A automedicação pode ser definida como a seleção e uso de medicamentos para prevenir ou tratar doenças e sintomas, sem a orientação de um profissional de saúde apto a fazê-lo. Tal prática, está ligada a fatores socioculturais, econômicos, epidemiológicos e de acesso à saúde, sendo difundida mundialmente. Portanto, considerando-a como um processo social relacionado ao uso de medicamentos e aos auspícios de saúde imediata, seus efeitos sobre as práticas de saúde devem ser monitorados. O estudo buscou compreender as perspectivas dos profissionais de saúde atuantes na Atenção Primária à Saúde (APS) acerca da automedicação, bem como a influência deste fenômeno nos cuidados prestados por este nível da atenção à saúde. O método de coleta de dados foi o Grupo Focal, garantindo aos participantes liberdade de expressão e interação entre si. De acordo com os dados obtidos foi demonstrado que a automedicação é prática comum e normalizada entre os profissionais, bem como nos usuários assistidos pelas Equipes de Saúde da Família. Também foi constatada a percepção de ser uma prática potencialmente perigosa, apesar do desconhecimento sobre dados de possíveis intoxicações medicamentosas e agravos nos estados de saúde. A automedicação também foi referida pelas equipes de saúde, como a busca rápida pela resolução de sintomas e doenças, podendo ser útil na desoneração dos serviços de saúde. Fragilidades no acesso à APS, podem estar associadas ao aumento de práticas da automedicação, ocasionando o uso irracional de medicamentos. Alterações recentes em relação ao perfil da APS, mais voltado às demandas agudas, foram nomeadas como “UPA da Família” e podem afetar a continuidade e a capacidade de resposta das ações de promoção e prevenção da saúde, incluindo às ações da assistência farmacêutica. A influência da propaganda e do marketing efetuado pelo mercado farmacêutico é apontada como um instrumento no emprego não prescrito e ineficaz de medicamentos. As mídias sociais foram citadas como outro veículo para propagação de informações direcionadas para a automedicação, a exemplo da pandemia da COVID-19, nesse contexto, também foi possível constatar a influência de atores políticos no processo. O debate com os profissionais permitiu constatar certa sobrecarga das Equipes de Saúde da Família devido à mudança de perfil, o crescente número de cadastrados e a insuficiência de estrutura para as mudanças em curso. A assistência farmacêutica preconiza o uso racional dos medicamentos devendo ser aperfeiçoada constantemente, como campo de práticas em construção na APS e neste sentido, a prática da automedicação é um dos processos sociais que devem ser acompanhados para a efetividade dos resultados esperados.