Introdução: A Saúde Coletiva emerge como um movimento plural, por meio do qual passam a convergir interesses acadêmicos, de pesquisas, como também aqueles voltados para articular e por em prática uma nova organização da atenção e cuidado em saúde, que desse conta das necessidades de saúde da sociedade brasileira. Esse campo de saber traz, portanto um olhar crítico frente a um modelo de atenção à saúde e aos modos de fazer pesquisa, pautados numa perspectiva biomédica. (BRASIL, 2013; NUNES, 2008; PASCHE, 2005). Então, possibilitar e fortalecer perspectivas de abordagens múltiplas das políticas públicas em saúde e do ensino superior dos cursos de graduação em saúde tem grande influência na percepção, interpretação e disponibilização do cuidado humanizado e integrado à realidade social do Brasil. A Universidade Federal de Sergipe (UFS), campus Lagarto, já nasce como um campus da saúde que sustenta seu processo de ensino-aprendizagem por meio de metodologias ativas, que buscam superar a postura central no professor e no conteúdo descolado da realidade em que está inserida, atuando por meio de estratégicas que buscam desenvolver a capacidade de análise do contexto das práticas realizadas, ações de comunicação em saúde, o senso crítico com a relação as intervenções utilizadas e um permanente questionamento sobre o processo de trabalho. A UFS Lagarto, faz uso de propostas metodológicas que protagonizam ações práticas ao darem visibilidade a temas como: território, comunidade, personagens sociais e contextos de saúde extramuros acadêmicos, desde o primeiro ano de graduação. Os discentes dos oito cursos de saúde ofertadas na graduação - Enfermagem, Farmácia, Fisioterapia, Fonoaudiologia, Medicina, Nutrição, Odontologia e Terapia Ocupacional - no decorrer do primeiro ciclo letivo realizam visitas domiciliares para entender as necessidades de saúde da população, do município, com o intuito de integrar a população com a UFS (FARIAS, 2023; FARIAS, [s.d.]; UFS, 2011). A supracitada integração comunidade e UFS é decorrente da proposta pedagógica da disciplina Prática de Ensino na Comunidade (PEC). A PEC é um módulo do primeiro ciclo que consiste numa estratégia que possibilitar a aproximação do discente com o território de uma determinada comunidade (microárea) e com ações e serviços da Atenção Primária a Saúde (APS). Ela tem como cenário o território e o contexto da Estratégia Saúde da Família (ESF), buscando a compreensão da determinação do processo saúde-doença, a partir de seus aspectos históricos, políticos, sociais, culturais. Um ponto em destaque da PEC é o desenvolvimento de ações de Planejamento Participativo em saúde, junto e com a comunidade. Este trabalho apresenta um relato de experiências a partir de abordagens observacionais quanto às práticas do desenvolvimento do processo ensino-aprendizagem dos discentes da PEC e suas ações no território, através da gradual integração entre comunidade e Universidade. Nisso, as ações observadas ocorreram a partir das idas em campo da Turma 17 no povoado Olhos D’água, no município de Lagarto (SE). Metodologia: Trata-se de um relato de experiência de docentes da Universidade Federal de Sergipe (UFS), Campus Professor Antônio Garcia Filho, vinculados ao Departamento de Educação em Saúde (DESL). Dentre os aspectos metodológicos, este trabalho é um desmembramento da pesquisa prática no território decorrente da monografia do curso em Pós-Graduação em Saúde Coletiva pela FACUMINAS. Segundo Mussi, Flores e Almeida, (2021, p. 62), ao constatar a importância de elaborar e divulgar o conhecimento científico surge a necessária compreensão das diversas possibilidades metodológicas e, também, das variadas modalidades para proposição e estruturação dos escritos acadêmicos, tais como, o Relato de Experiência (RE). Assim a RE aborda experiências que podem ser, por exemplo, oriundas de pesquisas, ensino, projetos de extensão universitária, dentre outras. A abordagem metodológica decorre do acompanhamento presencial das aulas em campo da Turma 17 da PEC. As atividades