Diversas pesquisas tem apontado a dança como um importante recurso de expressão individual e coletiva. Compondo Práticas Integrativas e Complementares (PICs), a dança tem sido usada como área de pesquisa e na prática de oficinas regulamentadas pelo Ministério da Saúde via Sistema Único de Saúde viabilizando o cuidado em saúde integral. A dança do ventre, em especial, favorece a autopercepção da forma individual de respirar, partes do corpo que fluem e quais enrijecem, sensações, sentimentos e compreensão da forma de se mover no espaço físico e entre pessoas. O presente estudo tem fundamentação existencial-fenomenológica pelo olhar da Gestalt-terapia. Refere-se aos dados de uma pesquisa qualitativa fenomenológica de campo resultado de tese de doutorado em Psicologia. Como psicóloga, pesquisadora e bailarina, a autora destaca que a relevância deste estudo se dá na importância e urgência de resgatar a expressão, conexão, propriedade sobre si mesmo, tendo em vista que o processo psicoterápico, uso de recursos artísticosa e autocuidado são caminhos favoráveis como ações em saúde mental. O objetivo foi compreender a experiência de mulheres adultas de viver e dançar a dança do ventre. Como método fenomenológico de análise dos dados foram utilizados os passos de Amedeo Giorgi e Daniel Sousa com discussão dos dados a partir das principais teorias de fundamentação e a forma de compreensão de ser humano e mundo da Gestalt-terapia, dialogando com a literatura dos fundadores da abordagem e seus principais estudiosos. As participantes foram seis mulheres adultas, todas com mais de um ano de experiência, algumas professoras profissionais da dança. Concluiu-se que a dança do ventre contribui na autopercepção corporal e no conhecimento de si principalmente pela possibilidade de fluidez na relação organismo/ambiente. Este autoconhecimento ocorre no entendimento de cada mulher sobre suas necessidades individuais, seus objetivos e forma de ser-no-mundo pela awareness vivida na experiência de dançar. Assim, traz o reconhecimento de possibilidades e limitações, assimilação de experiências, integração de partes anteriormente alienadas de si e se evidencia pelo movimento e ação engajada no meio. Os resultados da pesquisa demonstram que a dança do ventre para mulheres é um viés de resgate do poder sobre si, viabilizado a partir de processo de ampliação da consciência de si e das relações interpessoais e intrapessoais, com fortalecimento do self-suporte, possibilitando, assim, ajustes mais saudáveis no campo organismo/ambiente, favorecendo a emergência fluida de figura-fundo no contato.
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