Apresentação: A educação interprofissional em saúde (EIS), compreende uma estratégia educacional caracterizada pela existência de duas ou mais profissões voltadas ao ensino e aprendizado inter-relacionados, visando o intercâmbio de habilidades e conhecimentos para uma prática eficaz no campo da saúde (OMS, 2010). As Diretrizes Nacionais Curriculares do Curso de Medicina, determina em seu artigo 7º, a construção de projetos pedagógicos articulados com outras áreas do conhecimento propiciando uma EIS ampliada e resolutiva. Diante da complexidade que envolve as demandas de saúde da população na atualidade e de uma prática médica hegemônica caracterizada pela fragmentação do saber, a EIS apresenta-se como uma possibilidade de reversão desse contexto ao fornecer elementos para os profissionais médicos trabalharem de forma integrada, colaborativa e permeada por distintos saberes em saúde. Objetivo: Apresentar a experiência interprofissional docente no curso de Medicina de uma instituição privada de uma cidade do Estado da Bahia, durante os semestres iniciais do curso, ocorridas no período de março 2022 a março 2024. Orientação Teórico-Metodológica: O relato da atuação interprofissional docente está ancorado no referencial teórico-prático da Saúde Coletiva e como referencial normativo as respectivas legislações das categorias profissionais. Resultados: A equipe interprofissional docente do Pilar de Medicina de Família e Comunidade (MFC) & Saúde Coletiva (SC) encontra-se composta por oito profissionais - duas enfermeiras, uma assistente social, um psicólogo, um farmacêutico, dois odontólogos e um sanitarista, além de três médicos de família e comunidade – atuando nos componentes MFC, SC, Humanismo e Epidemiologia. Outra característica digna de nota, refere-se ao período de inserção dos docentes no Pilar, aproximadamente 60% dos docentes, estão na equipe desde o início do curso, criando uma significativa coesão vincular e fortalecimento dos objetivos pedagógicos estabelecidos. Em comum, todos os docentes do respectivo Pilar possuem formação complementar – Mestrado e/ou Doutorado no campo da Saúde Coletiva em suas três subáreas – Política, Planejamento e Gestão, Epidemiologia e Ciências Sociais e Saúde. A Saúde Coletiva, colabora, portanto, com todo um conjunto de teorias e técnicas que possibilitam ampliar o olhar e a atuação do enfoque meramente biológico, tecnicista e assistencialista, com os elementos dos determinantes sociais do processo saúde-doença, com as concepções de modelos de atenção à saúde, com os conhecimentos sobre as políticas de cuidado integral a saúde de grupos e populações específicas, com as redes de atenção à saúde, entre outros, através da perspectiva evidenciada pelos profissionais. Em associação ao aspecto comum do campo de pós graduação dos docentes – SC – destacamos as singularidades presentes nas distintas categorias profissionais que formam o Pilar e contribuem para as práticas pedagógicas colaborativas, processos formativos, aprendizagem em equipe, mudança de cultura no ensino e aprendizagem e práticas de atenção em saúde na formação médica. O olhar da psicologia, enquanto ciência do comportamento e da subjetividade humana, tem estimulado à reflexão frente à hegemonia da concepção do modelo biomédico e auxilia na mudança de paradigma da visão calcada, exclusivamente, nos sintomas, sinais e diagnósticos para a concepção biopsicossocial preconizada pela Organização Mundial da Saúde (OMS) e da subjetividade humana, compreendida enquanto aspectos singulares de cada pessoa, construída através de suas vivências pessoais, relações sociais e contexto supraestrutural. O contato com um professor cirurgião-dentista pode oportunizar um novo olhar acerca de doenças, agravos, sinais e sintomas na região do complexo bucomaxilofacial e do sistema estomatognático associados a doenças sistêmicas de interesse da medicina. Por sua vez, no campo assistencial, os conhecimentos específicos sobre farmacoterapia, farmacocinética, farmacodinâmica e a farmacotécnica medicamentosa contribui com conhecimentos essenciais para o uso prático e racional de medicamentos. As discussões sobre a Política Nacional de Medicamentos e Política Nacional de Assistência Farmacêutica ampliam a possibilidade do ensino sobre o acesso aos medicamentos no Brasil. Por fim, o olhar farmacêutico para as leis, normas e portarias relacionadas ao acesso as tecnologias médicas, medicamentos e terapias alternativas e o conhecimento das instâncias regulamentadoras como Agência Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA) e técnicas colegiadas como a Comissão Nacional de Incorporação de Tecnologias no Sistema Único de Saúde (CONITEC), complementam o ensino, dando materialidade as discussões da prática médica no campo da saúde coletiva. O olhar do assistente social (AS) na EIS responsabiliza-se pela compreensão das características e expressões da sociabilidade humana - resultantes do modo de (re) produção da vida material e imaterial – que incidem nas determinações sociais de saúde e doença da população. Em outras palavras, a AS através de seu conhecimento teórico e instrumental técnico lida com situações singulares vividas por sujeitos e famílias, grupos e segmentos populacionais configuradas, primordialmente, pela inserção no mundo do trabalho, renda e capacidade de reprodução da vida, bem como as determinações sociais de saúde e doença provenientes daquela inserção. Atua na análise e avaliação de políticas públicas, orientação e elaboração de estratégias para acesso e garantia de direitos amplos e indispensáveis à melhoria das condições de vida das populações - saúde, assistência social, previdência social, educação, trabalho, moradia, lazer, segurança). Em sentido restrito e privativo, o AS tem contribuído, quando necessário, em estudos socioeconômicos, orientação social a indivíduos, grupos e famílias durante as visitas nas unidades, mobilização e práticas educativas junto aos discentes. Ademais, o assistente social em um compromisso ídeo-teórico-ético e político responsabiliza-se pela difusão de um projeto societário e de saúde configurado em padrões de civilidade, justiça e equidade social em diversos âmbitos – sala de aula, pesquisa, eventos acadêmicos e sociais bem como nos espaços de gestão. Na busca por uma formação e consequentemente, uma assistência qualificada e de excelência, é imprescindível a articulação entre os saberes das diversas áreas de conhecimento, que no processo de trabalho em saúde atuarão de forma conjunta. Nesse sentido, a Enfermagem, colabora com o olhar da atenção integral à saúde, baseado nos princípios e diretrizes do SUS, a partir das tecnologias do cuidado, desenvolvendo práticas de acolhimento, vínculo, co-responsabilização, resolubilidade, buscando atender às várias necessidades em saúde das pessoas, dos coletivos e das populações, estimulando-as a se tornarem sujeitos protagonistas do seu cuidado à saúde. Vislumbra-se assim, a construção de conhecimento para uma formação integral, crítica e reflexiva. Os distintos saberes sobre a formação médica têm propiciado de forma efetiva a troca de saberes “com os outros, sobre os outros e entre si” (OMS, 2010). Considerações: A educação interdisciplinar em saúde desenvolvida na instituição em referência deste estudo, têm se mostrado um passo importante para formação médica generalista, colaborativa e minimamente preparada para compreender as demandas e necessidades em saúde de forma ampliada e assim propor intervenções efetivas. Faz-se necessário, entretanto, transpor desafios presentes neste processo, tais como a necessidade de pactuação com a gestão sobre a continuidade da formação IES ao longo de todo processo formativo e não apenas nos primeiros anos do curso, apoio organizacional e investimentos em capacitações, treinamentos, pesquisas e publicações, reuniões sistemáticas para alinhamento de propósitos, troca de saberes e informações, espaço para alinhamento de atividades, escuta e apoio docente/ discente.