Introdução: Transtornos mentais são manifestações que alteram o comportamento de uma pessoa, através de mudanças em seus pensamentos e emoções. Já o Letramento em Saúde (LS) é definido como habilidades cognitivas e sociais que determinam a motivação e a capacidade dos indivíduos de ter acesso a compreender e utilizar informações para promover e manter a boa saúde. Há evidências de associação entre fatores sociodemográficos, como escolaridade, sexo e raça como influenciadores nos níveis de LS. Pessoas não brancas apresentam maiores dificuldades financeiras, o que relaciona a baixa renda, fator também associado ao baixo LS. Em relação à escolaridade, estudos constatam que o baixo nível escolar também está associado. Esse estudo tem como objetivo analisar se as variáveis sociodemográficas sexo, raça e escolaridade influenciam no LS de pessoas com transtornos mentais graves. Metodologia: Estudo transversal realizado em um Centro de Atenção Psicossocial (CAPS) em um município do sul do Brasil entre abril e outubro de 2023. Foram incluídas pessoas com 18 anos ou mais com diagnóstico de transtorno mental grave registrado em prontuário, acompanhadas no serviço, em estado psíquico estável no momento da coleta. Foram excluídos os que possuíam simultaneamente diagnóstico de deficiência/retardo intelectual/mental registrado em prontuário e aqueles que possuíam interdição judicial. A abordagem se deu por meio das escalas D8 (capacidade de encontrar boas informações sobre saúde) e D9 (compreender bem as informações de saúde e saber o que fazer) do instrumento Health Literacy Questionnaire (HLQ), validado para uso no Brasil denominado como HLQ-Br. Os dados obtidos foram processados e analisados através do software SPSS® (Statistic Package for the Social Sciences, Chicago, IL, USA) versão 25 para Windows®. Resultados: Participaram do estudo 444 pessoas, com um número significativo de participantes do sexo feminino (75,9%), seguido de 23,9% identificando-se como do sexo masculino e 0,2% denominou-se não binário. Declararam-se da cor branca 76,6% das pessoas, o restante (23,4%) se identificam como amarelos, pardos e pretos. Relacionado à escolaridade dos questionados, a maioria (31,5%) estudou de 10 a 12 anos, 27,3% estudou até 4 anos, 28,2% estudou entre 5 e 9 anos e o restante (13,1%) estudou mais do que 12 anos. Ao comparar as escalas D8 e D9 com a variável sexo, não obtivemos diferença estatística. A cor da pele mostrou relevância sobre os escores médios alcançados nas dimensões D8 (p=0,013) e D9 (p=0,048). Pessoas que se declararam brancas concentraram escores médios significativamente mais elevados. Em relação à escolaridade, houve diferenças significativas observadas nos escores D8 (p<0,001) e D9 (p<0,001) para pessoas com escolaridade acima de 12 anos, que apresentaram escore médio significativamente superior, principalmente, em comparação ao grupo com instrução até 4 anos de estudo. Considerações Finais: Algumas variáveis sociodemográficas, como cor da pele e escolaridade, têm influência significativa nas dimensões estudadas do LS de pessoas com transtornos mentais. Essa constatação ressalta a necessidade de abordagens de intervenção qualificadas para além do acompanhamento individual no serviço de saúde, ou seja, que tenham consideração com os determinantes sociais que acompanham a trajetória do usuário.