Apresentação: A violência comunitária é definida como um fenômeno que envolve uma dimensão interpessoal entre duas ou mais pessoas que se conhecem ou não, fora do ambiente doméstico. Tem sido documentada na literatura, a exposição de profissionais de saúde que atuam na Saúde da Família, a situações constantes de violências nos territórios. Este trabalho faz parte do escopo de produções do projeto de pesquisa "Saúde com Agente", uma parceria entre o Ministério da Saúde, o Conselho Nacional de Secretarias da Saúde (Conasems) e a Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS). Os Agentes Comunitários de Saúde (ACS) e Agentes de Endemias (ACE) que fizeram a formação técnica ofertada nacionalmente, participaram das entrevistas de pesquisa. O estudo tem como objetivo identificar, no cotidiano de trabalho dos ACS e ACE, relatos de violência nos territórios onde atuam.
Desenvolvimento: Para este estudo, foi realizado uma pesquisa de abordagem qualitativa, com base em entrevistas com 110 ACS e ACE (presenciais e online) de cinco regiões do Brasil: Nordeste (30,8%), Sul (26%), Sudeste (19,2%), Norte (16,3%) e Centro-Oeste (7,7%). Os resultados apresentados foram compilados a partir das transcrições das entrevistas, que estão em andamento.
Resultados: A violência urbana é uma realidade presente no cotidiano de trabalho dos ACS e ACE, principalmente em áreas com históricos de conflitos relacionados ao tráfico de drogas. Os relatos de violência se dividem em: situações vivenciadas pelos próprios profissionais, e em menor número, mas com impacto significativo na percepção de segurança no trabalho. Histórias de terceiros: a maioria dos relatos se refere a eventos vivenciados por colegas ou ocorridos no passado. A violência não é vista como algo extraordinário, mas sim como um desafio a ser superado no dia a dia. Os profissionais desenvolvem estratégias para lidar com a violência, como: Neutralidade: buscar não se envolver em conflitos e manter uma postura imparcial. Vigilância: estar atento ao entorno e tomar medidas de segurança durante as visitas domiciliares. Diálogo: estabelecer relações de confiança com a comunidade e buscar soluções pacíficas para os conflitos. Apoio da equipe: buscar suporte de colegas e supervisores em situações de risco. A pesquisa demonstrou ainda, que a violência, acaba sendo naturalizada dentro dos territórios, estando presente no cotidiano de trabalho das equipes de saúde que nele atuam. Os ACS e ACE tornam-se um elo entre o serviço de saúde e a comunidade, na qual trabalham e residem, tendo acesso aos usuários que residem nos locais com maior índice de violência.
Considerações finais: A violência nos territórios afeta diretamente o trabalho das equipes de saúde, em especial dos ACS e ACE. Os profissionais têm contato direto com o território, exigindo estratégias de enfrentamento e adaptação à realidade local. É fundamental que os gestores da saúde pública ofereçam suporte e treinamento aos profissionais para lidar com situações de violência, garantindo sua segurança e bem-estar no trabalho. A pesquisa contribui para a compreensão das vivências dos ACS e ACE em contextos de violência, subsidiando políticas públicas e ações de apoio à categoria.