Introdução: O contexto de vida das pessoas vulnerabilizadas e que vivem em contexto de uso prejudicial de substâncias psicoativas é impiedoso. Seu paradigma existencial incorpora de maneira intrínseca o contato com um dos aspectos mais vis da sociedade: a violência. Nessa perspectiva, questiona-se: qual efeito que a habitualidade desse fenômeno trás para a assistência desse público? Objetivo: Analisar e discutir o processo de notificação compulsória de eventos de violência, sob a perspectiva da assistência em serviço de saúde mental de base territorial. Metodologia: Relato de experiência de um enfermeiro e uma estagiária no contexto de atuação em um CAPSad III, do Município do Rio de Janeiro. Resultados: Apesar de uma prática assistencial bastante eficaz ao indivíduo que pratica ou sofre violência, a recorrência desse fenômeno na assistência prestada em um Centro de Atenção Psicossocial (CAPS) traz como consequência e desafio, a subnotificação desses eventos. A partir da experiência e análise crítica desse cenário de atuação, infere-se que essa realidade de violência, cada vez mais frequente entre os indivíduos mais afetados psicologicamente pelo uso de drogas, tem como resultado certa minimização desses eventos, seja de sua gravidade ou até mesmo de sua caracterização como situações de violência. A criação de um comportamento menos implicado dos profissionais em realizar a notificação compulsória dessa ocorrência e os diversos aspectos que compõem tal conduta são exemplificados por situações comuns de esquecimento e a própria dificuldade em identificar a indicação desta notificação. A falta de uma cultura organizacional que privilegie o ato de notificar, é observada também como um desafio para a adoção dessa prática. Nota-se a falta de uma movimentação que busque sensibilizar e atribuir à notificação compulsória um valor que ultrapasse sua colocação como atividade meramente burocrática. Um aspecto que comprova a ausência desse posicionamento é a falta de investimento em um processo de educação permanente direcionado a exaltar a relevância desta ferramenta para a análise e planejamento de intervenções mais efetivas. Conclusão: Considerando que a efetiva utilização da notificação compulsória permite compreender e explicar a realidade epidemiológica de uma determinada área geográfica, identificar fatores de risco e planejar intervenções e políticas públicas a longo prazo, denota-se que a potência do trabalho realizado no CAPSad III é fragilizada por essa dificuldade em abranger à sua prática clínica, a atenção aos eventos de notificação compulsória. Nesse sentido, urge a mudança desse panorama, através de maior valorização e conhecimento da relevância do processo de vigilância epidemiológica.