Apresentação
Esse projeto de Iniciação Científica integra a pesquisa temática que pretende avaliar práticas de promoção da saúde e prevenção (às ISTs/HIV, à gravidez não-planejada, COVID-19 e saúde mental) baseadas em direitos humanos de adolescentes e jovens (A&J) estudantes do ensino médio de escolas públicas do Estado de São Paulo (Projeto Temático Fapesp 2017/25950-2). Entre as oito escolas da periferia participantes (localizadas em Sorocaba, Santos e no município de São Paulo) a que é o foco deste estudo é uma escola técnica (ETEC vinculada ao Centro Paula Souza) situada na região de Santo Amaro, Zona Sul de São Paulo. Nos encontros com os estudantes dessa escola matriculados no programa de Iniciação Científica do Ensino Médio (IC-EM que integram a pesquisa temática), temos observado dúvidas e lacunas não apenas em relação ao uso de insumos preventivos relacionados à saúde sexual e reprodutiva (como preservativos, anticoncepcionais, pílula do dia seguinte e profilaxia pós-exposição ao HIV/PEP) mas, especialmente, como acessar os serviços de saúde de maneira autônoma.
Assim, analisa-se os resultados em contraste com as Diretrizes Nacionais para a Atenção Integral à Saúde de Adolescente e de Jovens, que define uma atenção holística com abordagens sistêmicas das necessidades dessa população, mitigando qualquer tipo de barreira que impeça A&J de utilizarem o serviço de saúde. O pouco preparo dos profissionais para atender esse grupo etário tem sido descrito como uma das barreiras que dificultam a assistência prestada. Microviolências durante o atendimento, como estigmas em relação a A&J que utilizam o serviço de saúde especialmente para questões de saúde sexual e reprodutiva, fazem com que A&J se distanciem do serviço.
Dessa maneira, tem-se como objetivo descrever e apresentar as atividades realizadas no projeto de pesquisa entre novembro de 2022 até o presente momento, focando na compreensão da dinâmica de vulnerabilidade de adolescentes e jovens. O estudo, busca investigar as barreiras e facilitadores para o uso autônomo de serviços de saúde por parte dos estudantes. Descrever como os estudantes participantes do programa de IC-EM descrevem sua rota de acesso aos serviços de saúde sexual e reprodutiva; e também em como os estudantes participantes avaliam a operacionalização do atendimento prestado pelos profissionais, em especial seu direito à autonomia no acesso aos serviços de saúde, também entram como objetivos da pesquisa.
Desenvolvimento
Durante esse período, foram organizados e conduzidos encontros semanais, tanto online quanto presenciais, utilizando o formato de rodas de conversa para promover discussões colaborativas e estimular a produção de projetos para apresentação no Simpósio Internacional de Iniciação Científica da Universidade de São Paulo (SIICUSP). Também participei ativamente da orientação dos trabalhos dos alunos para as apresentações no SIICUSP, desde a elaboração dos projetos até a preparação das apresentações e banners.
Além disso, as atividades incluíram a seleção de novos membros para o programa, bem como a continuidade das ações do Braço Saúde do temático, que envolveram etnografia, entrevistas e outras atividades relacionadas à saúde coletiva na Umidade Básica de Saúde (UBS) referência da escola.
Ao longo desses anos, foram abordados diversos temas, desde questões éticas em pesquisa até discussões sobre ciência e desigualdades de acesso ao conhecimento científico para a formação de Iniciação Científica dos jovens. Foram promovidas oficinas de prevenção integral, sensibilizando os participantes sobre gravidez não planejada, HIV/IST, COVID-19 e práticas sexuais e preventivas, vinculadas ao temático.
O grupo de alunos IC-EM também realizou a apresentação na fase nacional e internacional do 31° SIICUSP, em que abordaram o tema “Desafios e Possibilidades para a Promoção de Saúde de Jovens no Ensino Médio; Vulnerabilidades às IST/HIV, Gravidez e Uso Abusivo de Álcool e Drogas”. Nessa pesquisa, acompanhei os jovens à UBS de referência da escola e também auxiliei em entrevistas que realizaram com profissionais de saúde, sendo eles farmacêuticos, Agente Comunitário de Saúde (ACS) e o psicólogo local.
Resultados Parciais
Nas entrevistas realizadas com os profissionais de saúde, nota-se a falta de preparo no atendimento de A&J, e falas estereotipadas ao fazer referência a eles. Quanto ao acesso autônomo, a maioria dos profissionais apresentaram conhecimento sobre, e também valorizavam a questão do sigilo. Também foi enfatizado que a maior procura de jovens à UBS é devido a questões de planejamento reprodutivo, em que a maioria dos que buscam por esses insumos são jovens do gênero feminino.
Nas entrevistas também apareceu a questão da busca psicológica na UBS por conta de sofrimento psicossocial. Comentam que essa questão vem crescendo bastante, principalmente após a pandemia, de modo que intensificou ainda mais determinadas questões de saúde mental, muitas vezes ligadas a questões de identidade de gênero. Percebe-se também que há uma fragilização em determinados grupos realizados pela UBS. Seria interessante uma reformulação desses grupos, tentando focar em uma população chave que possui as mesmas demandas.
Após a realização das entrevistas do SIICUSP e a participação nas oficinas de prevenção integral, as IC-EM fizeram a proposta de replicar partes da oficina: práticas sexuais e prevenção de HIV/Aids, ISTs e gravidez não-planejada nas relações vulva-vulva, vulva-pênis e pênis-pênis - com apresentação de insumos como camisinhas, PreP, PeP e testagem para HIV/AIDS. Essa réplica foi realizada na ETEC em que estudavam, em um evento chamado ETEC Portas Abertas, para os próprios alunos da escola, tendo uma boa adesão e ótimos comentários.
Considerações finais/preliminares
Questões relacionadas à saúde mental e as formas de discriminação e sofrimento ligadas a gênero e sexualidade ganham relevância especial e se apresentam como desafios ao trabalho de prevenção e atenção primária voltado a adolescentes e jovens. São situações comuns às observadas nos vários contextos em que a pesquisa mais ampla do Temático se desenvolve.
Nota-se que após a pandemia, muitas atividades na UBS e nas escolas, não só diretamente realizadas aos A&J mas também outras dentro da atenção primária, diminuíram a frequência de realização ou até mesmo chegaram a parar. É de extrema importância existir um vínculo entre a escola e a UBS, ainda mais para realizar projetos de educação em saúde direcionados aos A&J. Vale ressaltar que a comunicação entre esses dois serviços facilita o auxílio em relação a certos casos que demandam uma abordagem mais individual e com a assistência mais adequada.
Por fim, destaco que até o momento da pesquisa, a UBS mostra-se com grande abertura para a participação dos pesquisadores e da escola. Mesmo que o serviço não aparenta focar muito nos A&J, os profissionais, de acordo com as entrevistas e em outras conversas, demonstraram se importar com a saúde dessa população. Seria interessante a realização de atividades estruturadas com mais foco nessa população e uma capacitação de alguns dos profissionais, como no caso dos ACS, para uma melhor abordagem dos A&J.