As práticas coletivas de cuidado à saúde ocorrem no âmbito da Atenção Primária à Saúde (APS) com a formação de grupos que se reúnem para realizar atividades variadas. Na APS, as práticas de cuidado - tanto coletivas, como individuais - são realizadas de modo multiprofissional, ou seja, contam com uma rede formada pelas diversas profissões presentes no SUS e que atuam em convergência para que os indivíduos e coletividades possam acessar a assistência à saúde. A Enfermagem, em articulação com a Saúde Coletiva, trouxe para a APS outros modos de compor o cuidado. Nesse sentido, desenvolve práticas sociais fundamentais para que a APS possa ser constituída como um território onde podemos elaborar práticas de cuidado desindividualizantes, que mobilizem modos de vida contrários à individualização presente no discurso sanitário do autocuidado. O objetivo desse estudo foi analisar como se constituem as práticas de cuidado coletivas na APS realizadas pelas enfermeiras. Metodologia: Trata-se de estudo de abordagem qualitativa, inspirado nos procedimentos do método genealógico de Michel Foucault, para elaborar um diagnóstico do presente. O referencial teórico utilizou o conceito de assembleia de Judith Butler. O instrumento utilizado para produção de dados foi a entrevista semiestruturada, respondida por 59 enfermeiras atuantes na APS no RS, entre novembro de 2020 e fevereiro de 2021. O acesso ao material empírico se deu por conta da participação voluntária da autora principal deste estudo na pesquisa nacional Práticas de Enfermagem no Contexto da Atenção Primária à Saúde (APS): Estudo Nacional de Métodos Mistos, Resultados: O contexto da pandemia provocou a descontinuidade das práticas coletivas realizadas pelas enfermeiras junto a outros profissionais da APS. Embora, essas práticas já apresentassem sua frequência diminuída e, algumas vezes, ausentes antes da pandemia. Discussão: A descontinuidade das práticas coletivas de saúde seguiu as normas e protocolos de distanciamento social produzidos no contexto da pandemia da covid-19. Os processos de precarização que incidem sobre os serviços da APS no SUS fizeram com que durante a pandemia fosse ainda mais difícil a realização do trabalho, tanto por conta da insuficiência de trabalhadores e, portanto, por equipes mal dimensionadas, quanto por falta de material para a realização do trabalho. Conclusão: Estamos sob uma situação biopolítica na qual diversas populações estão cada vez mais sujeitas ao que chamamos de “precarização”. Essa condição, que não é distribuída por igual na sociedade, aumenta nas pessoas a sensação de ser dispensável ou descartável, processo que leva a situação de precariedade. Nos encontros, possibilitados pelas práticas coletivas de saúde na APS, afirmam suas existências e ao permanecerem reunidas, questionam com a presença dos seus corpos na cena pública as políticas relacionadas com os problemas que produzem a precariedade em suas vidas. Além disso, ao ocuparem o espaço público precarizado da APS, evocam uma ação de desindividualização e isso rompe com alguns modos necessários à medicalização social.