No contexto da relação familiar, a importância de uma comunicação eficaz que estabeleça laços positivos é inegável, pois traz inúmeros benefícios. Entre eles, destacam-se a construção de confiança e proximidade entre os membros do núcleo familiar bem como a promoção de uma participação ativa dos pais no acompanhamento do crescimento e desenvolvimento dos filhos. Uma vez que o diálogo entre pais e filhos é incentivado, cria-se um ambiente acolhedor e seguro, no qual as crianças se sentem à vontade para expressar suas necessidades, preocupações e experiências. Isso é especialmente crucial quando se trata da divulgação de informações relacionadas à saúde da criança, assegurando seu bem-estar físico e emocional. Outrossim, é importante ressaltar que a comunicação eficaz não se resume apenas à expressão dos filhos, mas também à disposição e capacidade dos pais para uma escuta ativa, atenta e receptiva. Nesse sentido, o conhecimento dos pais a respeito dos sinais e sintomas de possíveis problemas de saúde, particularmente relacionados ao sistema urinário das crianças, desempenha um papel fundamental na detecção precoce e no manejo efetivo dessas condições. Ao entenderem e compreenderem os processos de desenvolvimento típico e identificarem eventuais disfunções e suas intercorrências, por meio de sinais e sintomas, os pais estarão mais bem preparados para reconhecer potenciais problemas de saúde e buscar avaliação médica adequada quando necessário. Além disso, ao adquirirem essas informações e conhecimentos sobre essas questões, os pais estarão capacitados para adotar medidas preventivas e promover hábitos saudáveis que contribuam para a saúde urogenital das crianças. Esse empoderamento em relação aos processos de saúde e doença, juntamente com a condução adequada das condições identificadas, é capaz de estimular a autonomia na higiene pessoal da criança e no desenvolvimento biopsicossocial das mesmas. Diante disso, o objetivo do estudo em questão foi avaliar o conhecimento dos pais em relação aos sintomas urinários dos filhos. Diante disso, o estudo em questão teve como objetivo avaliar o conhecimento dos pais em relação aos sintomas urinários dos filhos.
Neste estudo, foi realizada uma pesquisa descritiva que contou com a participação de crianças e seus respectivos pais. O levantamento de dados da pesquisa ocorreu em uma escola pública de grande porte do interior do Rio Grande do Sul, a qual foram incluídas crianças típicas com idades entre 5 e 11 anos incompletos, de ambos os sexos, que apresentavam disfunções do trato urinário inferior (DTUI) e estavam regularmente matriculadas na escola, juntamente com seus pais. Em contrapartida, foram excluídas do estudo crianças com limitações físicas ou motoras, uso de órteses ou próteses, amputações, medicação para incontinência urinária, anomalias anatômicas no trato urinário, síndromes genéticas, deficiências cognitivas ou histórico de cirurgias relacionadas ao desenvolvimento das DTUI, conforme identificado pelas respostas do questionário parental. Ao todo, a pesquisa avaliou 34 crianças com DTUI e seus respectivos pais, através da aplicação de dois questionários: um questionário parental, visando fornecer informações relevantes para os critérios de inclusão e exclusão e dados sociodemográficos; e outro para avaliação das DTUI. Esse questionário é denominado Disfunctional Voiding Symptom (DVSS) e consiste em 10 questões que se referem aos últimos 30 dias. Ele é dividido em duas dimensões: fatores ambientais (1 pergunta) e sintomas urinários/gastrointestinais (9 perguntas). Para os resultados, a pontuação total pode variar de 0 a 30 pontos, com as perguntas avaliadas em uma escala Likert de 0 a 3, exceto a pergunta 10, que é classificada como "não" (0 ponto) ou "sim" (3 pontos). Assim, a criança do sexo femino que obteve mais que 6 pontos e do sexo masculino que obteve mais que 9 pontos, foram consideradas com DTUI. O questionário DVSS foi aplicado nas crianças e nos pais com o objetivo de verificar a concordância entre suas respostas. No que diz respeito ao modo de coleta das respostas, o questionário dos pais foi autoaplicado, enquanto o das crianças foi aplicado por pesquisadores treinados. Ao final, a fim de avaliar a concordância das respostas dos pais e das crianças, foi utilizado o coeficiente de correlação intraclasse (ICC). As respostas foram consideradas convergentes quando ICC ? 0,7.
A idade média das crianças participantes foi de 8,15±1,23 anos, sendo a maioria do sexo feminino (79,41%), de etnia branca (47,06%) e com estado nutricional eutrófico (44,12%). Em relação aos pais, a média de idade foi de 37,48±7,64 anos. Entre as DTUI, os sintomas mais relatados pelas crianças foram baixa frequência urinária e segurar o xixi cruzando as pernas (dancinha do xixi), enquanto os pais mencionaram baixa frequência ao urinar e esforço para ir aos pés. A média da pontuação no DVSS foi de 10,53±2,43 para as crianças e de 5,70±4,01 para os pais. Ao comparar os escores do DVSS respondidos pelas crianças e pelos pais, não foi observada concordância, com um ICC=0,247. A análise desses resultados revela divergências entre as respostas dos pais e das crianças. Essa divergência ilustra a carência de uma comunicação efetiva entre pais e filhos. Muitas vezes, os sintomas mencionados são subestimados e, consequentemente, não são considerados como indicativos reais do estado de saúde dos filhos. Além disso, os dados indicaram uma possível falta de conhecimento dos pais em identificar sinais e sintomas de DTUI em seus filhos. Isso pode resultar na omissão dessas informações durante consultas médicas, passando despercebidas durante a avaliação clínica inicial.
Em suma, no estudo observou-se que os pais não possuem um conhecimento completo sobre os sintomas urinários dos filhos. Portanto, a fim de capacitá-los, é essencial fornecer educação contínua aos pais sobre os sintomas urinários comumente apresentados nas crianças, bem como orientações de manejo às possíveis alterações de saúde. Essas capacitações podem abranger workshops presenciais ou online, rodas de conversa, materiais educativos e consultorias, seja em grupo de pais ou individuais. Nesse sentido, é essencial que essas conversas sejam regulares e promovidas por profissionais de saúde qualificados, que possuam adequado conhecimento na área. Logo, iniciativas criativas de orientação e esclarecimento de dúvidas, podem contribuir significativamente para melhorar a qualidade de vida das crianças e prevenir complicações futuras relacionadas à saúde do trato urinário.