Introdução: O desenvolvimento de pesquisas voltadas para a área de saúde coletiva tem apresentado importantes avanços no cenário mundial. Nesse sentido, observa-se nesse campo a intensificação no que concerne à produção de conhecimentos. Em consequência disso, há também uma potencialização imanente nos processos formativos dos discentes da graduação que têm a oportunidade de participar de grupos de pesquisa, assim como os profissionais e pesquisadores. Isto ocorre especialmente com o crescimento de programas de pós-graduação stricto sensu (mestrado e doutorado), que em geral são aprimorados e intensificados através de trabalhos produzidos em grupos de pesquisa. Segundo o Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), o grupo de pesquisa é caracterizado como um conjunto de sujeitos organizados de forma hierárquica em torno de lideranças que são constituídas com base na visão de experiência, destaque e liderança na área de estudo. Estes são evidenciados através do envolvimento profissional e permanente com atividades de pesquisa, em que há linhas de investigação comuns e que se subordinam ao grupo, compartilham instalações e equipamentos. Esse espaço, quando compartilhado por diversos núcleos de saberes, é de suma importância para o desenvolvimento e aprimoramento da Educação Interprofissional em Saúde (EIP) e da Educação Permanente em Saúde (EPS). A EIP diz respeito à atividade em que dois ou mais profissionais da saúde compartilham saberes e práticas de forma conjunta para o desenvolvimento de estratégias que visam a colaboração dentro do processo de saúde, tanto no âmbito do trabalho quanto na qualidade da atenção prestada aos usuários. Já a EPS é definida como uma aprendizagem cotidiana e comprometida para orientar os atores que compõem esses contextos através do reconhecimento dos espaços de saúde como campos de desafios, que necessitam ser pensados a partir de novas práticas que sejam colaborativas, cooperativas e integradas, os quais os grupos de pesquisa devem se guiar a partir dessa lógica. No tocante aos espaços voltados para os estudos em saúde coletiva, é evidente que estes corroboram para incentivar, realizar e divulgar estudos e pesquisas, aglutinados com a ideia de intensificar EIP e a EPS que aparece como um espaço de desenvolvimento da atuação entre múltiplos profissionais de diversas áreas. Além disso, é uma importante ferramenta para o fortalecimento e qualificação das práticas em saúde pública e para o fortalecimento do Sistema Único de Saúde (SUS). Objetivo: Descrever a experiência de discentes da graduação na participação de grupos de pesquisa voltados para os estudos em saúde coletiva. Método: Trata-se de um relato de experiência acerca das vivências de estudantes de graduação de cursos da área da saúde e que atuaram enquanto membros do Núcleo de Pesquisa Integrada em Saúde Coletiva (NUPISC), vinculado ao Departamento de Saúde (DSAU) da Universidade Estadual de Feira de Santana (UEFS) no período de 2023 e 2024. Esta escrita se refere às experiências adquiridas, assim como as oportunidades de qualificação profissional através da integração em projetos de extensão, iniciação científica, organização e participação em eventos e na inserção em equipamentos de saúde vinculados ao SUS. Resultados e discussão: O NUPISC atualmente é composto por pesquisadores doutores, doutorandos, mestrandos e graduandos. Os graduandos das áreas de enfermagem, psicologia, medicina, odontologia e farmácia atuam desenvolvendo atividades tanto voluntárias quanto com incentivo financeiro por meio de bolsas do programa de iniciação científica ou de extensão, alicerçadas do tripé ensino-pesquisa-extensão. O grupo de pesquisa multiprofissional possibilita a construção de saberes de natureza interdisciplinar e interprofissional. Além disso, contribui para a ruptura com o modelo hegemônico historicamente estruturado com base em relações hierárquicas que distanciam estudantes e professores, uma vez que o espaço propicia a construção de relacionamentos pautados na horizontalidade, e tal característica corrobora para favorecer o diálogo e a interação por meio da troca de reflexões, experiências, saberes, visando uma aprendizagem colaborativa. Há a intersecção de conhecimentos por meio das sessões científicas, cujo objetivo é discutir a respeito de uma determinada temática, além de pensar a partir de um cotidiano de ações de pesquisa em que os estudantes se conectam em rede, Mesmo em pesquisas diferentes, o contato diário e as dúvidas permitem um diálogo transversalizado que suscite uma construção não linear, porém sólida que contribuirá para a prática profissional. Assim, esta forma de trabalhar conjuntamente, como uma mola propulsora impulsiona a interprofissionalidade e discentes de diversas formações. Nesse sentido, surge a dinâmica de apresentar os trabalhos acadêmicos/científicos, receber a orientação de docentes de áreas diferentes, e as considerações e reflexões de outros estudantes também com um caminhar na graduação diferente daquele dos demais colegas. Além disso, propicia o envolvimento de outros sujeitos, das mais diversas profissões, que integram os programas de doutorado e mestrado em saúde coletiva e dispõem de outras experiências que contribuem com a discussão. Tal ambiente se constitui, portanto, como um diferencial para a formação profissional uma vez que a proposta educativa do núcleo é composta por atividades que instrumentalizam o discente tanto na teoria quanto na prática, através da inserção nos projetos de Iniciação Científica (IC), extensão, organização de eventos, elaboração cartilhas e documentos. Através desses pilares é possível instigar o exercício da escrita e inovação científica, da criatividade, e corrobora com a multiplicidade de publicações e a produção de ciência no Brasil. Destarte, configura-se como uma oportunidade para o desenvolvimento de autonomia na trajetória acadêmica e percurso profissional, uma vez que os estudos voltados para o SUS propiciam a inserção em dispositivos da Rede de Atenção à Saúde (RAS), tal qual os da Atenção Primária à Saúde (APS), motivadas pela realização de pesquisas em municípios baianos da região Centro-Leste. Tal vivência é um diferencial, uma vez que algumas matrizes curriculares dos cursos da área de saúde não disponibilizam de experiências ampliadas a respeito das possibilidades de atuação no âmbito do SUS. Outrossim, o incentivo à participação em eventos científicos evidencia a importância de estar em espaços que oportunizem o debate acerca de conhecimentos pertinentes a área, tanto para a construção de novos saberes quanto para o desenvolvimento de habilidades e competências de comunicação, de tomada de decisão, senso crítico e socialização. É possível notar que a EPS e a EIP atravessam a lógica de funcionamento do grupo de pesquisa agregando na desconstrução dos modos tradicionais, uniprofissionais e fragmentados de se produzir a educação no contexto universitário. Além disso, supera a hegemonia do modelo biomédico centrado e curativo que ainda atravessa os serviços de saúde ofertados. O funcionamento do grupo supracitado aparece como uma perspectiva democrática da construção do conhecimento. Conclusão: O envolvimento em grupos de pesquisa aparece como uma oportunidade de agregar no perfil profissional e na ampliação de experiências que acrescentam na trajetória acadêmica. Trata-se de uma vivência potente, devido às oportunidades de ensino-pesquisa-extensão, inerentes ao contexto. Isso colabora para a construção de uma formação crítica e reflexiva, além de se configurar enquanto uma estratégia eficiente para o fortalecimento da educação em saúde e da interprofissionalidade. Portanto, diante do exposto, salienta-se a importância de se conhecer acerca do funcionamento dos grupos de pesquisa nas universidades bem como as possibilidades oferecidas para a formação e qualificação profissional.