RESUMO
Tema: Insegurança alimentar de uma comunidade indígena inserida no contexto urbano de Manaus: um relato de experiência. Apresentação: Características socioeconômicas, culturais e ambientais de uma sociedade tem influência direta nas condições de vida e trabalho de todos os seus integrantes. É importante compreender como o entendimento desses determinantes visam a melhoria do atendimento médico à população. Portanto, para a melhora da compreensão acerca desses determinantes, uma turma do primeiro período de Medicina da Universidade Federal do Amazonas (UFAM) visitou uma comunidade indígena composta por diversas etnias, procurando visualizar na prática a influência da alimentação nessa comunidade com a justificativa de que, até 2021, quase um milhão de pessoas estavam em situação de insegurança alimentar e nutricional, que é quando não há o acesso regular e permanente a alimentos em quantidade e qualidade suficientes, sendo tal situação acentuada pelos fatores de desigualdade. Através dessa visita, pode-se elaborar um relato de experiência, objetivando compreender a alimentação como determinante social da comunidade indígena, inserida dentro do contexto urbano. Desenvolvimento do trabalho: A turma foi recebida no Centro Cultural Mainuma pela presidente, fundadora e idealizadora da Comunidade Parque das Tribos, a Cacica Lutana Cocama, que enfatizou sobre a necessidade de reflorestamento do bairro, a fim de recuperar áreas permanentes de plantação de árvores frutíferas nativas que fazem parte da sua cultura alimentar, promovendo a conciliação entre o modo de vida urbano com o consumo de alguns alimentos naturais e tradicionais. Atualmente, tradições alimentares tornaram-se praticamente inviáveis devido à péssima qualidade da terra e da água presentes. As vias asfaltadas de forma irregular atrapalham as áreas cultiváveis e inviabilizam a drenagem do solo, afetando diretamente a qualidade das plantações e o consumo de alimentos dos indígenas que ocupam a região, além da contaminação das fontes hídricas naturais, através de substâncias químicas, presentes no Parque das Tribos. Resultados: Mesmo com técnicas de compostagem, a cultura alimentar da floresta perdeu prestígio diante da pressão cultural, midiática e mercadológica para uma dita integração com um suposto mundo “civilizado”. Em termos nutricionais, a comunidade entende que essas modificações se traduzem no empobrecimento da dieta, com o aumento do consumo de gorduras e açúcares simples e com a redução da diversidade alimentar e de seu conteúdo de vitaminas e minerais. Considerações finais: Todas essas mudanças alimentares não causam somente danos às tradições indígenas, mas também à saúde dessa população. Devido às condições socioeconômicas da comunidade, ainda que sem adaptação fisiológica, os indígenas são obrigados a aderir a altas quantidades de produtos industrializados, sofrendo com o aumento de doenças relacionadas à alimentação, como diabetes mellitus e câncer gastrointestinal. A compreensão desse determinante permite: 1) concluir que os indígenas dessa comunidade estão inseridos dentro de um contexto de insegurança alimentar; 2) melhorar o atendimento futuro como profissionais da saúde, mediante esclarecimento de seus hábitos alimentares e culturais.