Apresentação: O programa de extensão intitulado como “Ações de cuidados psicossociais para estudantes: educação em saúde mental e respeito às diversidades” surgiu como uma iniciativa da Universidade Federal da Fronteira Sul (UFFS), campus Passo Fundo - RS, para promover a integração e o desenvolvimento psicossocial dos estudantes de medicina e compartilhar com a comunidade aprendizados relevantes na temática dos dois eixos de atuação dos projetos, sendo o primeiro relacionado à promoção saúde mental e o segundo voltado à discussão de questões étnico-raciais e ações afirmativas. Atualmente, as atividades de extensão concentram sua atuação em ações de educação popular em saúde devido a necessidade de suprir as demandas das escolas do município. Sabe-se que a educação popular em saúde é um processo de emancipação e construção de saberes que possibilitam aos indivíduos, principalmente nas fases iniciais da vida, maior autonomia sobre o próprio bem-estar psicossocial e adesão às práticas que proporcionam maior qualidade de vida, prerrogativas que são base dos princípio do Sistema Único de Saúde (SUS). Nesse sentido, por meio dessas atividades foram realizadas: oficina sobre como lidar com emoções com crianças, duas oficinas sobre saúde e sexualidade com adolescentes, duas oficinas sobre uso e abuso de drogas, duas oficinas sobre saúde mental e enfrentamento ao racismo, além de duas oficinas de orientação profissional e acesso ao ensino superior via ações afirmativas com o último ano do ensino médio, nas escolas parceiras do programa. Essas oficinas aconteceram ao longo do ano de 2023 em quatro escolas do município, buscando integrar as políticas públicas de educação e saúde. O público beneficiário das ações desse projeto de extensão foram os(as) estudantes de Ensino Fundamental, Ensino Médio , objetivando ampliar as relações da universidade com a comunidade. Visto que Passo Fundo conta com uma cobertura de apenas 30% da atenção primária em saúde, sendo predominante uma lógica de investimento na alta complexidade, sugere-se a necessidade de viabilizar ações externas, como as de extensão, para alcançar esses âmbitos, por vezes, desassistidos de promoção e prevenção em saúde. Desenvolvimento: Considerando que o bem-estar psicossocial impacta na saúde dos indivíduos, entre as atividades do projeto, o evento "Educação Antirracista" foi desenvolvido com as crianças do 2º e 3º ano, no qual foi realizada a leitura do livro "Negrinha, Sim!" de Renato Gama, seguida de uma discussão em que as crianças puderam compartilhar suas interpretações da história. Em seguida, abriu-se espaço para que eles compartilhassem suas vivências, resultando em uma troca de experiências significativas. Com os alunos do 4º e 5º ano, utilizou-se as cartas “Vamos falar de racismo” de Alexandra Loras e Mauricio Oliveira. As 100 perguntas contidas nas cartas forneceram uma ferramenta para discutir o racismo e promover a conscientização entre as crianças durante a atividade. Em uma outra escola parceira, ainda com os alunos mais novos, do 1° ao 3° anos, utilizamos o filme da Disney “Divertidamente” para elaborar a atividade "Como estou me sentindo?", onde apresentado às diversas emoções existentes a fim de auxiliá-los a entenderem e lidarem com os seus sentimentos. Com os alunos do 4º ao 6º ano, foi realizada uma roda de conversa abordando tópicos como sexualidade, gênero, prevenção de violência física, gravidez indesejada e infecções sexualmente transmissíveis (IST’s), com o objetivo de desmistificar tabus associados. Foi realizado, também, o evento “Oficina de saúde e sexualidade", atividade que foi desenvolvida com alunos do sexto ao nono ano, a partir de dinâmicas lúdicas-interativas, abordou-se questões como preconceitos, racismo e sexismos, de forma a explicar o poder que algumas palavras têm de ofender, bem como abordar temas tão atuais de maneira interativa e educativa. Além disso, foi aberto um espaço para que os alunos escrevessem suas dúvidas quanto ao tema drogas e sexualidade, de forma anônima para que se sentissem mais confortáveis. Os acadêmicos sanaram os questionamentos acerca de IST’s e uso de preservativos, os efeitos das drogas como álcool, tabaco, maconha, dentre outras, tanto no âmbito da saúde física como o impacto no cotidiano familiar. Com os alunos do Ensino Médio, foi trabalhado o tema “Orientação Profissional” a partir de slides guia, dinâmica integrativa e roda de conversa. Para a realização dessa atividade, foi proposto que os alunos refletissem sobre o que é ter sucesso e quais critérios devem ser levados em consideração na escolha de uma profissão, com o objetivo de levá-los a questionarem seus próprios valores. Foi possível auxiliar os alunos a compartilhar conhecimentos sobre acesso no Ensino Superior e mercado de trabalho, ações afirmativas e integração com a possibilidade de cursinhos populares, como o Projeto de extensão parceiro, Pré-Pop Enem, que também acontece na instituição. Além disso, mostramos os principais recursos de inserção no curso superior (SISU, PROUNI) e como é possível se manter durante a graduação (bolsas e auxílios). Resultados: Em geral, cria-se uma grande expectativa a respeito das ações desenvolvidas neste programa. Cada atividade é pensada e elaborada visando o melhor para as escolas que demandam oficinas ou palestras. Contudo, o grupo extensionista considera importante abordagens mais interativas e lúdicas com maior alcance de educação popular participativa pelas crianças e adolescentes, por isso optamos pelas modalidades de oficinas descritas. Quase sempre, no entanto, as atividades iniciam de forma pouco participativa, e aos poucos vai sendo desenvolvido um sentimento de confiança e liberdade dos alunos das escolas para com os ministrantes das oficinas, extensionista universitários do curso de medicina em diferentes níveis de formação. Considerações finais: O impacto desse programa de extensão ainda está localizado em poucas escolas do município, porque realiza-se um levantamento das demandas de cada território, mas acredita-se na relevância das oficinas, em que ao mesmo se estabelece na possibilidade dessas crianças e adolescentes, além de assimiladoras das reflexões sobre saúde mental e respeito às diversidades, serem propagadoras de perspectivas sociais capazes de inibir posturas discriminatórias, negligentes e indiferentes no cuidado de si e com o outro. Construindo um arcabouço que leva a emancipação de pensamentos e atitudes saudáveis e protetivas na escola, sendo esse, portanto, o principal motivo que explicita a importância da permanência desses projetos no ambiente escolar, como forma de disseminação nas famílias e comunidade. Além disso, cabe ressaltar a relevância dessas atividades de extensão para uma formação médica que vise a integralidade e a humanização, percebendo o cuidado como circular e complexo. Nesse sentido, faz-se necessário maior investimento na atenção primária de saúde, para integração com as escolas nos territórios, continuidade de programas como estes e identificação das demandas territoriais de cada núcleo escolar para o desenvolvimento de ações de educação popular em saúde. Esse Programa de extensão pretende dar continuidade às ações de promoção e prevenção em saúde mental, através de ações integradas de cuidado para um número maior de estudantes, dependendo, assim, das parcerias estabelecidas, investimento nas bolsas de extensão e na atuação de universitários/as voluntários/as e implicados/as.