em campo foram desenvolvidas no ano letivo de 2023, turno manhã e na microrregião de saúde Povoado Olhos D’Água, município de Lagarto-SE. Resultado e Discussão: Cada ida à microárea de saúde é previamente estruturada e organizada a partir do aprofundamento teórico e etapas pedagógicas trabalhadas na PEC. Faz-se saber, que utiliza-se da Metodologia da Problematização (MP) como princípio para suas atividades. De inspiração Freireana, promove a mobilização do potencial social, político e ético, ao passo em que os discentes são levados a observar a realidade, na qual estão inseridos, de forma atenta e a identificar os problemas latentes. Tais caminhos se operacionalizam a partir do modelo do Arco de Maguerez: observação da realidade; definição pontos-chave; teorização; hipótese de solução; e aplicação na realidade. Logo, a primeira visita ao território é o momento da observação da dimensão da localidade e seus aspectos mais gerais. Vale destacar, os estudantes são estimulados a identificar contextos sociais como moradia, tipo de pavimentação da rua, acesso ao saneamento básico e/ou água encanada, equipamentos sociais (colégios, bares, ambientes/serviços de saúde, comércio, praças, associações, entre outros). Consequentemente, esse contato é a força motriz na profundidade de vínculos estabelecidos com os moradores locais. A segunda visita prosseguiu com a categorização de situações observadas previamente. No entanto, pedagogicamente, agora é a oportunidade de ter o contato inicial com os moradores da comunidade, compreender o perfil socio-econômico local, além de consolidar percepções e entendimentos na relação comunidade e território, territorialidade e territorialização. Nessa ação da PEC, a turma conversa com moradores do povoado, com um tipo de escuta ativa e com propósito a dar voz aos atores sociais e assim saber um pouco quanto como é viver nesse ambiente, quais as demandas e quais os líderes locais – referências comunitárias como parteiras, benzadeiras, líder comunitário, artesão, etc – e sua relação com o território e demais. Tal atividade prática é ancorada no levantamento dos pontos-chave. É necessário destacar que o conteúdo programático dessa disciplina tem como finalidade carregar consigo eixos temáticos como saúde pública, cidadania, conceitos de Território e Determinação do processo saúde-doença. Isso proporciona ao graduando um alcance da realidade social de nosso país e por consequência as estruturas em saúde coletiva desconectada à percepção equivocada de cuidado em saúde estrita ao modelo biomédico. O trabalho na microregião de saúde é uma atividade colaborativa através de uma somatória de esforços e integrantes internos e externos da universidade, tais como os Agentes Comunitários de Saúde (ACS), profissionais com pleno saber geográfico/social da localidade, esses trabalhadores auxiliam às ações da PEC, apresentando o território e os respectivos moradores de sua área de cobertura. Tornando desse modo o processo de deambular e mapear o local facilitado. Os moradores também integram nessa força tarefa de ensino em saúde na comunidade. Eles com seus saberes ancestrais, cultura própria e ensinamentos populares nos apresentam dentro de suas especificidades riquezas de saberes, quanto aos processos de cuidado em saúde e modelos de cuidados em saúde na comunidade. A PEC atrela a si aspectos concisos e necessários ao estabelecer/cumprir em sua estrutura pedagógica a função social, educadora e prática que se desvincula de modelos de ensino desconectados à realidade social/saber popular presentes e persistentes nos territórios. Tão logo, PEC reconhece, valoriza e publicita a importância da sociedade, dos atores sociais e da comunidade no processo ensino-aprendizagem dos estudantes da área da saúde dos cursos ofertados pela UFS Lagarto. Sendo portanto, um entrelaço mútuo ao potencializar um processo metodológico potente no ensino de Saúde e entendimento da existência de saberes além do ambiente acadêmico. Sendo isso possível através da integração Universidade e território.