A saúde materno-infantil é essencial no contexto da saúde pública, principalmente no cuidado durante a gravidez e pós-parto. Na perspectiva de proporcionar atendimento de qualidade e diminuir os agravos de saúde, essa população permanece como prioridade na implementação de políticas de assistência materno infantil. Sabe-se que o período gestacional provoca grandes modificações fisiológicas e metabólicas no organismo materno, as quais podem influenciar nos hábitos alimentares e no estado nutricional da gestante. O adequado ganho de peso materno é fundamental para a prevenção de desfechos gestacionais negativos, tanto para garantir as necessidades energéticas da mãe quanto para o adequado crescimento e desenvolvimento fetal. Considerando que a saúde do recém nascido é influenciada por uma variedade de fatores e que o período do pré-natal é o momento ideal para orientar as gestantes sobre os hábitos alimentares como medida preventiva, as estratégias de educação e promoção de saúde com grupos de gestantes são espaços que possibilitam e auxiliam a obter essas orientações e trocas de experiências durante o período gestacional. Além disso, a educação alimentar e nutricional propõe-se a desenvolver a autonomia diante de hábitos alimentares saudáveis, fazendo o uso de recursos e abordagens educacionais ativas e problematizadoras. Nesta premissa, a Educação Alimentar e Nutricional (EAN) apresenta-se como uma das estratégias fundamentais no processo de cuidado para o público materno-infantil e foi pautada através dos documentos norteadores, tais como o Marco de Referência de Educação Alimentar e Nutricional para Políticas Públicas. O presente estudo, portanto, teve como objetivo relatar as ações sobre as temáticas de alimentação e nutrição, a partir da organização de um grupo terapêutico de gestantes em uma estratégia de saúde da família no município de Uruguaiana/RS. Trata-se de um estudo com abordagem qualitativa, do tipo relato de experiência. O relatório situacional do território é uma ferramenta importante para conhecimento da realidade do espaço de saúde. Através desse instrumento foi realizado o levantamento das demandas onde a Estratégia Saúde da Família está inserida e após esse período de observação/diagnóstico foi possível analisar a necessidade de implementação do Grupo Terapêutico de Gestantes. Todas as gestantes do território foram convidadas a participar. Os encontros foram conduzidos pelos dois residentes, das áreas profissionais de Nutrição e Educação Física vinculados ao programa de residência em saúde coletiva da Universidade Federal do Pampa - Unipampa, sob a supervisão da enfermeira coordenadora da unidade. Os encontros do grupo aconteceram uma vez ao mês na Estratégia Saúde da Família, do período de março de 2023 a janeiro de 2024 e a cada encontro foram abordadas diferentes temáticas sobre alimentação e nutrição relacionados ao período gestacional. Ainda, ocorreu o levantamento do conhecimento prévio das gestantes, e posteriormente uma breve explanação do conteúdo pelos residentes em saúde coletiva utilizando metodologias ativas da educação, como jogos, folders sobre alimentação e materiais didáticos sobre aleitamento materno. Participaram do grupo em média 6 a 8 gestantes com idade entre 14 a 35 anos. Desde o primeiro encontro foi possível perceber que a maioria das participantes apresentavam dúvidas sobre o consumo de alimentos apropriados, ganho de peso adequado na gestação e aleitamento materno. Deste modo, durante os primeiros encontros foram realizadas orientações sobre as necessidades nutricionais no período gestacional, os dez passos para ter uma alimentação adequada e saudável, qual o peso adequado durante a gestação, assim como prática da atividade física e consumo hídrico. No decorrer dos encontros priorizou-se estimular a autonomia para práticas alimentares saudáveis, valorizando e respeitando as especificidades culturais e regionais. Já sobre o aleitamento materno foram realizadas atividades para incentivar a prática, fazendo com que as gestantes entendessem as composições do leite materno e a importância dessa prática exclusiva até o sexto mês, assim como os benefícios para a saúde da mãe e do bebê. Além disso, foram realizados encontros com dinâmicas participativas, como “mitos e verdades na gestação” e “bingo das gestantes”, nos quais foram abordados todos os temas trabalhados anteriormente a fim de reforçar as informações. Um dos desafios que compete às dinâmicas é a tentativa de incluir nas ações desenvolvidas os companheiros e/ou companheiras das futuras mães, uma vez que também é trabalhado a perspectiva de que a responsabilidade sobre o recém nascido não é uma demanda somente da gestante, mas sim do núcleo familiar. As gestantes se mostraram participativas e interessadas acerca dos conteúdos abordados. Percebeu-se o grupo como um espaço favorável para as gestantes compartilharem conhecimentos e experiências dentro dos vários aspectos da vida, como por exemplo, experiências vivenciadas em gestações anteriores. A partir dos relatos no decorrer dos encontros as gestantes demonstraram perceber a necessidade de melhorar os hábitos alimentares, contribuindo para melhores condições de saúde na gestação e no crescimento e desenvolvimento do feto. Para além das vivências oferecidas a esta comunidade, pode-se também perceber nas gestantes o desafio de formar o sentimento de pertencimento ao grupo, o qual tem como objetivo a sociabilidade, sendo uma importante possibilidade de apoio terapêutico nesta etapa importante da gestação/maternidade. Desta forma, entende-se que as gestantes percebem a necessidade e anseiam melhorar os hábitos alimentares, e ao mesmo tempo acabam sendo multiplicadoras do conhecimento com seus familiares, pois, ao trocarem vivências e informações, geram poderosas fontes transformadoras de suas limitações e necessidades, adquirindo domínio sobre seu corpo e poder de decisão sobre sua gravidez. Acredita-se que o desenvolvimento das ações na Atenção Primária à Saúde parte de técnicas educativas que possam intervir no processo de saúde-doença da população. Neste entendimento, a alimentação e a nutrição fazem parte das condições básicas para a promoção e proteção à saúde no contexto da Saúde Pública, sendo que as estratégias de Educação Alimentar e Nutricional representam papel fundamental na ESF, que surge para reorganizar a rede de atenção a fim de aproximar o trabalho educativo na comunidade, ampliando o seu campo de intervenções. Considerando que a educação permanente é também importante para os/as profissionais da saúde e principalmente para os/as residentes inseridos nesta unidade e que toda a prática realizada capacitará esses futuros especialistas em saúde coletiva, pode-se perceber a evolução da prática profissional de cada ator inserido no contexto da promoção de saúde para as gestantes.