DEBATENDO A INCLUSÃO E COMBATENDO A LGBTFOBIA: UMA RODA DE CONVERSA NA UNIDADE DE SAÚDE DA FAMÍLIA SEBASTIÃO DE SOUZA ALVES NO MUNICÍPIO DE DUQUE DE CAXIAS - RJ

  • Author
  • Bruno da Silva Ferraz
  • Co-authors
  • Cláudia Regina Santos Ribeiro , Andréa Neiva da Silva
  • Abstract
  •  

    O presente relato de experiência refere-se a execução e avaliação da roda de conversa intitulada “Debatendo a inclusão e combatendo a LGBTFobia”, realizada na Unidade de Saúde da Família (USF) Sebastião de Souza Alves, do município de Duque de Caxias, Rio de Janeiro, em maio de 2023. A atividade buscou responder a um caso de lesbofobia ocorrido no mês de abril contra duas profissionais de saúde da unidade e iniciar o ciclo de debates que ocorrerá em todas as USF do município em resposta aos casos de transfobia nesses serviços que vêm sendo denunciados pela comunidade atingida.  

    Apesar do direito à saúde ser assegurado pela Constituição Federal (1988) e contarmos com o SUS (1999), o acesso universal e igualitário aos serviços de saúde ainda enfrenta desafios em todo o país. Em se tratando da população LGBTQUIAP+ a situação é ainda mais difícil, pois são inúmeras as barreiras sociais, culturais e econômicas enfrentadas por essas pessoas, que se refletem nos serviços dificultando ou mesmo impedindo o acesso, como discriminações e constrangimentos de várias ordens devido à sua não conformidade com as normas tradicionais de sexualidade e gênero, tendo um impacto significativo em sua saúde, resultando em sofrimento, doenças e mortalidade prematura.

    Ao superar as barreiras e promover um ambiente inclusivo, os serviços de saúde podem desempenhar um papel fundamental na melhoria da saúde e do bem-estar da população LGBTQIAP+. A garantia de um acesso equitativo, livre de discriminação e com cuidados sensíveis às suas necessidades específicas é um passo crucial para alcançar a equidade em saúde e promover o respeito aos direitos humanos de todos, independentemente de sua orientação sexual ou identidade de gênero.

    Para melhorar o acesso à saúde é fundamental promover a sensibilização e a formação profissional que vise desenvolver habilidades de comunicação empática e respeitosa. Além disso, é necessário implementar políticas e diretrizes institucionais que assegurem o respeito a essas populações, desde a recepção até a prestação de serviços clínicos.

     O objetivo da roda de conversa foi sensibilizar os/as profissionais da USF para a temática da LGBTFobia, estimulando a reflexão sobre os desafios enfrentados por esta população no acesso aos serviços de saúde e estimular a adoção de práticas mais inclusivas. Ao relatar e problematizar esta experiência, pretendeu-se destacar a importância de um olhar sensível para as questões de gênero e sexualidade, fortalecendo a prestação de serviços de saúde adequados, respeitosos e livres de discriminação a essas populações.

    A roda de conversa tem sido descrita como estratégia eficaz para promover o diálogo aberto, a troca de experiências e a construção de conhecimentos coletivos de forma horizontal em torno das temáticas eleitas para o debate, possibilitando a autorreflexão. Essa abordagem colaborativa e participativa fortalece a construção de vínculos e o engajamento dos participantes, contribuindo para a criação de um ambiente propício à transformação social e ao empoderamento das pessoas envolvidas.  

     A atividade em questão foi organizada pelo autor principal desse relato, profissional de saúde da área técnica do município, com o auxílio das enfermeiras da USF, que ficaram encarregadas de divulgar a atividade junto aos 26 profissionais da unidade. Entre os profissionais, 12 aceitaram o convite: três enfermeiras, uma médica, um dentista e sete agentes comunitários de saúde (ACS), além da assistente social do Centro de Cidadania LGBT da Baixada 1. A roda foi realizada no Centro de Referência de Assistência Social Sebastião de Souza Alves, situado no mesmo terreno da USF, no dia 23 de maio de 2023 e a duração foi de duas horas.  Após a sua conclusão,  os/as participantes foram convidados a responder de forma anônima a um questionário de avaliação com perguntas fechadas e abertas sobre os temas abordados e a dinâmica da roda, havendo também espaço para opinarem sobre o evento e sugerirem temáticas para novos encontros.

    Iniciamos a atividade discutindo os conceitos de identidade de gênero e orientação afetivo-sexual e as formas adequadas de abordagem às pessoas LGBTQUIAP+ na saúde, com a ajuda da exibição de um powerpoint sobre a temática. Foi um momento em que muitas dúvidas surgiram sobre as nomenclaturas e conceitos, que foram esclarecidas pelo autor. Na sequência, as ACS começaram a relatar sobre a abordagem a pessoas dessa população, especialmente à população transexual. Aproveitamos o momento para discutir o episódio de transfobia ocorrido no início do ano em uma UBS e debater sobre as suas consequências na saúde dessas pessoas.

    A assistente Social do Centro de Cidadania fez um relato emocionado sobre o sofrimento pelo qual sua neta, lésbica, vem passando após ser expulsa de casa pela mãe, tendo sido abrigada por ela, e os temores que sente em relação ao futuro e à saúde mental da neta. Sua fala emocionada sensibilizou os/as participantes e promoveu um momento importante de reflexão individual e coletiva sobre as consequências nefastas da lesbofobia/homofobia. O momento foi propício para iniciarmos a abordagem do caso de lesbofobia que duas profissionais da própria USF vêm sofrendo após terem assumido um relacionamento amoroso, procurando refletir sobre o quão doloroso deve estar sendo para elas trabalharem num ambiente hostil. Nesse momento foram recordados outros casos de discriminação e a discussão ficou em torno dos obstáculos e sofrimento que provocam.  

    De modo geral, os/as participantes se mostraram sensibilizados com os temas abordados. Alguns participaram mais ativamente, outras de forma mais passiva. Mas não observamos nas expressões qualquer sinal de indiferença ou expressões faciais que revelassem desdém ou ironia. Acreditamos que, como um todo, o resultado tenha sido bastante positivo. O evento foi bem avaliado pelos participantes, tendo sido dado destaque à forma clara e sensível como os temas foram abordados e a importância do relato da assistente social para a aproximação afetiva e empática com o tema.

    Do nosso ponto de vista, a roda de conversa foi uma estratégia importante para promover o diálogo, a reflexão crítica e a troca de conhecimentos entre os profissionais da USF. Por meio desse espaço horizontal, os/as participantes puderam compartilhar suas experiências, desafios e aprendizados relacionados à LGBTFobia nos serviços de saúde, promovendo uma maior compreensão e sensibilização sobre a temática. Além disso, foi uma oportunidade valiosa para reflexão sobre a importância da empatia e do respeito no acolhimento e no acesso aos serviços de saúde, buscando promover um atendimento inclusivo e livre de preconceitos, garantindo que todos os indivíduos, independentemente de sua orientação sexual ou identidade de gênero, recebam o tratamento digno e adequado que merecem.

     

  • Keywords
  • LGBTFobia; inclusão; educação em saúde
  • Subject Area
  • EIXO 6 – Direito à Saúde e Relações Étnico-Raciais, de Classe, Gênero e Sexualidade
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