Apresentação: A pandemia de covid-19 teve sua origem na China, em dezembro de 2019, na cidade de Wuhan, província de Hubei, na República Popular da China. Detectado inicialmente como uma pneumonia, tratava-se de uma nova cepa de coronavírus que não havia sido identificada antes em seres humanos. A análise do genoma mostrou ser um novo coronavírus relacionado ao SARS-CoV e, portanto, denominado coronavírus da síndrome respiratória aguda grave 2 (SARS-CoV-2). O vírus com alto poder de transmissibilidade começou a se propagar rapidamente e não demorou para que casos da doença começassem a aparecer em outros países. A propagação global do SARS-CoV-2 associado ao grande número de mortes causadas pela doença, levaram a Organização Mundial de Saúde (OMS) a declarar uma pandemia em 11 de Março de 2020. A Covid-19 foi considerada um desafio global sem precedentes e desde a sua declaração pela OMS a doença afetou e continua afetando milhares de pessoas ao redor do mundo, tanto em termos de vidas humanas perdidas, e pós internamentos complexos quanto às repercussões econômicas e consequente aumento da pobreza. Significou um desafio também para os níveis de atenção do Sistema Único de Saúde (SUS). Os hospitais e unidades de pronto atendimento ficaram sobrecarregados sendo necessário a abertura de hospitais de campanha que não supriam a necessidade do sistema. A atenção secundária que atua no atendimento ambulatorial especializado, como suporte à Atenção Primária à Saúde (APS), tiveram diversos serviços suspensos ou reduzidos, como os exames diagnósticos, as pequenas cirurgias e exames de imagem. A APS foi diretamente afetada, em especial nos pequenos municípios, onde muitas vezes a informação não chegava, foi necessária toda uma reorganização do fluxo e suspensão de programas, além do afastamento da população diante do cenário pandêmico. A APS representa a porta de entrada preferencial dos usuários ao SUS. No entanto, a pandemia ocasionou um afastamento desse público, o que resultou na descontinuidade do processo de fortalecimento da APS, demonstrado na falta de suporte nos demais níveis de atenção. Portanto, causou uma crise no sistema, sendo necessária a adoção de estratégias para continuidade do serviço. Foram adotadas estratégias assistenciais e gerenciais, em relação a criação, manutenção ou adaptação das ações, visto que estas estão interligadas na prática em saúde. As principais ações gerenciais foram relacionadas a criação de fluxo de trabalho, ações de educação permanente, ampliação do apoio técnico, uso de novas tecnologias, mudança nas portas de entrada, realocação de profissionais, as ações assistenciais reforçaram a necessidade do uso das tecnologias em saúde buscando intervenções que podem ser utilizadas para promover a saúde, prevenir, diagnosticar, tratar, reabilitar ou cuidar de doenças em longo prazo. Um exemplo é o uso da telessaúde, além de visitas domiciliares e fortalecimento da vacinação de rotina e das campanhas de vacinação do covid para o público prioritário e para outros públicos, adaptações na área da telemedicina, monitoramento dos casos positivos e seus contactantes, criação de fluxo para dispensação de medicamentos para pacientes crônicos e promoção de cuidado para esses pacientes crônicos e manutenção dos fluxos assistenciais. Objetivo: Esse trabalho tem como objetivo descrever as estratégias utilizadas pelas enfermeiras da atenção primária à saúde no contexto da pandemia de Covid-19 em um município do interior do estado da Bahia. Desenvolvimento do trabalho: Trata-se de um estudo qualitativo do tipo exploratório, com análise de entrevistas do projeto: “Estratégias e tecnologias para garantir acesso e resolubilidade da atenção primária à saúde no contexto da pandemia de Covid-19 na macrorregião de saúde centro-leste.”, do Núcleo de Pesquisa Integrado em Saúde Coletiva, apreciado pelo Comitê de Ética em Pesquisa da Universidade Estadual de Feira de Santana com CAAE 67642521.7.0000.0053 e número do parecer: 6.224.062 com aprovação em 07 de agosto de 2023. No Brasil, os aspectos éticos relativos às atividades de pesquisa que envolvem os seres humanos estão regulados pelas Diretrizes e Normas de Pesquisa em Seres Humanos pela Resolução nº 466, de 12 de dezembro de 2012 e Resolução 580, 22 de março de 2018 do Conselho Nacional de Saúde. O banco de dados do projeto base mencionado teve como campo de estudo doze municípios que compõem a Macrorregião Centro-Leste de Saúde do Estado da Bahia. Foram selecionadas as entrevistas de um município, de enfermeiras atuantes na APS e que ocuparam o cargo por mais de seis meses, no período da pandemia de Covid-19, totalizando quatro entrevistas. A análise do material ocorreu de forma subjetiva, entendendo a particularidade e vivência de cada indivíduo.??Para coletar os dados foram realizadas entrevistas semiestruturadas e houve preferencialmente utilização de plataformas digitais para que houvesse a modalidade virtual como primeira escolha em virtude da pandemia de Covid-19. Os dados das entrevistas já coletadas foram analisados por meio do método de análise de conteúdo proposto por Laurence Bardin. Resultados: A análise das entrevistas demonstrou que os pequenos municípios foram duramente afetados com a pandemia. Baseado nas respostas das enfermeiras, no município analisado houve a aplicação de algumas estratégias, porém essas não estavam demonstrando resolubilidade o que estava e impossibilitando a continuidade do cuidado no cenário da APS. Nas quatro entrevistas foi referido que para o município foi disponibilizado um breve protocolo para marcação de consultas, distribuição de panfletos informativos à população, suspensão de alguns programas como o hiperdia, realização de preventivo, puericultura, além de consultas odontológicas, e foram feitas orientações gerais sobre o uso dos equipamentos de proteção individual. O município estava seguindo recomendações gerais liberadas pelo Ministério da Saúde referente a reorganização do fluxo, as enfermeiras representando uma figura de gestão dentro de sua unidade básica de saúde adotaram a essa estratégia, e foi aplicada através do agendamento por horário marcado, a fim de evitar aglomerações. Uma queixa geral das enfermeiras é que tanto elas quanto os outros profissionais não receberam orientações completas ou um treinamento adequado, não se sentindo incluídos dentro dessa reorganização de fluxo, não sabendo o que ou como orientar. Os resultados demonstraram que não houve o uso de novas tecnologias como apoio assistencial, no sentido do uso da telessaúde ou o uso da tecnologia para apoio às unidades, como criação de grupos de WhatsApp com a comunidade. Trazendo como consequência a suspensão total de alguns serviços e consequente afastamento do usuário do sistema. Considerações finais: A pandemia requereu do sistema de saúde uma resposta imediata e os serviços precisaram ser reorganizados no sentido de atender às novas demandas. A APS como porta de entrada preferencial enfrentou o grande desafio de se adaptar à adoção de novas estratégias para garantir o acesso e dar continuidade ao cuidado agregado à grande atenção que necessitava o Covid-19. Vale ressaltar que as estratégias devem ser adotadas por meio de análise de eficiência em experiências anteriores. A reorganização do processo de trabalho das enfermeiras deve estar alinhada a capacitação eficaz e escuta ativa, possibilitando a visualização do cenário sob a perspectiva de quem representa uma figura de gestão a fim de garantir uma maior resolubilidade do serviço.