O presente relato descreve a experiência do grupo de pesquisa do Programa de Pós Graduação em Enfermagem (PPGENF) da UFPEL, voltado à linha de pesquisa em saúde mental e coletiva. Em 2017, em colaboração com a prefeitura municipal de Pelotas, foi estabelecido o Grupo terapeutico de ouvidores de vozes, destinado aos usuários do Centro de Atendimento Psicossocial (CAPS) do bairro Fragata, que vivenciam o fenômeno da audição de vozes. Atualmente composto por sete membros, o grupo tem como objetivo geral compreender essa experiência a partir das caracteristicas e conteúdo das vozes, bem como, das estratégias de enfrentamento empregadas. Esta iniciativa faz parte de uma pesquisa qualitativa de cunho exploratório, com analise de conteúdo. A audição de vozes é uma vicência singular, cujo compartilhamento pode fomentar uma melhor compreensão do fenômeno e facilitar o desenvolvimento às estratégias de enfrentamento. O grupo propricia a troca de experiências entre os ouvidores e a aprendizagem de mecanismos de enfrentamento, destacando-se as dificuldades enfretadas quando as vozes de comando, que insistem em direcionar o ouvinte a ações prejudiciais a si ou a outros. Para embasar esse projeto, recorre-se ao referencial teórico de Franco Basagliae à mudança de paradigmas em saúde mental derivado de seu legado no movimento de desinstitucionalização na Itália, somando-se aos estudos de Marius Romme e Sandra Fischer, que exploraram a natureza e o significado das experiências de ouvir vozes. O projeto também se integra ao Intervoice, um movimento internacional que busca uma abordagem alternativa e humanizada para compreender essas experiências. desafiando a visão tradiconal que as associa exclusivamente à doenças mentais. No grupo de ouvidores do CAPS Fragata, busca-se romper com o isolamento e o sofrimento silenciado, promovendo um ambiente de escuta sensivel e acolhimento embasado na empatia. Os resultados obtidos incluem o aumento do autoconhecimento, empoderamento e resgate da autoestima dos participantes, além da promoção de uma visão mais natural da experiência de ouvir vozes e do desenvolvimento de estratégias de manejo e mudança de relação com essas vozes. As estratégias adotadas pelos ouvidores revelam uma resistência ao modelo biomédico de saúde mental, evidenciando a necessidade de ampliação dos espaços de escuta dentro dos serviços de saúdee de consideração da singularidade de cada experiência. Conclui-se, portanto, que é essencial oferecer na saúde pública, espaços de confiança e acolhimento para que os usuários possam falar sobre suas experiências com as vozes, buscando compreendê-las e encontrar caminhos de recuperação alternativos.