Apresentação: A doença pulmonar obstrutiva crônica (DPOC) é uma doença heterogênea, prevenível e tratável, caracterizada por sintomas respiratórios crônicos, como dispneia, tosse e secreção, causando uma obstrução ao fluxo aéreo de forma persistente e progressiva. Outrossim, a DPOC apresenta uma resposta inflamatória, responsável pelo acometimento sistêmico. Ainda que não se tenha dados mais atuais, estudos de 2020 apontaram 40 mil mortes a cada ano, sendo que, por hora, três brasileiros morrem em decorrência da DPOC. Para 2030, estima-se que a DPOC seja a terceira causa mundial de mortes. No acompanhamento a estes pacientes, observa-se a presença de múltiplas comorbidades, as quais estão associadas à piora clínica. Dentre os comprometimentos associados à DPOC, o estado nutricional, a perda da massa magra, a alteração na força muscular respiratória e o sintoma de dispneia impactam negativamente no estado geral de saúde. Tais manifestações podem estar relacionadas ao estresse oxidativo e a disfunção dos músculos periféricos e dos músculos respiratórios, além disso, o estado nutricional dado pela desnutrição piora o quadro da doença, compromete a imunidade celular e interfere na redução de força muscular respiratória e periférica. Desenvolvimento: Frente às condições supracitadas, os pacientes podem relatar aumento na percepção da sensação de dispneia para realizar as atividades rotineiras. A dispneia é o sintoma mais característico da doença, muitos fatores são envolvidos no seu mecanismo, dentre eles, a limitação ao fluxo aéreo, as anormalidades alvéolo-capilar que interferem nas trocas de gás, o aumento de secreção, a disfunção muscular respiratória e periférica. Ademais, frente a progressão da doença, pode ser observada a redução da concentração de fibras musculares tipo I, responsáveis pela contração lenta, dessa forma, os indivíduos tendem a apresentar redução da força muscular e aumento da fadiga que impactam na qualidade de vida. Em contrapartida, muitos pacientes com DPOC não apresentam redução da força muscular respiratória, isso pode ser atribuído a hiperinsuflação pulmonar e aumento do trabalho respiratório. A presença de baixa pressão inspiratória está relacionada com pior prognóstico e maior gravidade da doença. Frente ao exposto, e considerando a progressão da DPOC e um prejuízo nutricional, o desequilíbrio entre o consumo alimentar e o gasto calórico elevado se instalam. Diante disso, os indivíduos podem apresentar alteração na massa magra e no tecido adiposo, condições que estão associadas ao maior relato de dispneia, maior gravidade da doença, maiores taxas de agudização e internações hospitalares mais prolongadas. Em consonância ao contexto de agravos que cercam o DPOC, considerando que o diagnóstico da doença tem sido feito em uma fase mais tardia, a espirometria é o padrão ouro para diagnosticar a DPOC, esse exame não está disponível na rede de atenção básica de saúde no município de Santa Maria - RS, o que confere a muitos doentes o subdiagnóstico e o acesso limitado a estratégias de cuidado. Assim, a Organização Mundial de Saúde (OMS) reconhece a importância de promover a conscientização para ações que busquem identificar a problemática que envolve a gravidade da doença, bem como instituir medidas que vão desde a identificação dos fatores de riscos para o desenvolvimento da DPOC, e também o diagnóstico precoce e cuidado multiprofissional qualificado para o manejo clínico e não farmacológico da patologia. Objetivo: Apresentar o perfil dos pacientes DPOC ao ingressarem no programa reabilitação pulmonar em um Hospital Universitário da região central do Rio Grande do Sul (HUSM), além de promover a discussão mais ampla sobre conscientização de políticas públicas a fim despertar tomada de decisão para a problemática em questão. Método: Relato de experiência acadêmica, na área de ensino-aprendizado do Curso de Fisioterapia da Universidade Federal de Santa Maria (UFSM), com uma abordagem descritiva do perfil dos ingressantes na reabilitação pulmonar e consequente reflexão sobre políticas públicas aplicadas ao doente pulmonar crônico. No primeiro momento deste relato será apresentado dados do perfil do agravo do usuário ao Programa de Reabilitação Pulmonar do HUSM, para no segundo momento, contextualizar políticas públicas municipais, voltadas ao cuidado do doente crônico pulmonar. Nos meses de janeiro a março de 2023, foram avaliados 21 indivíduos com diagnóstico de DPOC, asma, bronquiectasias, pós-Covid-19 que foram encaminhados pelo Serviço de Pneumologia do HUSM ao Programa de Reabilitação Pulmonar (PRP). Estes indivíduos atenderam aos critérios pré-estabelecidos para o ingresso ao PRP: adultos, com diagnóstico clínico e exame de espirometria comprovando a DPOC (VEF1/CVF<70), ou asma e outras doenças crônicas pulmonares, clinicamente estáveis no momento das avaliações, encaminhados à reabilitação pulmonar do referido hospital. O HUSM é referência em saúde para os municípios para os municípios da 4ª Coordenadoria Regional de Saúde. O PRP conta com uma equipe mínima, uma fisioterapeuta e uma enfermeira, que realizam o acolhimento dos usuários candidatos a participar do programa. O Curso de Fisioterapia, com seus alunos do 9º semestre e os bolsistas de iniciação científica conduzem as intervenções preconizadas no PRP, sob a supervisão direta de duas Docentes do Curso de Fisioterapia, duas vezes por semana, no período do calendário acadêmico da UFSM. Vale destacar que o HUSM é o único local de acesso a reabilitação pulmonar pelo Sistema Único de Saúde. A partir do prontuário eletrônico são coletados os valores do exame de espirometria, e as demais avaliações e condução do PRP são realizadas pelos docentes e discentes. Resultados: Entre as demandas de saúde observadas, destaca-se que os pacientes ao ingressarem no PRP apresentam uma maior gravidade da doença, com relato da percepção da dispneia importante e limitante para devolver as atividades da vida diária. Quanto à condição nutricional, a desnutrição e a obesidade predominam e a maioria possui renda de um salário mínimo. Para o acesso à reabilitação, duas vezes por semana, há necessidade de auxílio para o transporte. As medicações prescritas são disponibilizadas pela Farmácia Popular, Farmácia do Município ou Estado e em algumas situações o acesso é via judicial. Ao completar o ciclo de reabilitação, em torno de três meses, o usuário não dispõe, na rede de atenção básica, um programa para dar continuidade à reabilitação pulmonar. Considerações finais: Os pacientes ao ingressarem no programa de reabilitação pulmonar apresentam, majoritariamente, a DPOC grave com percepção da dispneia limitante, múltiplas comorbidades e recorrentes readmissões hospitalares por agudização da doença e busca por atendimentos nos serviços de emergência na rede. Portanto, considerando a estimativa da DPOC ser a terceira maior causa de morte no mundo até 2030, impõe-se a urgência em discutir políticas públicas que contemplem uma linha de cuidado integral ao doente crônico pulmonar, garantindo ao usuário do Sistema Único de Saúde o direito ao cuidado todos os níveis de atenção à saúde.