O Brasil possui mais de 1 milhão de pescadores artesanais, distribuídos ao longo das margens continentais. São espaços culturais específicos, onde o saber é passado entre gerações. Essas populações vivem processo de invisibilidade social, cultural, política e econômica à prática de gestão do meio ambiente, fenômeno reconhecido como racismo ambiental. A Fundação Oswaldo Cruz Brasília (Fiocruz Brasília), por meio do Programa de Promoção da Saúde, Ambiente e Trabalho (PSAT), vem desenvolvendo projetos e ações junto as populações do campo, da floresta e das águas, com foco na formação-ação, de forma dialógica, a partir da abordagem da Educação Popular. Este projeto tem como objetivo o fortalecimento da pesca artesanal local, como também, o desenvolvimento de ações entre o saber e o fazer na promoção de Território Saudável e Sustentável (TSS) e a partir da educação popular, do diálogo intercultural e aplicação de técnicas participativas, buscou-se identificar forças, oportunidades, fraquezas e ameaças, e assim, contribuir com a discussão e metodológicas para a Assistência Técnica e Extensão Pesqueira e Aquicultura (ATEPA). As narrativas das(os) pescadoras(es) trouxeram diversas experiências coletivas que fortalecem a pesca artesanal e contribuem para sua resistência e sustentabilidade. Trouxeram ainda, os diversos conflitos existentes nos territórios, a exemplo de Macau (RN), Alagoas (AL), Aracaju (SE), Belém (PA), Ilha de Maré (BA), São Mateus (ES), Piauí (PI). A oficina foi construída a partir de vários momentos de diálogo onde refletiram sobre a importância e o papel de uma assistência técnica e pesqueira, sendo essencial que esta esteja atenta as adversidades presentes nos diferentes territórios, a necessidade de mais participação e controle social, e que a ciência, a pesquisa estejam mais voltadas a apoiar as especificidades e singularidades dessa população, uma vez que são elas as mais impactadas, seja por turismo predatório, por grandes projetos que agridem o meio ambiente e colocam as populações em situações de risco e vulnerabilidades sociais. São populações que tem o seu modo de vida, de produção e reprodução social que promovem o cuidado e desenvolvem tecnologias de vigilância e sustentabilidade. Contribuem para frear o agravamento da condição climática, conservam a biodiversidade, garantem a segurança alimentar e nutricional, preservam conhecimentos tradicionais e atuam na agroecologia e na economia solidária, o qual tem a predominância da mulher pescadora artesanal. Por fim, proporcionar o intercâmbio de vivências e experiências para potencializar a atividade pesqueira seria uma das estratégias necessárias para qualificação de uma política pública voltada a população das águas. Alternativas ao modelo clássico de transferência de tecnologia, a necessidade de fomento para a formação dessa população é outra estratégia a ser revista. Atenção à saúde e ao trabalho dessa população é fundamental, para além da geração de renda, que possui uma relevância econômica para o país, mas também para a soberania alimentar de um povo.