A meningite é uma inflamação das meninges, membranas que envolvem cérebro e medula espinhal, e pode ser fatal. Causadas por diversos microrganismos (bactérias, vírus, fungos e outros agentes etiológicos), destaca-se as meningites bacterianas (MB) pela gravidade acentuada e elevada mortalidade. Transmitidas de pessoa para pessoa ou por objetos contaminados, os sinais/sintomas incluem febre, cefaleia, vômito/enjoo, rigidez na nuca e outras manifestações. O aparecimento de manchas escuras na pele (sufusões hemorrágicas) é indicativo de gravidade e exige ação assistencial e de vigilância imediata. A doença meningocócica (DM) é causada pela bactéria Neisseria meningitidis e é a principal causa mundial de MB. Nove tipos diferentes de meningococos causam doença em humanos, sendo a vacinação a melhor forma de prevenção. Por se tratar de uma emergência infecciosa de início repentino, exige que os profissionais estejam habilitados para avaliação diagnóstica imediata e início precoce de antibioticoterapia para prognóstico favorável. Maceió está em estado de surto decretado pelo Ministério da Saúde (MS) para DM devido ao crescente número de casos diagnosticados. Para isso, uma série de medidas foram tomadas em ações conjuntas de vigilância pelas equipes técnicas do município e estado, com suporte da área técnica federal. Objetiva-se discorrer sobre as estratégias adotadas pela gestão municipal para enfrentamento e bloqueio do número crescente de casos de DM em Maceió e apresentar as dificuldades enfrentadas no decorrer do processo. Trata-se de estudo de natureza qualitativa, com abordagem descritiva, tipo relato de experiência acerca das estratégias implementadas no território. Este cenário epidemiológico foi identificado a partir de 2022, com o óbito de um adulto no mês de agosto e que disparou o alerta com a comprovação da circulação do sorotipo B local, totalizando no final deste ano 2 casos diagnosticados do mesmo sorotipo em bairros espacialmente separados. Em 2023 se manteve essa elevação de casos com meningococcemia, resultando na montagem de um grupo integrado entre profissionais de variadas instituições de saúde e de outras áreas para monitoramento e ação o mais precoce possível para evitar novos óbitos pela doença. Foram confirmados 66 casos em 2023, com 18 óbitos, sendo 24 deles de Meningite meningocócica do tipo B. Em 2024, até 15 de janeiro, já eram 9 casos confirmados, com 5 óbitos e 4 deles do tipo B. Como medidas de Vigilância implementadas, pode-se enumerar realização de campanhas de atualização da situação vacinal em escolas que possuíam contato com casos suspeitos para prevenção de novos casos; divulgação de medidas preventivas para evitar proliferação da doença (Educação em Saúde); inquérito epidemiológico através da investigação dos casos para identificação da origem, sorotipo e prevenção de novos casos; regulamentação e monitoramento da notificação imediata compulsórias de casos nas unidades de pronto-atendimento/hospitais para instauração de medidas o mais precocemente possível e atualização dos profissionais da rede de urgência e emergência para identificação de casos potenciais da doença. Compreendendo que a prevenção das meningites requer esforços de todos e após identificação de alguns gargalos que estavam dificultando a implementação das medidas imediatas oportunamente, optou-se pelo estabelecimento de atuação conjunta entre instituições do município e do estado. Por isso, ações integradas têm sido realizadas por diversos órgãos que integram as secretarias municipal e estadual de saúde, da Vigilância à rede assistencial, merecendo especial atenção a rede de urgência e emergência, com objetivo de criar uma rede de apoio entre as diferentes áreas e dar celeridade necessária para preservar vidas. Também passou a envolver diferentes setores (Educação e Comunicação), para que seja possível identificar precocemente esses casos e resolver essa situação com mais rapidez. Analisar o estado vacinal foi outra saída encontrada como medida de prevenção, já que além da identificação de novos casos