Trata-se de um relato acerca da experiência de pesquisa de doutorado em um Serviço de Convivência e Fortalecimento de Vínculos para Pessoas Idosas no Município de Praia Grande – SP cujo objetivo é compreender, a partir do método etnográfico, as relações de cuidado desenvolvidas pelas usuárias e usuários a partir da convivência, especialmente nos grupos de práticas corporais. O serviço localiza-se em uma região periférica e vulnerabilizada se comparada aos bairros mais próximos a orla da praia. Conhecer os modos de vida e os significados que as pessoas idosas produzem sobre o cotidiano são elementos que norteiam este estudo, pois em etnografia o que se busca é justamente “fazer parte” e se inteirar da cultura local, construindo uma relação de confiança e confidencialidade entre pesquisador e participantes. Isso nos levou a refletir sobre o(s) lugar(es) que o pesquisador ocuparia no estudo e as implicações decorrentes de uma proximidade tão intrínseca com o campo e as pessoas pesquisadas por atuar há oito anos como profissional de Educação Física da instituição e residir no mesmo território. Essa multiplicidade de papéis – ora pesquisador, ora profissional, ora morador – levou, no início, a uma crise de identidade sobre qual lugar ocupar e as posturas a serem tomadas nos momentos mais adequados. Com o tempo percebeu-se que essa multiplicidade de papéis valorizava as reflexões e a pesquisa sobre o tema cuidado. Apesar de o contato com as pessoas se dar em distintos contextos, os vários papéis estão “amarrados” pelas relações de cuidado num dado território. As pessoas também assumem diferentes papéis neste enredo, pois participam da pesquisa por serem usuárias do serviço; são alunas do profissional nos grupos de práticas corporais e habitam a mesma comunidade, na qualidade de vizinhas, com possibilidades de interações além-muro do ambiente de trabalho e pesquisa. O estudo revela a complexidade dessas relações, gerando algumas indagações: O lócus da pesquisa é a instituição ou o território? Teriam essas pessoas maior liberdade para tratar sobre certos assuntos fora da instituição? O que as pessoas dizem fora do contexto de trabalho deveria ser considerado? A experiencia desta pesquisa nos mostrou que as relações de cuidado transcendem a prática profissional, toda e qualquer interação neste contexto são relevantes para a pesquisa. Por exemplo, quando na fila do mercado uma aluna veio relatar sobre sua cunhada, também aluna, estar passando por uma fase depressiva; na Unidade de Saúde do Bairro enquanto o pesquisador passava por atendimento e uma senhora veio justificar suas ausências; até mesmo em casa, quando um vizinho afastado da unidade passava pela rua e perguntou sobre os colegas que não via há algum tempo. Pesquisador, profissional ou vizinho? No contexto do estudo, esses são lugares indissociáveis das relações no território.