ITINERÁRIOS TERAPÊUTICOS E PERSPECTIVAS NA SAÚDE PÚBLICA PARA CASOS DE “COVID LONGA”

  • Author
  • ANDRÉ LUIS PETEAN SANCHES
  • Co-authors
  • PRISCILA PAVAN DETONI , AMANDA ALECRIM DA ROCHA CERQUEIRA RODE , JESSICA TAMINI DE BORBA
  • Abstract
  • Apresentação: A pandemia de Sars-Cov2, popularmente conhecida como covid-19, teve seu momento mais crítico, com recorde de infectados, entre 2020 e 2021, e causou um impacto significativo na saúde e no bem-estar social das pessoas em todo o mundo. O quadro de desfechos mais usual dos pacientes era a recuperação até 4 semanas, entretanto, um número significativo de pacientes mantinham sintomas ou ainda desenvolveram outras reações que persistem por semanas ou até meses, por vezes, tornando-se doenças crônicas que antes não os acometia. O estudo objetivou investigar os impactos sociais e de saúde da covid longa e os itinerários terapêuticos dessas pessoas acometidas pela doença, incluindo aspectos de imunização, medicamentalização e terapias a que estes pacientes foram ou estão sendo submetidos. A área de abrangência foram os municípios de Passo Fundo e Marau, ambos localizados no estado do Rio Grande do Sul, Brasil, focando nos itinerários terapêuticos desse grupo, entendendo quais foram os serviços de saúde que estes pacientes tiveram ou têm acesso e qual o papel destes para a recuperação ou agravamento do quadro de saúde. Ainda foram exploradas questões a respeito de impactos sociais e psicológicos reconhecidos por essas  pessoas. 

    Desenvolvimento do trabalho: O estudo foi feito por meio de entrevistas com questionários semi-estruturados, de forma presencial e on-line, a depender da disponibilidade do participante. Ao total, foram entrevistadas 10 pessoas que estavam na condição de terem vivenciado efeitos prolongados da covid-19. Um dos aspectos percebidos durante a prospecção de participantes foi a dificuldade de aceitação dessas pessoas para falar a respeito do problema enfrentado, ocorrendo negativas de pacientes que contemplavam os critérios para a pesquisa, mas que se recusaram a participar alegando não se sentirem confortáveis para falar sobre este assunto.

    Resultados: Os resultados encontrados mostraram uma média de idade dos pacientes entrevistados de 44,5 anos, variando de 30 até 65 anos, do mais jovem até o mais velho, respectivamente. No perfil de gênero, a amostra foi composta por 6 homens e 4 mulheres, todos se identificando como brancos. Sobre aspectos de imunização, todos se vacinaram contra a covid-19. Sobre a estrutura de saúde acessada para o diagnóstico e tratamento do covid, apenas um dos casos foi atendido exclusivamente por convênio particular, 2 atendidos somente pelo SUS e 7 foram atendidos de forma mista, ou seja, parte pelo convênio e parte pelo SUS, sendo que, deste último, os tratamentos ou intervenções mais caras e complexas, como exames de imagem (tomografia computadorizada) ou intubação, por exemplo, foram todos realizados pelo SUS.

    Os sintomas prolongados, relatados pelos entrevistados, incluíram fadiga, falta de ar, dor no peito, confusão mental, entre outros. Além disso, a covid longa tem apresentado implicações sociais e psicológicas significativas, por vezes maiores que os efeitos físicos principalmente nas pessoas que não contaram com a mesma rede de apoio, como um emprego com registro Consolidação das Leis Trabalhistas (CLT) que permitisse a manutenção de uma renda mínima, ou ainda um plano de saúde que permitisse acesso a profissionais especialistas de saúde como fisioterapeutas, pneumologistas, cardiologistas, a fim de atingirem a plena recuperação desses efeitos deletérios. Além disso, a estrutura para garantir acesso à renda, foi outra questão e que precisa ser analisada, as pessoas atingidas antes da vacina apresentaram maiores sequelas, e prejuízos na recuperação e retorno às atividades laborais que exerciam anteriormente, como uma simples caminhada. Um dos entrevistados relatou que teve dois colegas que vieram a falecer em decorrência da covid em 2021, por terem continuado nos serviços essenciais, e ele ficou mais de dois meses internado e ainda não conseguiu voltar ao trabalho em decorrência de problemas de mobilidade, em razão do tempo acamado. As pessoas aposentadas não sentiram efeitos de redução de renda, com exceção daquelas que exerciam atividades que complementavam seus ganhos.

    Considerações finais: Outro aspecto importante percebido ao longo da prospecção de participantes e mesmo durante as entrevistas foi uma certa dificuldade das pessoas em falar sobre a pandemia e os desafio enfrentados, possivelmente como uma forma de evitar reviver sensações, perdas físicas, econômicas, sentimentais e psicológicas que esse grupo experimentou e ainda sofre em decorrência da doença. Assim, conclui-se que a síndrome da covid longa causou além de problemas de saúde física, também perceptíveis alterações negativas do ponto de vista psicológico, sociológico, financeiro e que requer maior atenção dos profissionais da saúde para encaminhar para tratamentos adequados às condições e necessidades desses pacientes, mostrando a falta de setores/serviços apropriados para dar conta das sequelas de covid longa. Bem como, falta instrumentalização e capacitação para tais demandas nos serviços existentes, o que não houve em razão da não aprovação dos planos de saúde ou da não disponibilidade dentro dos serviços do SUS, que encerraram as clínicas para casos pós Covid.

     

  • Keywords
  • COVID longa, Tratamento COVID-19, Impactos Sociais, Saúde Pública, Itinerário terapêutico
  • Subject Area
  • EIXO 2 – Trabalho
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