APRESENTAÇÃO:
A relação entre preconceito, discriminação e violência é complexa e interconectada. O preconceito, o qual é uma forma de julgamento prévio que se manifesta através de estereótipos, generalizações e hostilidade em relação a certos grupos sociais, muitas vezes serve como base para a discriminação, que é o tratamento injusto e desigual direcionado a indivíduos ou grupos com base em suas características percebidas.
A discriminação, por sua vez, pode levar à violência, seja ela física, verbal ou psicológica. Quando indivíduos ou grupos são alvo de discriminação persistente e sistemática, isso pode resultar em marginalização, exclusão social e até mesmo em violência. Por exemplo, ataques racistas, agressões homofóbicas e bullying escolar são formas de violência que muitas vezes têm suas raízes no preconceito e na discriminação.
A violência também pode ser direta ou simbólica. A violência simbólica é a ação ou o comportamento que causa dano psicológico a outra pessoa, sem necessariamente causar dano físico. Por exemplo, a violência simbólica pode incluir palavras ofensivas, sinais ou gestos ofensivos, e pode levar a preconceito e discriminação.
A saúde mental de crianças e adolescentes é profundamente influenciada por sua interação com o ambiente social. Nesse sentido, a discriminação, o preconceito e a violência representam ameaças significativas a esse bem-estar. Esses fenômenos podem deixar marcas profundas nos jovens, causando uma série de impactos negativos em seu desenvolvimento emocional, social e psicológico. Embora a literatura seja extensiva no que tange aos impactos da violência no desenvolvimento infantojuvenil, a violência atrelada ao preconceito e discriminação ainda não é tão abordada na área da saúde mental.
É importante reconhecer que o preconceito, a discriminação e a violência não são fenômenos isolados, mas sim interligados em um ciclo de opressão e injustiça. Combatê-los requer uma abordagem multifacetada que inclua a conscientização, a educação, a promoção da igualdade e a defesa dos direitos humanos. Dessa forma, o presente estudo surge - como um recorte de discussões realizadas no GrUBRNA (Grupo de Pesquisa e Intervenção à Juventude e Coletivos Periurbanos), grupo interinstitucional da Universidade Franciscana (UFN) e Universidade Federal de Santa Maria (UFSM) - com o objetivo do presente estudo é analisar o que a literatura disserta acerca dos efeitos do preconceito, discriminação e violência na saúde mental de crianças e adolescentes.
DESENVOLVIMENTO DO TRABALHO:
Foi realizada uma breve revisão narrativa da literatura a partir da organização de uma pergunta claramente definida por meio do método PICO. A pergunta de pesquisa selecionada é “como o preconceito, a discriminação e a violência impactam a saúde mental de crianças e adolescentes?”, na qual a população definida (P) é crianças e adolescentes, a intervenção (I) é preconceito, discriminação e violência, e os resultados (O) são os efeitos na saúde mental. Não foram utilizadas comparações (C).
Utilizou-se de poucos critérios de inclusão a fim de garantir uma visão mais ampla do assunto. Entre os critérios elencados, ditam-se: acesso digital, completo e gratuito nas línguas portuguesa, inglesa e espanhola, sem restrição quanto ao ano de publicação. As principais bases de dados acessadas foram a Scielo, PubMed e BVS. A partir disso, a estratégia de busca incorporou termos-chave relacionados ao tema, como "preconceito", "discriminação", "violência" e "saúde mental", juntamente com especificações etárias para focar na população de interesse.
RESULTADOS:
Os estudos analisados apontam algumas principais formas de discriminação que afetam a saúde mental de crianças e adolescentes. Entre elas, estão a discriminação por raça, sexualidade e gênero, e socioeconômica. Essas discriminações, influenciadas por preconceitos do senso comum, geram diferentes violências, como o bullying e cyberbullying.
Nesse caso, a exposição à discriminação pode levar a um aumento do estresse e da ansiedade, pois os jovens enfrentam o constante temor de serem alvos de tratamento injusto com base em características como raça, etnia ou orientação sexual. Além disso, a discriminação e o preconceito podem minar a autoestima e a identidade dos jovens, levando a uma diminuição da confiança em si mesmos e em seu lugar no mundo. Eles podem internalizar mensagens negativas sobre sua própria valia, o que pode resultar em uma visão distorcida de si mesmos e de seu valor pessoal. Isso, por sua vez, pode contribuir para o desenvolvimento de problemas de saúde mental, como depressão e ansiedade, que podem persistir ao longo da vida se não forem tratados adequadamente.
Diante de situações persistentes de preconceito e violências, há uma tendência da criança ou adolescente para o isolamento, de forma a limitar a vida social e dificultar a manutenção de uma rotina adaptativa. Além disso, o medo de novas violências também limita o envolvimento e inclusão do jovem em contextos educacionais, ocasionando, por vezes, o abandono da escola. Assim, a discriminação e o estigma representam violações da dignidade humana, pois desconsideram o processo de formação individual da identidade, que requer respeito ao indivíduo e ao seu desenvolvimento. O estigma degrada a pessoa e a priva de sua dignidade, reduzindo suas oportunidades de vida e agravando a vulnerabilidade de indivíduos e grupos, o que tem um impacto direto em suas condições de saúde.
Por sua vez, a violência, seja física, verbal ou psicológica, representa outra ameaça significativa à saúde mental dos jovens. A exposição a situações de violência pode causar trauma psicológico, levando a sintomas como flashbacks, pesadelos e ansiedade crônica. Além disso, a violência pode gerar sentimentos de desamparo e desesperança, aumentando o risco de pensamentos suicidas e tentativas de suicídio entre os jovens. A violência escolar, por exemplo, pode aumentar a vulnerabilidade para problemas de saúde mental em crianças e adolescentes.
Em especial, a maioria dos estudos analisados apontaram para uma prevalência das experiências de discriminação e violência nas escolas. Isso pode ser porque a escola surge como um dos principais meios sociais vivenciados na infância e adolescência. A partir disso, se mostra necessário um maior envolvimento da equipe escolar e, principalmente, de psicólogos escolares, na ampliação de medidas anti-preconceito e na ampliação do pertencimento social do estudante - de forma a garantir respeito às diversidades culturais. Assim, diante da vitimização de práticas estigmatizantes e discriminatórias, a criança ou adolescente possa encontrar no ambiente escolar o suporte adequado para sua proteção.
CONSIDERAÇÕES FINAIS:
Considerando as análises realizadas, é evidente que a discriminação e a violência têm impactos substanciais na saúde mental e no bem-estar de crianças e adolescentes. A diversidade de formas de discriminação resultam em violências, ampliando a vulnerabilidade desses grupos. O medo constante de ser alvo de tratamento injusto, combinado com o impacto negativo na autoestima e na identidade pessoal, contribui para o aumento do estresse e da ansiedade entre os jovens.
Além disso, a violência representa uma ameaça adicional à saúde mental dos jovens, podendo causar traumas duradouros e aumentar o risco de comportamentos suicidas. O ambiente escolar emerge como um contexto crucial para enfrentar esses desafios, dada sua centralidade na vida dos jovens.
É imperativo que as escolas adotem medidas eficazes para combater a discriminação e promover um ambiente seguro e inclusivo para todos os estudantes. O envolvimento ativo da equipe escolar, em particular dos psicólogos escolares, é essencial para implementar políticas e promover o respeito à diversidade. Ao oferecer um suporte adequado e promover o pertencimento social dos estudantes, as escolas podem desempenhar um papel fundamental na proteção da saúde mental e no bem-estar emocional das crianças e dos adolescentes.