Apresentação: o projeto de ensino Discussão de Casos Clínicos do Curso de Graduação em Enfermagem da Universidade do Estado de Santa Catarina (Udesc) está em sua quinta edição. O projeto iniciou com a proposição de um professor colaborador no intuito de auxiliar os estudantes acerca da integração de conteúdos e desenvolvimento de raciocínio clínico, uma vez que, didaticamente, o projeto pedagógico de curso (PPC) contempla diversas disciplinas teóricas nas fases inicias que oferecem suporte teórico para os estudantes desenvolverem expertise clínica ao longo do curso. Nesse sentido, ter um espaço para o aprofundamento teórico de casos clínicos e patologias específicas por meio de um projeto de ensino, foi o start inicial, uma oportunidade de fomentar a discussões e, ao mesmo tempo, integrar estudantes e docentes. O referido projeto de ensino passou a ser coordenado por professor efetivo a partir do desligamento de seu mentor da universidade. Contudo, o mesmo autorizou os docentes a seguirem com a atividade em virtude da riqueza das construções que dela emergiram. Nessa edição construída para o primeiro semestre de 2024, a proposta foi trabalhar com a discussão de um caso criado a partir das vivências docentes. O coordenador do projeto sugeriu abordar no caso hipotético, paciente com doença crônica não transmissível (DCNT). Ressalta-se que recentemente a terminologia alterou, contemplando também os agravos, muito em função das sequelas decorrentes dessas doenças. Assim, passou-se a chamar-se Doenças e Agravos Não Transmissível (DANT). Frente ao exposto, este resumo objetiva apresentar a organização interna e desenvolvimento de um projeto de ensino na área de enfermagem em uma instituição de ensino superior pública, no sul do Brasil. Desenvolvimento: trata-se de um relato de experiência vivenciada no projeto de ensino do Departamento de Enfermagem da Udesc, o qual tem vigência de 01 de março de 2024 a 29 de fevereiro de 2025. Os encontros do referido projeto ocorrem mensalmente de forma presencial nas dependências da universidade e tem duração de aproximadamente uma hora. Participam das atividades professores de diferentes áreas de saúde, tais como, enfermeiro, farmacêutico, psicólogo; estudantes matriculados em diversas fases do curso de enfermagem, mestrandos e profissionais de saúde. Resultados: a partir da exposição do projeto de ensino nas salas de aula e em grupos de WhatsApp com os estudantes, houve a divulgação de data e horário do primeiro encontro que ocorreu em março de 2024. Aos participantes foi orientado que a certificação será fornecida pela Direção de Ensino do campus ao término do projeto para os participantes assíduos. Atualmente participam cinco docentes e vinte estudantes, sendo dois mestrandos. O projeto conta com uma bolsista de 10 horas que faz o registro dos encontros e frequências, organiza os cards de divulgação das atividades e conduz as postagens nas redes sociais, entre outras atividades. Para o semestre letivo foi organizado um cronograma de encontros, definidos temáticas a serem abordadas acerca do caso clínico, a saber: Sinais, sintomas e diagnóstico (principais exames laboratoriais e de imagem) com construção de mapa mental; Tratamento (medicações e procedimentos) e medidas preventivas; Elaboração de plano de cuidados em unidade de internação por meio do diagnóstico de enfermagem, e; Planejamento de orientações para a alta hospitalar. A seguir, apresenta-se a descrição do caso, que foi construído a partir da leitura de um artigo intitulado “Estudo de caso: sistematização da assistência de enfermagem em pacientes acometidos por acidente vascular encefálico isquêmico”, contudo, o caso foi alterado para a despersonalização do mesmo neste resumo, uma vez que o evento não permite utilizar referências. Paciente, 88 anos, natural e residente num município no sul do Brasil que vive com os familiares. Na história de patologia pregressa há descrição de hipertensão e diabetes mellitus. Faz uso regular de insulina NPH 30UI pela manhã e 10UI à noite, ácido acetilsalicílico após almoço, anlodipino pela manhã e nega alergia medicamentosa. No dia 15 de fevereiro de 2020, procurou atendimento médico na Unidade de Pronto Atendimento (UPA) de seu município devido desvio de comissura labial, dificuldade para deglutir, pico hipertensivo e confusão mental de início súbito. Há histórico de acidente vascular encefálico (AVE) isquêmico há quatro anos, apresenta úlcera crônica em pé direito e incontinência urinária. No momento da admissão foi realizado exame físico que sinaliza paciente confuso, eupneico, apirético, com dificuldade de compreender comandos, abdômen livre, pressão arterial (PA) 160/91mmHg, saturação (SAT) 97%, frequência cardíaca (FC) 94bpm. A tomografia de crânio aponta para evento isquêmico agudo em cápsula interna e núcleo lentiforme direito. Apresenta sequela de disartria e hemiparesia esquerda do corpo. Três dias depois o paciente foi transferido para uma Unidade de Terapia Intensiva (UTI) em instituição hospitalar pública para sequência de tratamento. Na admissão hospitalar o paciente fazia uso de sonda vesical de demora em sistema fechado, em ventilação mecânica invasiva por tubo endotraqueal, alimentando-se por sonda nasoentérica (SNE), com acesso venoso periférico em membro superior direito (MSD) com cateter flexível e equipo multivias com fluído venoso em curso. Mantinha prescrição dos seguintes medicamentos: midazolam, vancomicina, cefepima, heparina, sinvastatina, losartana, hidralazina e insulina NPH manhã e noite. Com 20 dias de internação em UTI o paciente foi transferido para a unidade de internação, onde permaneceu uma semana até sua alta para domicílio. No momento da alta apresenta déficits de comunicação, deglutição (alimentando-se por SNE) e deambulação, devido a paralização de membros esquerdos. Ao considerar o caso clínico e as temáticas a serem contempladas nas discussões, os participantes foram divididos em subgrupos a fim de que cada um se aprofunde em uma temática, organize a apresentação, síntese e sempre que possível um mapa mental, para ser exibido ao grande grupo. Cada subgrupo também conta com um docente orientador para que, ao longo da construção possam esclarecer dúvidas e se preparar com segurança para a translação de conhecimento. Ressalta-se ainda, a importância da enfermagem se envolver não somente durante a assistência institucionalizada, mas que possa se preparar para assistir o paciente e família quando estes retornam à comunidade, sobretudo, no enfrentamento das sequelas, uma vez que pela experiência dos autores, a incidência desses agravos é elevada. Considerações finais: o presente relato evidencia a importância de fomentar a discussão de casos e agravos durante o processo formativo do estudante, movimento que inspira e os motiva ao aprofundamento técnico científico, ao passo que o prepara para enfrentar as adversidades do mundo do trabalho. O hábito de buscar informações e, mais que isso, de saber se apropriar de conhecimento de disciplinas distintas, fortalecem o desenvolvimento de raciocínio clínico, fundamental para a implementação do processo de enfermagem. O Programa de Ensino Discussão de Casos Clínicos se consolidou na universidade como uma estratégia didática que envolve a graduação e pós-graduação. A possibilidade de estudantes das fases iniciais partilharem das experiências de estudantes que já vivenciaram a prática em diferentes campos, abrilhanta os olhos para uma Enfermagem engajada, proativa e mais preparada para as fases consecutivas do curso. Tal aproximação de estudantes e docentes e entre estudantes suaviza as adversidades do mundo acadêmico, fortalece a equipe do projeto e, consequentemente, traz benefícios acerca da qualidade do cuidado prestada ao paciente.