“E AGORA? ALGO MUDOU EM MIM: SOU ESTOMIZADO...”

  • Author
  • POLLYANA SOARES DIAS
  • Co-authors
  • DAILON DE ARAÚJO ALVES , LORENA GOMES DA CRUZ , JOSEANNY VALESSA SOUSA BEZERRA , LUIS RAFAEL LEITE SAMPAIO , LUIZ GUSTAVO ALVES LIMA
  • Abstract
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    Apresentação: o termo estomia está relacionado à abertura ou orifício, realizada através de procedimentos cirúrgicos, tendo como objetivo criar um caminho alternativo de comunicação com o meio exterior, seja através de uma traqueostomia, gastrostomia, colostomia/ileostomia ou urostomia, que auxiliam na respiração, alimentação e eliminação de fezes e urina, respectivamente. As patologias que frequentemente levam à realização de uma estomia são as doenças inflamatórias intestinais e o câncer colorretal, além de diverticulites, perfurações intestinais, oclusões intestinais e fístulas. No caso das estomias intestinais, realiza-se um desvio, que pode ser temporário ou definitivo, do conteúdo intestinal para uma bolsa externa, com o intuito de eliminar as fezes e gases. É importante ressaltar que tal procedimento vem reduzindo as taxas de morbimortalidade em várias patologias, entretanto, gera diversos impactos biopsicossociais e espirituais na vida da pessoa com estomia, principalmente após a cirurgia, uma vez que os pacientes têm o impacto e pensam como aquilo será gerenciado a partir daquele momento. Além disso, alguns estudos recentes sugerem a necessidade de conhecer os aspectos cognitivos-comportamentais que preocupam as pessoas com estomias e de que forma eles se relacionam com sua qualidade de vida, e ainda, os aspectos voltados para os profissionais e serviços de saúde para que possam auxiliar melhor nas necessidades individuais dessas pessoas. Dessa forma, o presente trabalho teve como objetivo explorar as percepções dos indivíduos estomizados, a partir do questionamento: “Você vê a estomia como uma forma de alternativa e vida, ou considera ela como o fim para sua condição?”. Desenvolvimento do trabalho: trata-se de um estudo exploratório de cunho descritivo e qualitativo, realizado no âmbito do Ambulatório de Estomaterapia da Universidade Regional do Cariri (URCA), situado no município de Crato, Estado do Ceará. A escolha por esse lócus reside no fato de que esse espaço de promoção e assistência à saúde realiza atendimentos diretos a pacientes com estomias de eliminação, pertencentes a 20ª e a 21ª Regionais de Saúde. Os participantes envolvidos nessa pesquisa tratam-se de indivíduos com estomias de eliminação. Foram excluídos menores de idade do estudo. O material para a coleta de dados foi um roteiro de entrevistas semiestruturado e áudio-gravadas com duração de 5 a 10 minutos. Todas as entrevistas foram presenciais e os responsáveis não possuíam vínculo qualquer com os participantes do estudo. O estudo apresenta aprovação do Comitê de Ética em Pesquisa da Universidade Regional do Cariri (URCA), com número de parecer 4.262.824 (CAAE: 32323420.9.0000.5055). Resultados: foram entrevistadas 18 pessoas, onde 10 eram mulheres e 8 eram homens, com idades entre 40 e 90 anos. Com relação à caracterização da estomia, 39% possuem colostomia definitiva, 28% colostomia indefinida (não sabendo se vai ser definitiva ou não), 23% possuem urostomia definitiva, 5% ileostomia temporária e 5% colostomia temporária. Os pacientes compareceram no dia marcado para fazer a revisão de sua estomia de eliminação ou primeira consulta com a equipe, composta por estomaterapeutas e nutricionistas. A entrevista pautou-se a partir do questionamento: “Na sua opinião, essa estomia é uma alternativa de vida ou você considera ela como o fim para sua condição? Comente.” De acordo com as respostas, 50% dos pacientes demonstram sentimento de conformação, onde eles não tiveram escolha e adaptam-se a essa nova fase, 38% demonstraram sentimento de recomeço, acreditando que é sim uma alternativa de vida e 12% falaram abertamente que sentiam ser o fim da vida e preferiam morrer do que viver com a estomia. Importante ressaltar que 72% dos entrevistados têm ou tiveram neoplasias relacionadas ao intestino, reto ou bexiga, e os outros 28% estão relacionados a constipações ou perfurações intestinais. A partir desse questionamento, evidenciou-se que os entrevistados muitas vezes se emocionam ao narrar que precisam se conformar com a situação, pois não veem outro caminho, reconhecendo assim que sem o dispositivo teriam ido a óbito. Assim, vão despertando diversos gatilhos com relação à imagem corporal, que é a percepção que o indivíduo tem do seu próprio corpo, assim como, inseguranças, medos, angústias e dificuldade de socialização e convivência, bem como os pensamentos de morte. Por mais que a estomia tenha características em comum, sabe-se que cada pessoa tem a sua individualidade e por conseguinte, sua necessidade, em decorrência da fragilidade do momento. Desta forma, quando não se está satisfeito com o que se vê, uma gama de sentimentos vem à tona, e por isso existe uma relação estreita entre a imagem corporal e a autoestima, de modo que uma imagem negativa de si pode levar a uma desordem psíquica, muitas vezes voltada para o isolamento, dificultando o processo de socialização e por consequência a adaptação à doença, um panorama que reforça a importância do acompanhamento multiprofissional desses indivíduos, por meio da intervenção do médico gastroenterologista, o médico psiquiatra, o psicólogo, o enfermeiro estomaterapeuta e o nutricionista, além do profissional em educação física, para estimular e orientar atividade física de forma correta.  Considerações finais: ser um paciente com estomia é enfrentar também uma patologia de base que vem algumas vezes como surpresa na vida dessas pessoas, o que deixou evidenciado e perceptível as emoções de cada participante em relação a sua vivência com a estomia, que por vezes, o sentimento de conformação com a situação se transforma em impotência, ou seja, uma incógnita do que pode vir a acontecer e por outro lado, alguns dos entrevistados veem como uma alternativa de vida, retratando bem, com muita alegria na fala, pois viver é o essencial para essas pessoas, firmando ainda mais qye cada indivíduo é único, e deve ser olhado e abordado de forma individualizada. Diante disso, evidencia-se o impacto gerado pelas estomias de eliminação aos aspectos biopsicossociais e espirituais desses indivíduos, constituindo um contexto que demanda uma atuação multiprofissional, com vistas ao restabelecimento do bem-estar e da saúde global dessas pessoas. Dessa forma, o conhecimento do profissional médico acerca da autoestima, qualidade de vida e imagem corporal do seu paciente com estomia de eliminação é de suma importância para consolidar uma relação de confiança e uma vez que esta relação for estabelecida, se torna mais fácil administrar condutas e fornecer subsídios para prática de reforço comportamental e cognitivo, além do apoio com relação ao autocuidado e a autonomia da pessoa com estomia.

  • Keywords
  • Estomias; Estomaterapia; Medicina
  • Subject Area
  • EIXO 4 – Controle Social e Participação Popular
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