Apresentação: A análise do atual contexto sobre a diversidade do ensino superior e nas escolas de Medicina no Brasil evidencia que habitualmente não há presença representativa de pessoas negras (pretas e pardas) e indígenas. Com políticas de ações afirmativas em uma universidade federal de São Paulo nas últimas décadas, tem se buscado superar anos de injustiças sociais no acesso aos ambientes universitários. Assim, para conhecer como ficou essa representatividade dos grupos invisibilizados no curso de Medicina dessa instituição, realizou-se essa pesquisa para analisar o perfil racial de estudantes, de 2006 a 2021.Desenvolvimento do trabalho: Pesquisa quantitativa, do tipo exploratório-descritivo, utilizando-se o estudo de modo retrospectivo. Foram utilizados dados disponibilizados pela Pró-reitoria de Graduação, com dados informados no ato da matrícula. Realizou-se uma análise descritiva simplificada, usando o programa de computador Excel. Projeto aprovado pelo Comitê de Ética.Resultados: A partir dos dados levantados na pesquisa, construiu-se um banco de dados e foi possível analisar que no período houve o ingresso de 684 estudantes neste curso de medicina. O curso tem disponibilizadas, anualmente, 40 vagas, sendo que há 3 vagas suplementares reservadas: indígena, estrangeiro, refugiado. Houve uma média de 45,6 ingressantes ao longo dos 15 anos do curso. Percebeu-se que houve um sub-preenchimento do quesito raça/cor de 34,9%, chegando-se a um número de autodeclarações de 424 sobre o quesito raça, cor e etnia. Desses, 24 autodeclaram-se amarelos (5,3%), 335 brancos (74,6%), 14 indígenas (3,11%), 64 pardos (14,25%), 12 pretos (2,67%). Ao tomar-se como o foco os cursos de medicina de todo o Brasil, utilizando-se dados do ENADE 2019, 3,4% dos (as) concluintes da graduação em medicina declaram-se pessoas pretas, 24,3% pardas, 0,3% indígenas, enquanto 67,1% eram brancas. Comparando-se com o curso de medicina estudado, percebe-se que há maior predominância de pessoas brancas no curso, sendo que a porcentagem de estudantes indígenas é maior quando comparado ao cenário nacional, resultado da reserva de vagas da instituição. Fazendo um paralelo com a composição da população brasileira, percebe-se que essa escola médica mantém uma presença tímida de pessoas negras. Segundo o censo, 43% declararam-se brancas, 45% como pardas, 10% como pretas, 0,83% como indígenas e 0,4% como amarelos. Considerações finais: É possível compreender que as pessoas negras tiveram seu ingresso nos cursos de medicina das universidades públicas principalmente a partir das PAA, com direção à inclusão racial e superação de barreiras socioeconômicas nas escolas médicas. Dessa forma, a manutenção das políticas públicas de ingresso à universidade e, sobretudo, ao ensino médico são cada vez mais necessárias, agregadas a manutenção socioeconômica de estudantes negros e negras. Percebe-se que, embora essa universidade federal tenha adotado uma política própria de ações afirmativas, o ingresso de pessoas negras ainda é bastante aquém do percentual encontrado na sociedade brasileira. Além disso, é preocupante o sub-preenchimento do quesito raça/ cor nas fichas de matrícula, pois além de impossibilitar a análise do perfil dos futuros médicos/as, dificulta que estudantes de grupo sub-representados sejam visibilizados e políticas de permanência sejam elaboradas.