O Projeto de Geração de Trabalho e Renda (PGTR) denominado Arte, Horta & Cia, é uma iniciativa inovadora do Museu Bispo do Rosário Arte Contemporânea (mBrac) na execução da promoção e assistência à saúde. O Museu é um equipamento do Sistema Único de Saúde (SUS), em consonância aos desafios da Reforma Psiquiátrica Brasileira, integra à Rede de Atenção Psicossocial (RAPS) pelo Instituto Municipal de Assistência à Saúde Juliano Moreira (IMASJM), no território Colônia Juliano Moreira, zona oeste da cidade do Rio de Janeiro.
A atividade de trabalho é um fenômeno dinâmico operador e condutor que impacta diretamente a vida das pessoas. A ausência de trabalho afeta a saúde individual, familiar e coletiva. No projeto Arte, Horta & Cia, onde participam moradores da comunidade local e os usuários da RAPs, entende-se o trabalho enquanto poderoso instrumento na construção de um novo lugar social para os usuários da rede de atenção psicossocial, sendo um eixo efetivo de aporte à saúde integral. O projeto está de acordo com os pilares da Reforma Psiquiátrica Brasileira no processo de inclusão social, promoção da cidadania e saúde das pessoas em sofrimento mental.
O projeto abarca quatro segmentos singulares: Horta Agroecológica, Ateliê Fios do Rosário, Loja B e o Bistrô Bispo. A horta abrange atividades práticas e educativas de plantio, cultivo, colheita e vendas de produtos agroecológicos, conta com equipe multidisciplinar que desenvolve diferentes tecnologias sociais baseadas na natureza. Já o Ateliê Fios do Rosário converge por atividades artesanais de bordado, crochê, costura e mosaico. Nessas atividades os participantes desenvolvem suas habilidades na produção de peças singulares, e com o apoio da Loja B, expõem e comercializam os frutos de trabalho. O Bistrô destaca-se pelo cardápio que incentiva a alimentação saudável, inclusive utilizando técnicas de reaproveitamento integral dos alimentos.
Os seguimentos do PGTR apresentem-se de forma plural, e são integrados por uma metodologia participativa e fundamentada a partir de uma perspectiva anticapacitista, antirracista, antimanicomial e decolonial, compreendendo que todo ser vivo é detentor de conhecimento. Os processos de intercâmbio de experiências e vivências que buscam envolver os participantes nas tomadas de decisão, bem como na resolução de problemas cotidianos, são guiados pelas diretrizes da gestão participativa, com participação ativa e a corresponsabilização entre os participantes.
Como resultados observamos, nas falas e nas atitudes dos participantes, que o projeto tem expandido possibilidades, criado vínculos e estabelecendo uma rede de sustentabilidade para os sujeitos, constituindo formas de viver coletivas, além de desmedicalização e inclusão na convivência pelo trabalho entre os diferentes.
A Colônia Juliano Moreira abrigou um modelo segregador, degradante e desumano no cuidado de pessoas em sofrimento mental. Cem anos depois, o IMASJM, celebra a transformação desse espaço de dor e sofrimento em um espaço que conflui arte, cultura, emancipação, cidadania e o espocar da criatividade. Diante dos desafios, muitas vezes paradoxais, o Arte, Horta & Cia vem cumprindo sua maior missão no fomento de uma autonomia real para estas iniciativas, passando a articular definitivamente a saúde mental na discussão da complexa promoção da saúde integral pelo viés do trabalho.
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