientação às famílias sobre itens de higiene pessoal. Assim, destaca-se a importância de promover ambientes inclusivos e respeitosos que valorizem as necessidades individuais das crianças. Ademais, a educação dos alunos a respeito das questões de saúde generalizada e de questões individuais, tal como do exercício de empatia podem auxiliar a reduzir as práticas de bullying. Nesse sentido, o uso do banheiro como prática social e o manejo em perdas urinárias podem ser introduzidos através de livros lúdicos, recursos visuais sobre o tema e confecção de cartazes em classe. Portanto, é essencial investir na conscientização de professores, funcionários, gestores, pais ou responsáveis e dos próprios alunos, a fim de que sejam solucionados os problemas através de medidas práticas que promovam mudanças positivas no ambiente escolar e no comportamento mediante as necessidades das crianças.