do sorotipo B, começaram a surgir casos de Meningite por Haemófilo, que possui vacinas incluídas no Programa Nacional de Imunização (PNI), sendo sinal de alerta para baixa cobertura vacinal ou outras variáveis (possibilidade de não soroconversão, qualidade da rede de frios e da vacina). No entanto, entende-se como sendo a principal medida de combater novos casos, associada a quimioprofilaxia disponibilizada (conforme estabelecido pelo MS) aos contatos diretos dos casos suspeitos, como meio de impedir o estabelecimento de novos reservatórios que possam ampliar a disseminação da bactéria. Os casos do sorotipo B são analisados com extrema preocupação, uma vez que não há disponibilização na Rede SUS de vacina específica. Outro fato que começou a gerar inquietação foi o aparecimento de casos secundários relacionados a casos suspeitos iniciais agudos, com prognóstico negativo. Em geral começou a aparecer crianças menores de 1 ano com quadro agudo, indo a óbito e subsequente adoecimento de um segundo caso (irmão do caso inicial). Vale ressaltar que Alagoas ficou por 5 anos sem realizar diagnóstico laboratorial para identificação etiológica, retornou em 2022 frente à necessidade de realizar controle mais sistemático do cenário instaurado. Os bairros com maior ocorrência de casos é Jacintinho e Benedito Bentes, distantes espacialmente e pertencentes a Distritos de Saúde diferentes. Todavia já identificamos casos em todas as regiões da cidade, explicitando a circulação da bactéria de forma ampla. Outra dificuldade enfrentada é a assistência ofertada que impacta na identificação precoce de casos e a coleta do líquor para a identificação etiológica (diagnóstico), questões que estão sendo processualmente trabalhadas através de atualizações dos profissionais e por monitoramento presencial da Vigilância nos serviços para orientação e ajustes. Alguns dos parceiros nessas ações integradas é a Vigilância Epidemiológica Municipal e Estadual, através de suas áreas técnicas, o Centro de Informações Estratégicas e Respostas em Vigilância em Saúde (CIEVS) Municipal e Estadual, PNI Municipal, Laboratório Municipal (LACLIN) e Estadual (LACEN). Ademais, fica claro que a presença de maior número de casos nas áreas periféricas exige um olhar para além da saúde como o conceito ampliado de saúde apresenta. As variáveis socioeconômicas e culturais, que caracterizam as periferias, evidenciam a vulnerabilidade na qual esses cidadãos estão expostos e força os variados serviços a direcionarem não apenas o olhar cuidadoso, mas também esforços para protegê-los. Com o desenvolvimento das ações, percebe-se que esta atuação proporcionou celeridade ao acesso às informações, permitindo ação sincronizada focando na preservação da vida dos sintomáticos e garantindo oportunidade necessária que os casos exigem. Espera-se com a disponibilização de vacinação nas escolas haja diminuição da incidência da DM em Maceió, já que proporciona a ampliação da cobertura vacinal local, tão prejudicada no pós pandemia da COVID-19. As campanhas realizadas tiveram ótima aceitação. A realização de atualização dos profissionais de saúde, especialmente os lotados na rede de urgência e emergência, deve contribuir na identificação precoce de possíveis casos e na notificação imediata deles, ajudando a prevenir novos casos. Qualificar a assistência permite atender à oportunidade que a meningococcemia exige. A divulgação de informações nas redes sociais e através de campanhas publicitárias deve estimular a adoção de medidas preventivas pela população local, mantendo-a vigilante quanto à presença da tríade de sintomas relacionada à doença (febre, cefaleia e enjoo/vômito), associada ao aparecimento de manchas na pele que é sinal de alerta, bem como ressaltar a importância da manutenção do calendário vacinal atualizado. Ações dessa natureza permitem que se alcance a integralidade e a universalidade que a população tanto necessita, uma vez que atende às particularidades da comunidade enquanto se garante o acesso ao direito à saúde, conforme preconizado na Carta Magna de 1988.