O objetivo deste trabalho é apresentar os itinerários terapêuticos percorridos por uma mulher residente na Ilha Cotijuba, no município de Belém, em busca de tratamento para uma lesão precursora do câncer do colo do útero. Trata-se dos resultados parciais de uma pesquisa de mestrado desenvolvida no campo da Psicologia Social. Partimos de uma perspectiva construcionista e, como bases teórico-metodológicas, usamos as noções de campo-tema e das práticas discursivas. A produção de dados ocorreu primeiramente com o aceite de uma usuária do SUS, denominada aqui como Rosa que foi nossa colaboradora- guia. A partir do aceite dela iniciamos uma série de conversas/entrevistas e o acompanhamento nos trajetos em busca de tratamento no decorrer de 8 meses quando ela buscava tratamento para uma lesão precursora do câncer do colo do útero. Nesse período utilizamos o diário de campo para registrar todo o processo de acompanhamento e gravamos algumas de nossas conversas/entrevistas. Assim, a análise focalizou os relatos da pesquisadora no diário de campo, o que possibilitou uma leitura ampliada dos contextos da pesquisa e os discursos gravados e transcritos que foram submetidos a análise discursiva através da elaboração de mapa dialógico. No mapa foi possível identificar cinco temas centrais: história de vida; itinerários de tratamento no sistema oficial de saúde; sentidos atribuídos ao diagnóstico; deslocamentos em busca do tratamento; itinerários de tratamentos orientados pela cultura popular e pela espiritualidade. Foi possível concluir que os itinerários de tratamento são permeados por aspectos culturais e práticas e saberes complementares em saúde que são consideramos ancestrais e que atravessam os sentidos construídos tanto para a doença quanto para o tratamento. Nesse sentido do ponto de vista das práticas em saúde é fundamental contrapor o paradigma biomédico hegemônico e contemplar outras racionalidades em saúde que incluam os valores subjetivos das mulheres usuárias do Sistema Único de Saúde (SUS).