Apresentação: A interpretação do exame eletrocardiograma (ECG) é essencial para o aprendizado dos estudantes do curso de Medicina, pois este auxilia no entendimento da semiologia do sistema cardiovascular e na identificação de doenças que o acometem, ancorada pela propedêutica cardíaca e outros exames complementares, mediante uma abordagem integrada durante a prática clínica. Contudo, a tamanha complexidade do tema, especialmente na graduação, período que envolve grandes demandas de conteúdo, a necessidade do raciocínio clínico estabelecido associado à prática, e a carência de explicações didáticas são fatores limitadores do aprendizado. Em vista disso, promoveu-se o ensino dos aspectos teóricos e práticos, de forma introdutória, dos conceitos básicos de ECG, para estudantes dos anos iniciais do curso de Medicina. Essa ação teve como propósito facilitar o entendimento dos estudantes e contribuir para a construção de habilidades necessárias para a área profissional, com o intuito de avaliar e diagnosticar pacientes de forma adequada. Dessa forma, objetiva-se descrever uma experiência de ensino do ECG mediada por estudantes de Medicina durante a graduação. Descrição da experiência: Durante o curso de medicina da Universidade Federal do Vale do São Francisco (UNIVASF), campus Paulo Afonso, um curso baseado e orientado pelas metodologias ativas, os discentes começam a ter contato com o estudo do sistema cardiovascular no 2° período da graduação. Neste momento, abordam-se conhecimentos vinculados à anatomia, à fisiologia, à histologia, à semiologia e ao exame ECG, com critérios avaliativos e padrão fisiológico esperado. Como foi percebido que o ECG e a propedêutica do sistema cardiovascular eram considerados temas de difícil aprendizagem por muitos alunos do curso, decidiu-se realizar essa ação educativa para o 2°, 4°, 6° e 8° períodos, com foco nos discentes do 2º período. O evento foi organizado por oito discentes, um do 2° período, seis do 4° período e uma do 8° período e teve a participação de 21 pessoas como ouvintes. Para a organização de tal momento, foram realizadas duas reuniões de planejamento para alinhar os objetivos da ação e para a preparação e capacitação dos estudantes que iriam ministrar a aula. Além disso, foi definido, para sua realização, que a data ideal seria uma semana antes da aula regular sobre propedêutica cardíaca da grade curricular obrigatória, servindo assim de estudo prévio, estratégia pertinente em um curso orientado pelas metodologias ativas. Na ação, foram realizados momentos teóricos e práticos, sendo os alunos de períodos mais avançados, os instrutores e preceptores de atividades simuladoras e expositivas. Os assuntos abordados foram fisiologia cardíaca, toda a propedêutica (com seus determinados passos: inspeção, palpação e ausculta), demonstração de técnicas específicas do exame cardíaco, como palpação do Ictus Cordis e ausculta nos cinco focos de maior valia, bem como suas respectivas localizações, além do exame de ECG, sobre o qual foi tratado o funcionamento, a teoria básica, a técnica de realização, a aplicação do exame e a leitura do resultado. A parte teórica foi intercalada com momentos práticos, nas quais os instrutores demonstraram a técnica e orientaram a prática dos demais alunos envolvidos na ação. Nesse momento, destacam-se os momentos de palpação de Ictus Cordis e a aplicação de um ECG, ambos em modelos vivos. No final da parte teórica, os alunos foram divididos em pequenos grupos, visando promover maiores oportunidades de prática de simulação do exame cardíaco e sanar possíveis dúvidas persistentes. No momento da inscrição e ao término da ação, foi aplicado um questionário sobre conceitos importantes relacionados aos temas abordados, como leitura do resultado do ECG, potencial de ação (referente à fisiologia do impulso nervoso no tecido cardíaco), posicionamento dos eletrodos do ECG, palpação de pulsos, ausculta cardíaca e palpação de Ictus Cordis, como forma de avaliar o impacto do evento. Nessa experiência, foi possível observar o envolvimento e a participação dos alunos do 2º período, evidenciando que a prática com outros alunos pode ser vantajosa, pois permite aos estudantes tirarem suas dúvidas livremente e praticarem com auxílio dos preceptores. Resultados: A avaliação pré e pós-ação, por meio de cinco questões de múltipla escolha, revelou mudanças em relação ao conhecimento dos participantes sobre conceitos importantes de ECG e propedêutica cardiovascular. A pesquisa antes da ação foi realizada com 26 alunos, enquanto 20 alunos responderam à pesquisa após a ação. Antes da intervenção, os resultados demonstraram os seguintes percentuais de acertos: 57,7% (n = 15) dos alunos responderam corretamente em relação às ondas do ECG, 57,7% (n = 15) acertaram a questão referente ao potencial de ação das células cardíacas. Além disso, no questionamento acerca do posicionamento dos eletrodos, 57,7% (n = 15) dos participantes selecionaram a alternativa correta. Nos últimos dois questionamentos, houve 69,2% (n = 18) e 53,8% (n = 14) de acertos relativos aos focos de ausculta cardíaca e localização do Ictus Cordis, respectivamente. No entanto, após a intervenção, os resultados melhoraram significativamente, no qual os questionamentos no tocante às ondas do ECG e posicionamento dos eletrodos obtiveram 100% (n = 20) de acerto. Contudo, nas demais questões os alunos obtiveram entre 60% (n = 12) e 80% (n = 16) de acerto. Esses resultados sugerem a eficácia da intervenção na melhoria do entendimento dos participantes acerca dos conceitos abordados. Por fim, a participação ativa dos instrutores, alunos de períodos mais avançados, foi fundamental para criar um ambiente de aprendizado colaborativo e estimulante. Além disso, a troca de experiências e a resolução de dúvidas sedimentaram os conceitos estudados da propedêutica cardíaca tanto para os instrutores como para os alunos. Considerações finais: A efetividade da atividade realizada é evidenciada pelo aumento percentual de respostas corretas nos questionários após sua implementação. Os resultados sugerem que a ação foi exitosa em seu objetivo inicial de auxiliar no desenvolvimento das habilidades dos estudantes em relação à propedêutica cardiovascular e aos princípios gerais do ECG. Nesse sentido, a experiência enriqueceu o conhecimento técnico dos participantes e facilitou a assimilação da temática de forma consolidada, especialmente para os estudantes que realizaram estudos prévios e que possuíam algumas dúvidas, minimizando potenciais dificuldades. Assim, a abordagem introdutória emerge como uma estratégia eficaz na promoção da aprendizagem contínua dos estudantes ao longo do curso.
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