Introdução
A saúde é um dos pilares fundamentais para o bem-estar humano. Nesse sentido, a educação em saúde desempenha um papel crucial para a promoção de hábitos saudáveis e na prevenção de doenças. Através da educação em saúde, consegue-se que indivíduos tenham autonomia, podendo adquirir conhecimentos e habilidades que lhes permitem tomar decisões sobre sua própria saúde e adotar comportamentos saudáveis em seus cotidianos. Um dos principais objetivos da educação em saúde é capacitar as pessoas a assumirem um papel ativo e ter autonomia em sua própria saúde. Isso é alcançado fornecendo informações baseadas em evidências sobre questões de saúde relevantes, incentivando a higiene pessoal, alimentação saudável, a prática de exercícios físicos e promovendo uma compreensão mais profunda dos fatores que influenciam a saúde, como o ambiente social, econômico e cultural.
A humanização pode ser entendida como um princípio fundamental que considera a totalidade da experiência humana, abrangendo aspectos sociais, éticos, educacionais e psicológicos presentes em cada indivíduo e, por extensão, nas interações entre pessoas. No entanto, há áreas que carecem desse princípio, especialmente no cuidado humano em ambientes ambulatoriais, onde a capacidade de humanizar é fundamental. Isso requer uma comunicação eficaz e escuta ativa, visando não apenas a transmissão de informações, mas também o entendimento mútuo e a definição de objetivos compartilhados para promover o bem-estar de todos os envolvidos. Nesse cenário, a Política Nacional de Humanização (PNH) tem o foco sobre a superação de problemas e desafios na área da saúde, por meio de uma perspectiva humanizada na relação entre a prática profissional de gestores, usuários e profissionais de saúde.
A falta de adesão dos pacientes ao tratamento médico e/ou mudança de hábitos de vida é um problema comum, influenciado por diversos fatores, incluindo a falta de autonomia do indivíduo, a compreensão limitada de sua condição de saúde e a ausência de estratégias educativas adequadas por parte da equipe de saúde. A falta de empatia e humanização no atendimento pode minar a autonomia do paciente, impondo metas inatingíveis e desmotivando-o a seguir o tratamento.
Com isso, objetivou-se relatar a experiência relacionada à implementação de um atendimento humanizado em um ambulatório de saúde de forma multidisciplinar em uma Unidade de Atenção Primária em uma cidade na região central do Rio Grande do Sul.
Metodologia
Este trabalho é um relato de experiência vivenciada no estágio do Curso de Nutrição, na Atenção Primária em Saúde, localizado na região central do estado do Rio Grande do Sul, que ocorreu entre os meses de outubro a dezembro do ano de 2023.
Na unidade, os atendimentos eram agendados por meio de encaminhamentos de profissionais de diferentes áreas, pelo sistema da Estratégia Saúde da Família (ESF) ou pelo acolhimento direto, incluindo participação em eventos comunitários. Os pacientes eram colocados em uma lista de espera e contatados por telefone para marcar a consulta. Após isso, ocorria o atendimento clínico, onde o foco era a escuta ativa, trazendo um olhar humanizado e individualizado nas estratégias de educação em saúde, para solucionar problemas relatados.
Para superar essas dificuldades, foi essencial desenvolver um plano de ação. Optou-se por adotar uma abordagem empreendedora baseada na pesquisa-ação, composta por sete etapas distintas. Essas etapas incluem a identificação do problema, análise em equipe, revisão da literatura em busca de soluções, discussão coletiva para desenvolver estratégias, implementação das soluções propostas, avaliação da eficácia do processo e, por fim, a elaboração de um relatório final para compartilhar aprendizados e facilitar a replicação do processo por outras equipes. O objetivo é promover mudanças que sensibilizem os pacientes e torne o processo de educação em saúde mais eficaz, resultando em mudanças significativas em seu estilo de vida, e em consequência, na sua saúde e bem-estar.
Resultados
O nutricionista realiza constantemente a educação em saúde, já que suas orientações perpassam várias áreas na vida do indivíduo, como exercício físico, sono, rotina e alimentação. Sendo assim, foi necessário primeiro identificar e analisar os problemas apresentados pelos pacientes. Foram relatados problemas relacionados ao sono, sedentarismo, alimentação inadequada como: rica em ultraprocessados, baixa ingestão de frutas, verduras e legumes, alto consumo de sacarose e gorduras saturadas.
Diante desses desafios, a equipe prosseguiu para uma pesquisa na literatura em busca de soluções viáveis. O estudo concluiu que a implementação de cuidados humanizados, cujo objetivo central está pautado nas considerações individuais de cada um, englobando seu contexto social, cultural e econômico, em conjunto com a simplificação da linguagem técnica para a facilitação da compreensão de cada sujeito, é essencial para facilitar o processo de compreensão, assimilação e prática das orientações adquiridas.
Na fase de implementação, introduziu-se processos de humanização, como o acolhimento dos pacientes na sala de espera. Durante a consulta, houve interesse genuíno pela sua história, o que levou a equipe a estabelecer empatia, compaixão e gentileza. Além disso, a adoção de uma linguagem mais informal foi fundamental nesse processo de humanização, pois permitiu uma compreensão mais fácil das informações, transmitindo conforto e leveza durante o atendimento. Ao final das consultas, gestos simples como um abraço, um aperto de mãos e incentivo às novas dificuldades foram adotados de forma cordial, proporcionando uma sensação de acolhimento e pertencimento ao paciente. Essa abordagem fortaleceu significativamente o vínculo entre o usuário e o profissional de saúde.
Na realização da anamnese era perguntado não apenas o necessário, mas qual os sentimentos e emoções atuais, o que ele esperava do atendimento e preocupações com sua vida pessoal. Essa conversa ajudava a pessoa a se tornar mais aberta com o processo de educação em saúde, onde foi abordado como solucionar problemas e melhorar a qualidade de vida de cada indivíduo de uma forma didática e compreensível, com termos simplificados e que condizem com a realidade do ambiente.
Com a implementação dessas ações, foi relatado maior autonomia e adesão às orientações, embora algumas mudanças não tenham sido mantidas permanentemente devido ao curto intervalo de tempo entre as consultas, o que dificultou a consolidação dos novos hábitos. No entanto, aqueles que seguiram as orientações observaram melhorias significativas em seu hábito intestinal, sintomas de suas patologias e disposição física e mental.
Considerações finais
Conclui-se que adotar uma abordagem humanizada na educação em saúde, adaptando-a à realidade individual de cada pessoa, pode aumentar significativamente a adesão ao tratamento. Isso não apenas melhora a saúde dos indivíduos, mas também contribui para a redução dos custos no Sistema Único de Saúde.