O desenvolvimento de habilidades de comunicação na formação médica.

  • Author
  • Jaina Larissa Bastos Costa de Oliveira
  • Co-authors
  • Raphael Curioni Raia
  • Abstract
  • Tema: O presente relato de experiência está vinculado às atividades desenvolvidas em uma unidade curricular do curso de medicina de uma universidade da região serrana do Rio de Janeiro. As atividades realizadas na unidade curricular (UC), denominada de Habilidades Médicas, tem uma das suas ênfases a comunicação, esta encontra-se em acordo com a Diretriz Curricular de 2023 para esta graduação, sendo preconizada a formação generalista, ética, humanística, com compromisso social, destacando uma de suas competências gerais a comunicação. Reforçando a relevância da formação e atuação médica, dialogar com as nuances de atendimento ao paciente, às famílias, às equipes multiprofissionais e às coletividades. Vale destacar que durante a formação médica são discutidas questões presente na Constituição Federal de 1988, enfatizando a saúde enquanto direito de todos, reforçando a importância do compromisso ético, técnico e social desse profissional ao realizar o cuidado, voltado para os indivíduos e coletividade Na UC são utilizadas metodologias ativas potencializando o estudante como autônomo e proativo no seu processo educacional, sendo abordados os temas de empatia, relação médico-paciente, comunicação em geral, comunicação de más notícias, cuidados paliativos e educação em saúde, transversalizados por outras questões relacionadas ao processo de saúde, doenças e cuidado.  Utilizam-se jogos, dinâmicas de comunicação, filmes, vídeos, discussão de casos, mapa conceitual, roteirização de ações e práticas participativas. Objetivo: O objetivo da UC é desenvolver habilidades de comunicação, para que o graduando possa compreender, analisar e executar a comunicação contextualizada em cada cenário e campo situacional. Método: Durante os encontros são utilizadas metodologias ativas, com questões disparadoras de comunicação, envolvendo o processo de saúde doença, nos quais os estudantes são estimulados a realizarem práticas dentro das temáticas relatadas anteriormente. Justificativa: As transformações históricas nas Diretrizes para a graduação de medicina a partir de 2001 ratificam a importância da formação técnica, mas também humanística, assim, a comunicação se coloca como elemento transversal dessa formação e atuação médicas. As mudanças nas Diretrizes corroboram a vivência sensível às demandas sociais de saúde no âmbito individual e coletivo. Sendo a relação médico-paciente, a escuta ativa, o acolhimento, o entendimento de esferas afetivas do adoecimento, atenção à terminalidade da vida, baseadas na troca de saberes e participação dialógica elementos fundamentais para a atuação do profissional da saúde. Vale destacar que a UC, na esfera da comunicação, é oferecida por psicólogas, potencializando o diálogo multiprofissional, essencial para a formação e com o potencial de ampliar a perspectiva do cuidado. Resultados: Os estudantes relatam através de feedbacks ao longo dos semestres, atitudes e avaliação institucional que aumentaram sua sensibilidade com relação aos aspectos da comunicação, da relação com o paciente, das famílias e da sociedade, valorizando os diversos saberes que compõe a educação em saúde, além de desenvolver um exercício cognitivo sobre comunicação de más notícias através do protocolo SPIKES (acrônimo em inglês das palavras setting up, perception, invitation, knowledge, emotions e strategy and summary - respectivamente em português: preparando o cenário, percebendo o paciente, obtendo o convite do paciente, dando conhecimento e informação ao paciente, atenção às reações emocionais do paciente e definindo uma estratégia/resumindo), ficando mais atentos às reações dos pacientes e possíveis necessidades destes, além de compreender que cada caso se configura de certa especificidade, dando feedback sobre a importância do cuidado personalizado. Em momentos pontuais é possível notar certas resistências de alguns estudantes, por conta do conteúdo ser apresentado pela primeira vez por profissionais não médicos, valendo destacar que esta questão é abordada ao longo do curso e trabalhadas, destacando a relevância do trabalho multiprofissional. Ao mesmo tempo aponta-se a riqueza de ampliar a perspectiva diante de questões complexas da comunicação e do cuidado em saúde. É importante ressaltar que ao fim de cada semestre há uma avaliação positiva e um aprimoramento da UC a partir das falas dos estudantes sobre os pontos positivos e dos que precisam ser aprimorados. De modo geral, a UC os sensibiliza para questões de comunicação, tais como as Diretrizes Curriculares preconizam. Ao fim dos semestres, os estudantes, e até mesmo os que estão em períodos avançados, sinalizam a importância da discussão ao longo da formação. É percebido pelos docentes da UC um espectro significativo e plural de noções sobre saúde e arranjos de trabalho, potencializando visões mais biocentradas e outras mais ampliadas, além de um grande leque de processos singulares referentes ao amadurecimento que vão pesar na maneira como cria-se engajamento e se sensibiliza para a importância da comunicação. Em geral, a maior parte dos alunos experimenta um processo interessante e sensível quanto ao tema, tendo nuances em que alguns iniciam já bem tocados ao assunto, enquanto outros vão desenvolvendo tal competência ao longo do semestre. Outra perspectiva significativa tange ao fazer de modo ativo a construção do saber, além da possibilidade de diálogo na construção da UC com os próprios alunos, de forma em que se estabelece uma relação participativa e de comunicação, experimentando os encontros e o processo ao longo dos semestre e no decorrer dos anos como um próprio resultado de algo sensível à comunicação e de visão dialógica. Um interessante aspecto que englobou uma das mudanças na UC foi o período de isolamento social, relacionado ao contexto da pandemia de COVID-19, adaptar as atividade foi um desafio, porém um dos legados dessa experiência foi a intensificação do diálogo com os estudante e intenso feedback para aprimorar a UC. O diálogo proporcionou a criatividade e apropriação dos mesmos para construir coletivamente as atividades, como sugestão o tema dos cuidados paliativos, foi inserido nas atividades antes de ser oficialmente inserido nas Diretrizes de 2023.

    Considerações finais: Há uma construção significativa na formação médica a partir do foco na comunicação como competência importante para esse campo profissional, coerente com a finalidade de se estabelecer profissionais sensíveis, eticamente comprometidos socialmente e dentro de uma visão humanística de atuação. Espaços possíveis ainda são considerados, como a constante reorganização feita a partir da construção de diálogos e da dinâmica do processo de saúde, doença e cuidado. É possível pensar que a UC tem seu foco e seu limite, tanto quanto espera-se que os alunos possam estar mais sensíveis ou realizarem manutenção quanto a comunicação, à relação médico paciente, empatia e o fazer participativo-construtivo, ao longo da formação e no exercício profissional. É importante pensar que a construção transversal da comunicação ao longo curso segue como elemento importante e em construção.

  • Keywords
  • Saúde, Comunicação, Educação, Formação Médica
  • Subject Area
  • EIXO 1 – Educação
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