Este estudo versa sobre uma ação intersetorial vivenciada por uma profissional de psicologia na articulação entre a Estratégia de Saúde da Família - ESF e uma escola municipal de ensino fundamental do mesmo território, em um município da região metropolitana de Porto Alegre/RS, ocorrida no ano de 2022. Objetiva- se relatar a experiência relacionada à intervenção em saúde mental com adolescentes em situação de conflito escolar, bem como seus efeitos subjetivantes após o retorno efetivo das atividades escolares presenciais no período pós-pandemia. A intervenção se deu a partir do movimento de busca por auxílio, feito pela escola, para a profissional de saúde devido à ocorrência de conflitos constantes entre alunos de uma turma do sétimo ano do ensino fundamental. Nas narrativas dos profissionais da escola, emergiram preocupações com o período pós-pandemia, conflitos escolares, sofrimento emocional e aspectos relacionados à ansiedade e isolamento de alguns estudantes. Optou-se por fazer uma intervenção de saúde mental no ambiente escolar, iniciando com uma turma composta de 24 alunos. Os grupos foram feitos em conjunto com os educadores, em forma de roda, propiciando a abertura ao vínculo e ao diálogo. As reflexões trazidas pelos alunos foram o sentimento de solidão, a dificuldade de (re)adaptação à rotina presencial e questões relacionadas ao adolescer. Como estratégia para o desenvolvimento da intervenção, foi escolhido o grupo como um fio condutor para a produção de saúde mental, que mediada pelos educadores e terapeuta, possibilitou novas construções subjetivas e a escuta como ferramenta de cuidado. O trabalho com grupos dentro de escolas, tendo como instrumento a palavra, também é uma possibilidade de constituição de coletivos que possam ressignificar o espaço escolar, criando territórios de atenção e cuidado com a vida. A escuta nos reposiciona em relação ao lugar e tempo que vivemos, é por meio dela que abrimos novos caminhos para relações de alteridade. Neste sentido, a escuta no ambiente escolar nos aproxima de sintomas, como a ansiedade, possibilitando aos adolescentes a elaboração de questões que emergem nesta fase da vida. Ao oportunizar este espaço de acolhimento, possibilitou-se fazer circular a
palavra e o pensamento, compondo novos modos de gestão do tempo e do currículo escolar. Neste sentido, ressaltamos a importância do exercício do pensamento na individuação e na prática de si, desdobrando-se em novos modos de ser. Como resultados, os adolescentes relataram se sentirem melhor no convívio com os colegas a partir dos encontros grupais, principalmente, em terem espaço de fala. Os professores, por sua vez, trouxeram em suas narrativas a diminuição dos conflitos da turma e menor agressividade dos alunos. Como efeitos subjetivantes, alguns afirmaram que, ao escutar seus colegas, puderam ter ações mutuamente mais empáticas, facilitando o convívio entre si e com os professores. Também houveram relatos de perceberem-se menos ansiosos, diminuindo o sentimento de solidão e construindo um ambiente de maior tranquilidade, que foi facilitador para os processos de aprendizagem. O trabalho foi expandido a outras turmas da escola e da rede de educação do município. Destaca-se, portanto, a necessidade do fortalecimento da rede intersetorial.