Apresentação: O Observatório de Políticas e Cuidado em Saúde da UFMG foi criado em 2015 e vem realizando pesquisas sobre os efeitos micropolíticos das políticas de saúde e de situações vivenciadas por usuários que indicam ausência ou imprecisões de políticas ocasionando violação de direitos. Dentre as abordagens investigadas ao longo desses anos estão o PMAQ, a atenção domiciliar, as redes de atenção à saúde e a situação de mães que perderam seus filhos para o Estado. Partimos da premissa de que todos os envolvidos no processo investigativo e implicados com a produção de conhecimento são pesquisadores. O coletivo é formado por professores universitários, estudantes de graduação e pós-graduação, trabalhadores, gestores e usuários do SUS. Há aqueles que acompanham as investigações desde a criação do Observatório e aqueles que foram se aproximando e, atravessados por subjetividades, demonstraram o desejo de compor nossas produções. Nessa trilha, vivenciamos um momento de construção do percurso metodológico de duas pesquisas: “População em situação de rua: acesso e barreira ao cuidado em saúde mental, interseccionalidade e equidade para redução das desigualdades” e “Práticas e Saberes que vêm das margens: encontros e desencontros com a atenção e a formação em saúde”. Temos nos dedicado ao exercício de pensar as caixas de ferramentas que poderão contribuir para guiar os pesquisadores durante os novos processos investigativos. Procuramos transformações de/em nós que, então, transbordam, nos nossos estudos.
Desenvolvimento: Os encontros produzidos entre nós do Observatório/MG, e de nós com pesquisadores de vários pontos do país, demarcam convites à desterritorialização. Nossas leituras coletivas e afetações compartilhadas têm trazido questionamentos que sacodem nossa maneira de pensar os percursos de uma pesquisa, de ver o mundo, de andar a vida. Produzimos emaranhados com sentidos que vão se conformando em um exercício rizomático, em fluxo, e coletivo. Assim, mergulhamos em máquinas de guerra que nos defrontam com sistemas de opressão e movimentos de resistência. Nestes últimos meses nos atravessaram temas como não-violência, feminismos negros, interseccionalidade, corpos dissonantes, pesquisador in mundo e conversas sobre o trabalho dos encontros na pesquisa.
Efeitos percebidos: Compartilhar experiências diversas de pesquisa, de trabalho no SUS, de vida, no decurso de leituras que mobilizam nossas subjetividades, tem contribuído para a formação de pesquisadores, essencialmente, implicados com as vidas nas suas mais diversas manifestações. Concepções cartesianas, que tendem a fragmentar o mundo da vida e a academia, vão sendo desarticuladas e o comum em nós, enquanto humanos, vai ganhando espaço em territórios de criação. Os pesquisadores in mundo, encardidos de mundo, se emocionam com o campo, com os movimentos que ampliam seu olhar, com o olhar do outro e, sentindo, conduzem mudanças de si que permitem a produção de uma pesquisa implicada, mergulhada numa subversão molecular lenta, que modifica existências num processo de educação permanente cotidiano.
Considerações finais: A formação de pesquisadores in mundo, assim como a educação permanente concebida no cotidiano do SUS, acontece mesclada a uma teia de micro rupturas. Nesse processo, a caixa de ferramentas da pesquisa opera conforme as ressonâncias vão ecoando na originalidade dos movimentos coletivos.