Apresentação: A Residência Multiprofissional foi criada em 2005 pelo Ministério da Saúde (MS) e é caracterizada pela educação em serviço por meio do exercício profissional supervisionado. Possui um regime de dedicação exclusiva com duração de 24 meses, carga horária de 60 horas semanais que totaliza 5.760 horas, com atividades voltadas para as necessidades loco-regionais, alicerçada pelos princípios e diretrizes do Sistema Único de Saúde (SUS), sendo realizada em serviços de saúde favoráveis ao desenvolvimento de competências e habilidades necessárias à aprendizagem do residente. Possui como objetivo principal o aperfeiçoamento na formação de jovens profissionais e sua inserção no mercado de trabalho em áreas prioritárias do SUS, com aproximação das atividades pedagógicas à linha de cuidado de todos os níveis de atenção à saúde. Para efetivar o alicerce teórico atrelado a experiência prática, a educação permanente é realizada por meio de profissionais que fazem parte da instituição, intitulados preceptores, cuja compreensão deve perpassar as competências técnico-práticas, e adentrar ao espaço pedagógico para possibilitar uma formação diferenciada, sendo fundamentais no processo de formação profissional. Nesse sentido, desenvolver uma força de trabalho profissional pautado na experiência teórico-prática é um dos pontos de excelência para a formação de recursos humanos na área da saúde. Nesse contexto, os programas de residência procuram desenvolver competências e habilidades que são inerentes a boa realização do trabalho em saúde, cujo foco é formar um profissional crítico, reflexivo, com perfil generalista, para atuar de forma integral e interdisciplinar nas ações de promoção da saúde, prevenção de riscos e agravos, na manutenção da saúde, tratamento e reabilitação. Dessa forma, a partir da residência é possível desenvolver a capacidade de articular saberes e valores com integração dos conhecimentos no processo cotidiano de saber-fazer. Este estudo teve por objetivo descrever as experiências vivenciadas por enfermeiros residentes durante a Residência Multiprofissional em Saúde da Família. Desta forma, busca-se contribuir com reflexões sobre o desenvolvimento de competências e habilidades do residente. Desenvolvimento do trabalho: Trata-se de um estudo do tipo qualitativo, com caráter descritivo, na modalidade relato de experiência sobre as reflexões a respeito do desenvolvimento de competências e habilidades profissionais, decorrente das vivências de enfermeiros residentes de dois Programas de Residência Multiprofissional, no âmbito da Atenção Primária à Saúde (APS). O primeiro programa é vinculado à Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC) e o segundo à Escola de Saúde Pública (ESP), ambos em parceria com a Secretaria Municipal de Saúde (SMS) e segue a estrutura teórica e metodológica das Orientações e Diretrizes da Política de Educação Permanente em Saúde como estratégia do SUS para a formação e desenvolvimento dos trabalhadores do setor, cujo órgão responsável é o Ministério da Saúde. Na residência, as atividades práticas são realizadas nos Centros de Saúde (CS) do município de Florianópolis, com algumas ações coletivas acontecendo em escolas e associações ou outras instituições parceiras que são pertencentes ao território adscrito, bem como realização de estágios optativo e obrigatório acontecendo em outros órgãos da SMS. Resultados: O enfermeiro ao ingressar na residência passa a ser supervisionado por um preceptor e torna-se vinculado a uma equipe de saúde da família, onde começa a realizar intensamente sua rotina no serviço no qual está lotado, visando a promoção, proteção e recuperação da saúde, embasado nos princípios do SUS. Essa inserção na realidade concreta dos serviços de saúde, oportuniza uma aprendizagem em equipe, cujo processo pode ser construído e reconstruído no cotidiano da Estratégia de Saúde da Família (ESF), numa busca constante pela articulação do conhecimento interdisciplinar e prática multiprofissional e intersetorial, com base no aprender fazendo. Dessa forma, a residência multiprofissional em Saúde da Família no âmbito da APS, proporciona o desenvolvimento de diversas habilidades e competências do enfermeiro, sobretudo em duas principais dimensões: assistência direta ao paciente e gestão dos serviços e do processo de trabalho. Nesse sentido, o enfermeiro residente é instigado a atuar em todas as fases do ciclo de vida, a partir do acolhimento, das consultas de enfermagem programadas e em demanda espontânea, coordenação do cuidado, visitas domiciliares, matriciamento de casos complexos, realização de procedimentos como curativos e inserção de Dispositivo Intra-uterino (DIU), atividades do Programa Saúde na Escola (PSE), educação em saúde com orientação e acolhimento à comunidade, proporcionando assim formação de vínculo com os usuários e a equipe. O enfoque gerencial é desenvolvido a partir da organização das reuniões de equipe, capacitações diversas, campanhas de vacinação, supervisão dos técnicos de enfermagem e Agentes Comunitários de Saúde (ACS), gerenciamento da sala de vacinas, vigilância em saúde, territorialização, controle de materiais da Central de Materiais e Esterilização (CME), gerenciamento de recursos materiais e humanos por meio da elaboração de escalas e controle do almoxarifado, implementação e manutenção de grupos de saúde com ações de promoção e prevenção à saúde, como por exemplo: grupos de tabagismo, saúde da mulher, adolescentes, gestantes, dentre outros, bem como na criação, organização e desenvolvimento dos projetos integrados entre os residentes das áreas multiprofissionais. Ademais, é um cenário que incentiva não somente ao aprendizado com o outro, mas também o conhecimento do papel dos demais profissionais, estimulando as relações interpessoais com outros profissionais de saúde, com a comunidade e entre os próprios residentes. Essas interações fortalecem as relações, as trocas de saberes, o planejamento de cuidado de maneira compartilhada, a habilidade de comunicação e resolução de problemas, com articulação de conhecimentos técnicos e populares para atender às necessidades coletivas, potencializando o trabalho em equipe e colaborativo. Assim, o residente desenvolve suas habilidades com responsabilidade ética e técnica, com base na realidade local, por meio de uma prática humanizada com a finalidade de contribuir com segurança para a saúde integral do usuário, embasado na colaboração interprofissional. Considerações finais: A experiência vivenciada na residência contribui para o aprimoramento do conhecimento do enfermeiro, possibilita o aperfeiçoamento de suas competências e habilidades, instiga ao residente a constante avaliação dos fenômenos relacionados ao seu processo de trabalho, a reflexões, busca por soluções, alternativas, implementação da decisão e proposição de mudanças ao longo da sua experiência profissional. Programas de Residência Multiprofissional contribuem de modo significativo para o desenvolvimento de competências profissionais requeridas no seu campo de atuação, sendo considerado um ganho para a saúde pública, pois possibilita a formação e fortalecimento da autonomia desses profissionais no cuidado às famílias e comunidades.