Marcas da masculinidade no cuidado em saúde mental do homem sertanejo

  • Author
  • Jamille Kássia da Silva Cardoso
  • Co-authors
  • Benedito Medrado , José Gomes de Oliveira Neto
  • Abstract
  •  

    Este trabalho, fruto das reflexões produzidas no âmbito de dissertação de mestrado, tem por objetivo geral discutir figurações de  masculinidade nas práticas de cuidado em saúde do homem sertanejo, a partir do olhar de profissionais em saúde mental atuantes no sertão pernambucano. A masculinidade hegemônica constitui-se por uma narrativa convencionada socialmente sobre gênero, que engloba aspectos culturais e define as condutas e sentimentos adequados aos homens nas relações de gênero. No Nordeste, culturalmente, a categoria “macho” está relacionada à própria experiência de ser homem onde a identidade de gênero é também identidade regional; assim como suas fissuras, contradições e subversões. Neste sentido, consideramos que a construção do padrão de masculinidade hegemônico se inscreve em verdades construídas sobre masculinidades e sobre ser homem (buscando unificar essa experiência), além de marcar uma posição de poder que toma a binaridade de gênero como fundamento. A atualização desses padrões hegemônicos gera tanto adoecimento como acaba por influenciar o modo de expressar e de reconhecer esse sofrimento. Para dar conta dessas questões, realizamos um estudo qualitativo, partindo da perspectiva do Construcionismo, em psicologia social, que nos convoca a um exercício de percepção do que nos é familiar a partir de um estranhamento, dando enfoque ao que é diverso e contraditório e à dimensão performática da linguagem. Nossa pesquisa se deu em um Centro de Atenção Psicossocial tipo III, situado no sertão pernambucano. Para produção de informações, realizamos entrevistas aos moldes de “conversas no cotidiano”, a partir da perspectiva construcionista. As informações produzidas foram analisadas a partir de instrumentos de análise de práticas discursivas, orientadas pelo construcionismo, em que se procurou identificar tanto aspectos que se repetiram como particularidades nas produções dos/as entrevistados/as.  Nessas análises identificamos que, para os interlocutores/as, as imposições sociais que são atribuídas aos homens dificultam a expressão de seus sentimentos/demandas, contribuindo para um ciclo de sofrimento ampliado. Ademais, a definição de nordestino como um homem que deve “ser forte e não temer nada”, configura um repertório discursivo que orienta abjeção a qualquer expressão que se distancie desses atributos; assim como aquilo que está associado ao feminino. Qualquer restrição ou fragilidade acaba sendo ligada a fraqueza, tirando dos homens, inclusive, a possibilidade de adoecer e demandar cuidados. A relutância dos homens em reconhecer/expor seu sofrimento parece constituir-se em marcas do gênero na limitação do acesso do público aos serviços de saúde mental. Por fim, concluímos que padrões de masculinidade hegemônica compões o núcleo de sofrimento dos homens e orientam seus modos de (não) cuidado. Dessa forma, nossa pesquisa ratifica análises anteriores, segundo as quais, a masculinidade hegemônica, enquanto padrão e modelo cultural, pode ser entendido como fator de adoecimento mental para alguns homens, ao criar barreiras que impedem a mediação e a reflexão necessárias para se posicionar frente a essa questão.

     

  • Keywords
  • Masculinidade hegemônica, sofrimento psíquico, cuidado em saúde mental.
  • Subject Area
  • EIXO 6 – Direito à Saúde e Relações Étnico-Raciais, de Classe, Gênero e Sexualidade
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