Apresentação: Esta pesquisa tem como objetivo discutir algumas experiências de violência que emergiram a partir da pesquisa de mestrado intitulada: “Experiências de sofrimento psíquico de mulheres nos contextos rurais”. As participantes da pesquisa foram 9 mulheres com experiências de sofrimento psíquico, em uso de psicotrópicos, residentes em contextos rurais de um município de pequeno porte da região sudeste do Paraná. A pesquisa teve aprovação do Comitê de Ética em Pesquisa da UNICENTRO, sob parecer nº 6.197.682, sendo que as entrevistas foram realizadas entre agosto e dezembro de 2023. Desenvolvimento: Durante a realização das entrevistas, as participantes relataram situações de violência vivenciadas, sendo algumas brevemente descritas: Relato 1): Participante com 38 anos de idade, faz uso de medicamentos psicofármacos desde os 13 anos, durante a entrevista relata que o início do uso das medicações se deu após abuso sexual sofrido pelo padrasto em âmbito familiar. Relato 2: Mulher de 47 anos, refere que embora trabalhe na lavoura e residência, quando deseja comprar algo que lhe seja importante, necessita trabalhar com “bicos”, pois o dinheiro advindo de seu trabalho é administrado apenas pelo marido. Relato 3: Participante atualmente com 30 anos, refere que embora esteja morando em outra residência, declare-se como separada, continua usando aliança “de casamento”, para sentir-se mais segura e respeitada por outros homens. Relato 4: Mulher de 38 anos, conta que se sente pressionada por familiares a exercer os trabalhos domésticos sozinha, além do trabalho na lavoura, pois os “homens da família”, entendem que atividades domésticas são “serviço de mulher”, resultando no cansaço e sobrecarga. Resultados: Estes quatro relatos evidenciam a experiência de múltiplas violências sofridas pelas mulheres residentes em contextos rurais. Importante ressaltar que se trata de uma população que vivencia a atuação interseccional de marcadores sociais como território, gênero, renda, escolaridade e classe, os quais podem atuar causando maior grau de exclusão, desigualdade e exposição a violências. Na posição de pesquisadora-trabalhadora, foi possível por meio da pesquisa intervenção proporcionar reflexões e encaminhamentos a fim de mobilizar o campo de intervenção, causando movimentos. Além disso, a pesquisa tem a possibilidade de mobilizar as atuações de modo a torná-las mais condizentes com a realidade e necessidades apresentadas. Considerações finais: Verifica-se a incidência de múltiplas formas de violências vivenciadas por mulheres em contextos rurais. Considerar a incidência dos marcadores sociais é indispensável para uma interpretação mais coerente do contexto, considerando as dificuldades que podem ser encontradas no que diz respeito a falta de acesso à informação, formas de denunciar, desigualdade de gênero, distância até serviços públicos, falta de acesso à renda e meios de transporte, entre diversos outros fatores.