Introdução: O Ministério da Saúde, em parceria com o Ministério da Educação, instituiu o Programa Saúde na Escola (PSE) com o objetivo de integrar a saúde pública com a educação, a fim de contribuir com o desenvolvimento de indivíduos em idade escolar e suas comunidades a partir de ações de promoção de saúde, cultura da paz, prevenção de doenças e agravos de saúde desenvolvidas no cenário escolar. Nesse sentido, a inclusão de discentes de graduação e pós-graduação das áreas da saúde no âmbito escolar oportuniza a aproximação deles com as demandas de saúde presentes nas instituições de ensino, possibilitando estes a desenvolverem ações de educação em saúde, prevenção de doenças e agravos de saúde dos escolares e suas famílias/comunidade. Além do mais, o uso de metodologias lúdicas adequadas para cada faixa etária nas ações oportuniza a interação entre público-alvo e educadores em saúde, assim como o olhar crítico-reflexivo de ambos e a construção do vínculo profissional-comunidade escolar. Considerando o exposto, a implementação da abordagem pedagógica do Círculo de Cultura de Paulo Freire, revela-se essencial, uma vez que esta metodologia privilegia o diálogo e fomenta um ambiente propício para a reflexão crítica bem como, a problematização de diversos assuntos. Objetivo: Trata-se de um relato de experiência sobre as vivências de discentes e pós-graduandas de uma universidade pública, frente as atividades de extensão desenvolvidas em uma escola da rede pública e uma Associação dos Pais e Amigos do Excepcionais (APAE) no Sul do Brasil. Metodologia: Relato de experiência acerca de atividades de educação em saúde desenvolvidas por discentes do curso de Enfermagem da Universidade Federal de Santa Maria, Campus Palmeira das Missões e de mestrandas da Pós-graduação em Saúde e Ruralidade, vinculados ao projeto de extensão “Círculos de cultura para educação em saúde de crianças e adolescentes na escola”. As ações foram desenvolvidas durante o ano letivo de 2023 na escola da Associação de Pais e Amigos dos Excepcionais (APAE) e também, em uma escola pública regular na região urbana de um município localizado no noroeste do estado do Rio Grande do Sul. As atividades foram realizadas mediante agendamento prévio com a equipe diretiva de ambas as escolas. As temáticas trabalhadas contemplaram as demandas de saúde de crianças e adolescentes das instituições. As atividades ocorreram de forma quinzenal em cada escola, atendendo cerca de 20 participantes em cada encontro. Para a condução das atividades extensionistas utilizou-se materiais e metodologias lúdicas e apresentações em slides, nos quais foram abordados temas relacionados à higiene corporal e bucal; violência autoprovocada e interpessoal; e questões de bullying e racismo. Para conduzir as atividades de educação em saúde sobre higiene corporal e bucal com os alunos da APAE, os estudantes utilizaram de um livro lúdico elaborado pelos participantes do projeto. Este livro possui ilustrações sobre o cuidado corporal e imagens ilustrativas dos produtos de higiene e suas funções. Nestes encontros, também foi realizada uma atividade prática sobre a lavagem correta das mãos, onde os alunos, tiveram o auxílio dos discentes para realizar essa ação. As atividades realizadas com as turmas da escola regular contemplou estudantes dos 6º e 7º anos do ensino fundamental. Também foram abordadas questões de higiene, a partir da apresentação de slides, vídeo educativo sobre cuidado com o corpo e atividade prática de higiene das mãos com álcool em gel. Ainda, foi realizada atividade referente a violência autoprovocada e interpessoal, bullying e preconceito. Para essas ações de extensão as turmas foram divididas em grupos menores acompanhados por um discente de graduação em cada grupo nos quais foram distribuídos casos fictícios sobre situações-problema. Os discentes distribuíram quatro casos diferentes aos grupos, nos quais o caso 1 representava uma situação de preconceito racial e social; no caso 2, racismo velado; no caso 3, racismo social e, no caso 4, estavam sendo representadas situações de bullying. Ao final dos casos, foram apresentadas questões para instigar a reflexão, pensamento crítico e o debate entre os escolares. Utilizou-se as seguintes questões: “você acredita que ele/ela está praticando algum tipo de violência? De que forma é possível ajudá-lo? O que você pensa sobre as situações que cercam o cotidiano da pessoa que está sofrendo bullying ou racismo velado?” Após as discussões nos pequenos grupos, realizou-se a apresentação dos estudos de caso no grande grupo e a socialização das reflexões. Resultados: As atividades educativas com crianças e adolescentes desempenham papel importante na troca de conhecimento, principalmente, quando se baseiam em princípios científicos, com isso, possuem o poder de desmistificar tabus, sanar possíveis dúvidas e abrir novas perspectivas para promover saúde e cuidado. Os círculos de cultura proporcionam uma escuta ativa com uma aprendizagem coletiva, que favorecem ao público uma reflexão e discussão de assuntos. Ademais, as ações de educação em saúde são relevantes para o desenvolvimento de habilidades, incentivo do autocuidado, desenvolvimento da capacidade crítico-reflexivo e como mecanismos estratégicos de transformação de hábitos cotidianos e problemáticas presentes nas instituições. Além do mais, as metodologias lúdicas possibilitaram a participação ativa dos mesmos na construção do saber, possibilitando o vínculo e comunicação entre escolares e discentes de graduação acerca das dúvidas, potencialidades e fragilidades presentes. As dinâmicas acerca da violência interpessoal e autoprovocada, presente tanto no âmbito escolar como social dos adolescentes, possibilitaram que, a partir das discussões em grupo, o público-alvo expressasse seus sentimentos. Além disso, as atividades realizadas a partir dos casos fictícios possibilitaram que os escolares reconhecessem situações de violência e bullying que ocorriam nos ambientes que estes frequentavam, induzindo os mesmos a refletirem acerca das consequências de atos violentos. Considerações Finais: As iniciativas realizadas na escola pública e na APAE, foram bem recebidas, beneficiando aproximadamente mais de 100 crianças e adolescentes ao longo de um semestre. A colaboração entre profissionais da saúde e da educação no Programa Saúde na Escola (PSE) é crucial para a implementação de ações preventivas e de promoção da saúde nas instituições de ensino. A abordagem adotada demonstrou ser eficaz, destacando a relevância da participação ativa dos alunos e da troca de experiências nesse contexto. Isso ressalta a importância da aplicação dos princípios de Paulo Freire para transmitir informações, pois sua metodologia educacional proporciona às crianças e adolescentes a oportunidade de expressão e de serem ouvidos de maneira empática e inclusiva. As atividades desenvolvidas no projeto de extensão permitiram a integração de conhecimentos, o estabelecimento de vínculos com a comunidade e a conscientização sobre a necessidade de promover e proteger o cuidado por meio da educação em saúde. Com isso as atividades de extensão possibilitam aos discentes e escolares a troca de conhecimentos e vivências. Nas escolas é fundamental contemplar as necessidades das crianças e adolescentes e oportunizar a troca de saberes e a reflexão. Já na escola de educação especial da APAE é fundamental conhecer as necessidades de crianças e adolescentes e contemplar de forma lúdica e participativa, a fim de tornar um espaço mais criativo e interativo. Por fim, acredita-se no potencial das ações extensionistas desenvolvidas e que elas impactam positivamente a vida dos escolares.