A violência ocorrida durante a assistência ao parto chama-se Violência Obstétrica (VO), termo ainda sem definição única, mas caracterizado como sendo qualquer ato de desrespeito, abuso ou violência, realizado durante acompanhamento do ciclo gravídico-puerperal. Essa experiência pode resultar desde a insatisfação com o parto, como a exposição a maiores riscos da mulher desenvolver transtornos psiquiátricos (estresse pós-traumático ou depressão pós-parto (DPP)), e na fragilidade de vínculo materno-infantil, afetando o cuidado do bebê, podendo trazer danos permanentes. Assim, o presente estudo objetivou avaliar a relação entre a ocorrência da VO em usuárias do Sistema Único de Saúde (SUS) e o desenvolvimento da DPP. Trata-se de um estudo epidemiológico transversal, recorte da pesquisa “Saúde da mulher e da criança no ciclo gravídico-puerperal em usuárias do Sistema Único de Saúde”, aprovada pelo Comitê de Ética em Pesquisa da Universidade Federal da Fronteira Sul, sob o número 5.761.013. Os dados foram coletados entre dezembro de 2022 a agosto de 2023 com mulheres usuárias de quatro unidades básicas de saúde (UBS) de Passo Fundo, RS. Para esse recorte considerou-se elegíveis usuárias com idade ? 12 anos, com filhos de um aos seis meses de vida, em acompanhamento puerperal nas UBSs. A avaliação da ocorrência de VO foi realizada mediante entrevistas aplicadas dentro das UBS com instrumento-questionário desenvolvido para o próprio estudo, enquanto a avaliação da DPP foi feita pelo escore na Escala de Depressão Pós-Parto de Edimburgo. Os dados foram duplamente digitados no programa EpiData versão 3.1 (distribuição livre). A análise estatística se deu no programa PSPP, realizando-se o cálculo da prevalência da VO e DPP, do intervalo de confiança de 95% (IC95), e a distribuição da DPP conforme a ocorrência da VO, por meio do teste do qui-quadrado adotando-se um nível de significância estatística de 5%. A amostra final, para esse estudo, foi composta por 95 mulheres. Sobre os resultados, 64,2% (IC95%: 54-74) das mulheres relataram ter sofrido VO durante assistência ao ciclo gravídico-puerperal, já em relação a DPP, n=33 possuíam os parâmetros do EPDS para depressão puerperal, ou seja, a prevalência de depressão pós-parto dentro da amostra foi de 35,1% (IC95%:25-45). Analisando a relação da ocorrência da VO e o desenvolvimento de DPP, apesar da ausência de significância estatística nesse estudo (p=0,187), dentre aquelas que relataram ter sofrido VO, 40% desenvolveram DPP, e entre as que negaram ter sofrido VO 26,5% desenvolveram DPP. Logo, apesar de a DPP apresentar etiologia multifatorial e estar relacionada a diversos fatores incluindo falta rede de apoio, gravidez indesejada ou um histórico de transtorno depressivo, a VO pode ser um fator significativo e prevenível que pode contribuir para a sua ocorrência. Sendo o parto um momento de vulnerabilidade, qualquer forma de violência durante esse processo pode resultar em traumas significativos, potencialmente contribuindo para o desenvolvimento da DPP. Portanto, é imprescindível que o sistema de saúde atue para prevenir e combater a VO, garantindo um ambiente seguro e respeitoso para as mulheres durante o parto, promovendo sua saúde física e mental.