Este estudo investiga o conteúdo produzido por psicólogos no Instagram a partir de obras de anime e mangá para abordar temas de saúde mental. No âmbito teórico-metodológico trata-se de uma pesquisa qualitativa do campo dos Estudos Culturais e apoiada nas produções de Michel Foucault. A cultura otaku foi produzida no Japão e ganhou projeção global ao longo das últimas décadas. O termo otaku tem sua gênese na década de 1980, usado para descrever jovens que dedicavam grande parte de seu tempo e recursos à sua paixão pela cultura japonesa ou produtos relacionados a ela, entretanto ficou cada vez mais atrelado ao consumo de anime e mangá. O perfil típico de personalidade do otaku, o que muitas vezes recai em estereótipo de personalidade, foi inicialmente reconhecido como masculino e rapidamente se expandiu em presença feminina. São vistos como pessoas que apresentam traços de introversão e interesse por histórias e personagens de animes e mangás. O estigma social associado à identidade otaku, estereotipados como solitários, socialmente isolados e desajustados, pode levar à produção de uma exclusão e exacerbar sentimentos como o de solidão e desconexão social. A discussão em torno desses sentimentos é relevante para a temática da saúde mental, pois são sinais prevalentes em transtornos mentais. Vale destacar que os indivíduos que se identificam como otakus também têm se expandido para além das características de introversão, alcançando cada vez mais pessoas que consomem os conteúdos ligados a essa estética e narrativa. Neste contexto, nosso objetivo é compreender como a interação com conteúdo otaku, mediada por profissionais psicólogos no Instagram, pode influenciar positivamente nas condições de saúde mental dos indivíduos otakus. Como resultado é possível observar que nem todos os jovens otakus enfrentam problemas de saúde mental e que a cultura otaku pode desempenhar um papel positivo na vida desses indivíduos. Muitos encontram um senso de pertencimento, na qual podem compartilhar interesses comuns e fazer amizades significativas. Os perfis dos psicólogos no Instagram que foram analisados pautam suas discussões em obras de anime e mangá e/ou em personagens que abordam temas diversos, oferecendo inspiração e conforto por meio de uma ressignificação ou ampliação dos significados daquele conteúdo e de si mesmo a partir daquele conteúdo. Suas relações e seu comportamento, assim, podem ser modificados diante desses processos de maneiras diversas e com efeitos significativos em sua saúde mental. Por fim, este estudo demonstra a relevância da análise midiática de conteúdos otaku para a promoção da saúde mental. Ao compreender as experiências e necessidades dos otakus, podemos desenvolver intervenções terapêuticas culturalmente sensíveis que atendam às suas demandas específicas em conjunto com uma prática potente de validação. No entanto, é necessário realizar mais pesquisas longitudinais para avaliar a eficácia dessas abordagens terapêuticas e identificar possíveis limitações ou desafios. Todavia, a integração da cultura otaku na prática clínica pode representar um passo significativo em direção à saúde mental inclusiva.