Apresentação: A preceptoria no campo da saúde é reconhecida como exercício profissional capaz de transformar a vivência de aprendizes na constituição de um ofício. Todavia, a literatura científica descreve imprecisões na sua operacionalização, desde qual termo imprimir àquele que a realiza (preceptor, tutor, mentor, mediador), até à função social que exerce. O objetivo deste trabalho é fomentar uma discussão sobre a preceptoria em saúde como função social do profissional em saúde, tomando o caso do fonoaudiólogo. Desenvolvimento: A preceptoria em saúde se apresenta como um potente dispositivo para o desenvolvimento da prática social do fonoaudiólogo em formação e daquele atuante no SUS, quando o processo formativo no e para o SUS passa a contemplar as necessidades de saúde da população e compreender a determinação social do processo de saúde-doença-cuidado. Na Fonoaudiologia, essa atividade é observada a partir da inserção de fonoaudiólogos nos serviços públicos de saúde, da elaboração e implantação de políticas públicas de saúde amplas, e àquelas relacionadas à formação em saúde. Na história da Fonoaudiologia é comum se narrar que sua origem no Brasil se deu nos idos dos anos 30, decorrente da preocupação da medicina e da educação quanto aos erros de linguagem apresentados pelos escolares. Sabe-se, porém, que muitos dessas “imprecisões” foram alvo de atenção desde a chegada dos imigrantes ao país, ocorrida entre meados do século XIX e a década de 1930, com vistas a uma padronização da língua, no caso, a portuguesa, mediante a necessidade de comunicação entre os empregadores e empregados e a sociedade brasileira como um todo. Resultados: A narrativa da fonoaudiologia ao longo dos seus anos permite apreender, na sua historicidade, algo constitutivo na produção de sentido em suas práticas: um ampliado interesse na doença. Esse fato é possível de se observar pela escolha de termos limitantes, práticas cada vez mais especializadas e tipo de tecnologia acessivel a poucos usados em seu cotidiano. Do seu início aos dias atuais, as especialidades em fonoaudiologia saltaram de quatro para mais de uma dezena. Ao que se lança a dúvida: o por quê desse aumento? A quem interessa essa hiperespecialização do fonoaudiólogo? Ao focar na doença/alteração/distúrbios e não no contexto social das pessoas em relação à sua experiência de adoecer, estaria a fonoaudiologia produzindo práticas segregacionistas? Considerações Finais: Englobar uma prática de cuidado em que a saúde seja o alvo requer que se considere o outro como sujeito do cuidado. Isso implica no reconhecimento de suas multiplicidades como sujeito e a linguagem como elemento constitutivo de suas práticas. O ensino da Fonoaudiologia no Brasil, pautado em identificar fatores facilitadores e dificultadores para uma prática social em saúde, tendo a preceptoria como dispositivo de aprendizagem dessas situações reais de saúde, indica um caminho a ser percorrido, ao mesmo tempo em que favorece à fonoaudiologia reconhecer-se como ofício integrante da sociedade humana e como tal, promotora da comunicação pelo uso da linguagem, conferindo o sentido de adoecimento como expressão da/na vida, e portanto, buscar nela recursos para seu enfrentamento.