Apresentação: Enxergar o outro é um movimento que exigedeixar de lado as ideias provenientes da dita verdade absoluta(estas que comumente estão pautadas em uma perspectiva única e hegemônica) e entender que olhar para o universo do outro é sair de si mesmo. De acordo com Ortega y Gasset, avida do outro é mero espetáculo, sendo possível vê-la, mas não vivê-la. Nesse contexto, a dor do outro é, também, um espetáculo, não sendo facultado a mais ninguém senti-la, antes, apenas elaborar suposição e hipóteses. Enquanto formadora de médicos especialistas em pessoas (para além de especialistas em doenças) a Medicina de Família e Comunidade (MFC) deve estimular que o médico não seja mais um mero espectador do "espetáculo da dor do outro " mas, contrariamente, um agente capaz de sentir, se comover e amenizar essa dor. O princípio integralidade do SUS, assim como o atributo competência cultural da Atenção Primária à Saúde, apontam caminhos nessa direção. Dessa forma, esse estudo traz como objetivo fomentar a reflexão acerca dos desafios do profissional médico para enxergar o universo do outro. Especificamente espera-se demonstrar o movimento problematizador e promotor de novas concepções acerca do outro e da medicina despertado a partir do componente MFC.Métodos: Trata-se de uma análise reflexiva de estudantes do componente de MFC de uma faculdade do Sul da Bahia, realizada no primeiro semestre/2024. Resultados: O componente MFC apresentou-se aos estudantes enquanto um “divisor de águas”, especialmente ao instigar a compreensão do quanto cada ser humano é único e complexo e ao estimular o entendimento acerca de que compreender o processo saúde-doença exige entender a história, o universo, a cultura e a identidade dos sujeitos. Destaca-se ainda enquanto resultado a compreensão de que, ainda que o diagnóstico clínico seja o mesmo em diferentes pessoas, a história da doença atual será única; tal qual o perfil da doença será único, por se tratar dealguém único e insubstituível. Em suma, a partir do presente estudo foi possível entender que, mais do que ver é preciso enxergar, mais do que ouvir é preciso escutar. Ou seja, énecessário entender a perspectiva e compreensão que o paciente tem da própria doença, bem como de que maneira adoença altera e modifica as suas relações sociais e atividades diárias. Conclusões Finais: Enxergar o universo do outro permitiu a compreensão de que o médico é, em verdade, coadjuvante no processo de cura e reabilitação do paciente, sendo um orientador a sinalizar caminhos (preferencialmente embasados na interrelação saber acadêmico – saber popular) a serem percorridos, mas onde o destino só o viajante é capaz de alcançar. As práticas médicas ainda estão muito distantesdo ideal de integralidade e do atributo competência cultural,haja vista a prevalência, ainda, de uma medicina individualista, curativista e centrada na figura do médico. Enfim, enxergar o universo do outro é um grande desafio, mas um desafio necessário. Afinal, parafraseando Hipócrates,conhecer a pessoa que tem a doença devera ser sempre mais relevante do que diagnosticar a doença que a pessoa tem.