A violência contra a mulher é um problema global persistente e complexo, afetando inúmeras mulheres ao redor do mundo e representando uma violação grave dos direitos humanos, além de uma ameaça significativa à saúde e ao bem-estar das vítimas. A Política Nacional de Atenção Integral à Saúde da Mulher reconhece que essa forma de violência está intimamente ligada à questão de gênero e à discriminação social, sendo mais influenciada por fatores culturais e sociais do que por aspectos biológicos. As desigualdades de gênero, que se desenvolveram historicamente e foram legitimadas por diferentes culturas e sociedades, perpetuam a posição de inferioridade e desvalorização das mulheres, resultando, muitas vezes, em situações de violência. Esse fenômeno transcende a mera agressão física, abrangendo danos à saúde física e mental, enraizada em um contexto cultural de submissão, onde o homem é percebido como superior à mulher.
No entanto, as repercussões dessa violência psicológica nesse contexto são frequentemente subestimadas ou negligenciadas. A pesquisa buscou preencher essa lacuna, analisando de forma abrangente os impactos específicos da violência psicológica na saúde mental das mulheres. Essa forma de violência, frequentemente encontrada em contextos domésticos, se manifesta por meio de agressões verbais, físicas e psicológicas, incluindo ameaças, maus-tratos emocionais, abusos sexuais e violações dos direitos reprodutivos e de cidadania das mulheres. A violência psicológica, menos visível, mas igualmente devastadora, emerge como uma forma insidiosa de abuso, afetando profundamente a integridade física, mental e emocional das mulheres.
Face ao exposto, o objetivo do estudo consiste em investigar os impactos psicológicos e físicos da violência doméstica nas mulheres e avaliar as formas de intervenção psicológica para lidar com esses efeitos. Ao compartilhar as vivências das mulheres, busca-se não apenas evidenciar os efeitos prejudiciais da violência psicológica sobre elas, mas também ressaltar a importância de promover intervenções eficazes para apoiar as vítimas nesse processo.
Para atingir os objetivos propostos, realizou-se uma pesquisa de campo, exploratória e descritiva, de abordagem qualitativa. Foram conduzidas entrevistas semiestruturadas com duas mulheres residentes no município de Presidente Kennedy/ES, ambas na faixa etária de 20 a 22 anos, que foram vítimas de violência psicológica no contexto da violência doméstica.
A coleta de dados foi realizada por meio de questionários minuciosamente elaborados, permitindo que as participantes compartilhassem suas experiências, incluindo os tipos de violência enfrentada, seus impactos físicos e psicológicos, e suas percepções sobre os motivos subjacentes à violência, bem como os desafios ao buscar ajuda ou sair de relacionamentos abusivos. A seleção das participantes considerou critérios como idade, tempo de convivência com o agressor e a natureza específica da violência vivenciada.
Os resultados revelaram uma série de impactos negativos nas vítimas de violência, incluindo sintomas como depressão, ansiedade, insônia, falta de concentração, irritabilidade, lapsos de memória, fadiga e pensamentos suicidas. Além disso, as mulheres relataram sentimento de culpa, vergonha e uma autoestima fragilizada, que afetaram sua capacidade de tomar decisões e buscar ajuda para sair de relacionamentos abusivos.
Os relatos evidenciaram ainda a presença constante de violência psicológica através de ameaças, xingamentos, humilhações e manipulações emocionais, além de agressões verbais e privação da liberdade. Esses comportamentos, muitas vezes sutis e silenciosos, contribuem para a desvalorização da mulher e podem levar ao desenvolvimento de transtornos mentais e emocionais graves.
As participantes expressaram sentimentos de aprisionamento emocional, relatando dificuldades em deixar relacionamentos abusivos devido ao medo das ameaças, à culpa atribuída a si mesmas e à pressão social. Alguns relatos destacaram também o ciclo vicioso de promessas de mudança por parte dos parceiros agressores, que raramente se concretizavam, mantendo as vítimas presas nesse contexto de abuso.
Durante as narrativas, as participantes revelaram, que a falta de liberdade decorrente de um relacionamento abusivo concorreu para que uma das participantes realizasse tentativa de suicídio, mediante a ingestão de vários medicamentos para dormir para que não sentisse a dor e até mesmo “esquecer” por alguns momentos do que havia lhe acontecido. Essa dolorosa experiência ilustra o extremo impacto psicológico da violência doméstica, evidenciando como a falta de autonomia e a constante exposição a abusos podem levar a consequências tão graves quanto uma tentativa de tirar a própria vida.
As entrevistas realizadas proporcionaram um entendimento profundo das experiências vivenciadas pelas participantes, revelando não apenas os sintomas físicos e psicológicos resultantes da violência, mas também os mecanismos de perpetuação desse ciclo de abuso. A natureza insidiosa da violência psicológica pode tornar mais difícil para as vítimas identificarem e buscar ajuda, exacerbando os efeitos negativos sobre sua saúde mental e emocional.
A autoestima desgastada e os sentimentos de culpa e vergonha relatados pelas mulheres entrevistadas são indicativos do impacto psicológico da violência doméstica. Esses fatores não apenas dificultam a recuperação das vítimas, mas também as mantêm em situações de abuso prolongado.
Esses relatos ressaltam a urgente necessidade de intervenções eficazes para proteger e apoiar as vítimas de violência, destacando a importância de abordagens que retratam não apenas os aspectos físicos, mas aspectos emocionais e psicológicos das mulheres envolvidas em relacionamentos abusivos.
A conscientização pública desempenha uma função essencial na prevenção e combate à violência doméstica. É fundamental sensibilizar a sociedade sobre os efeitos nocivos da violência psicológica e promover uma cultura de respeito e igualdade de gênero. Além disso, políticas públicas abrangentes são essenciais para garantir o acesso das vítimas a recursos e apoio adequados.
Diante das constatações, a pesquisa evidencia a importância de intervenções psicológicas eficazes para lidar com a violência doméstica. Os resultados destacam a importância de fortalecer a autoestima das vítimas, oferecer suporte emocional e promover estratégias para romper o ciclo de abuso. Além disso, a conscientização pública e o combate ao estigma associado à violência doméstica são fundamentais para promover mudanças sociais e garantir a segurança e bem-estar das mulheres em situação de vulnerabilidade.
Em síntese, a presente pesquisa contribuiu para a compreensão aprofundada dos impactos da violência psicológica contra mulheres, ressaltando a necessidade urgente de intervenções psicológicas eficazes, políticas públicas sensíveis ao gênero e estratégias de prevenção que promovam o empoderamento e a proteção das mulheres contra a violência doméstica. Ao destacar a gravidade desse problema e suas ramificações na saúde mental e emocional das vítimas, a pesquisa busca catalisar esforços para promover mudanças sociais significativas e garantir um futuro mais seguro e igualitário para todas as mulheres.