APRESENTAÇÃO
A pandemia provocada pelo novo coronavírus (SARS-CoV-2) exigiu novas estratégias no cuidado e assistência à saúde. A Atenção Primária à Saúde (APS) precisou passar por mudanças importantes no processo de trabalho e reorganizar suas demandas para garantir o cuidado, como o uso de tecnologia tanto para diminuir a propagação do vírus quanto para minimizar os impactos indiretos causados pela pandemia da Covid-19.
Para o enfrentamento dessa situação, os conselhos de categorias profissionais autorizaram e normatizaram os atendimentos de forma remota reconhecendo a eticidade de consultas, esclarecimentos, encaminhamentos e orientações realizadas utilizando as tecnologias digitais. Diante dessa normatização, foi ofertado os serviços de Teleorientação (TO) e Telemonitoramento (TM) para a população do estado de Sergipe, por meio do aplicativo de celular “Monitora COVID-19”, que fez parte do Sistema de Informação para Monitoramento de casos da Covid-19.
A estratégia teve como objetivo avaliar sintomas, necessidades e riscos referentes à Síndrome Respiratória Aguda Grave (SARS), por meio de atendimento à distância por enfermeiros e médicos, na perspectiva de monitorar a evolução da condição de saúde; realizar o serviço de geolocalização/georreferência para unidade de saúde de referência, quando necessário; reforçar a importância do isolamento domiciliar; identificar e classificar, por hierarquia de prioridade, o risco aos usuários acompanhados; realizar e fomentar o trabalho entre as redes de atenção à saúde; otimizar a Rede de Atenção à Saúde (RAS) Estadual e Municipal nos casos com necessidade de intervenção imediata; e realizar educação em saúde ao disponibilizar conteúdo claro e objetivo relacionado com o tema.
Este resumo tem como objetivo relatar a experiência de implantação e execução do aplicativo Monitora Covid-19 no Estado de Sergipe.
DESENVOLVIMENTO DO TRABALHO
A Estratégia Monitora COVID-19 foi viabilizada pelo Consórcio Nordeste, e em Sergipe, essa estratégia é promovida pela Secretaria de Estado da Saúde (SES-SE) e operacionalizada pela Fundação Pública de Direito Privado, por meio do Núcleo de Telessaúde, em parceria com a Universidade Federal de Sergipe (UFS).
A Estratégia Monitora COVID-19 foi estruturada e ficou em funcionamento no estado de 30 de abril de 2020 a 15 de junho de 2021, 7 dias por semana, das 8h às 18h; disponível para download na Play Store e da App Store. Dentre outras funcionalidades, o usuário respondia um questionário, com base nos dados fornecidos, o sistema classificava a partir da necessidade e risco em 5 categorias, cinza, verde, amarelo, laranja e vermelho.
A equipe de médicos e enfermeiros, por meio da TO e/ TM, entrava em contato com aqueles classificados como amarelo, laranja e vermelho, em até 24 horas. As orientações para aqueles classificados como verde eram realizadas via aplicativo. Para tanto, foi necessário mapear, na rede de saúde do Estado, os profissionais que pudessem atuar no serviço, composto inicialmente por profissionais do quadro efetivo (com comorbidade e ou maiores de 60 anos afastados do trabalho assistencial, mas que poderiam utilizar sua expertise no atendimento remoto), voluntários médicos e professores e alunos de residência médica da UFS. Como houve aumento da demanda, foi necessária a elaboração de edital de credenciamento para formação de banco de currículos de médicos e enfermeiros com convocação imediata para prestação do serviço.
Para execução do trabalho, foram formatadas três equipes de trabalho para o serviço: 1) Retaguarda para atendimento (realizava ligações de TO e TM); 2) Apoio logístico e ligações (suporte no contato com usuários reiterando as ligações não atendidas para que a retaguarda retome o atendimento); e 3) Equipe de gerenciamento do serviço, com atribuições administrativas de acompanhamento das atividades na plataforma e no grupo de trabalho de WhatsApp, elaboração de escala de trabalho (fechada semanalmente com base na demanda do serviço), no encaminhamento para a RAS Estadual e Municipal de casos com necessidade de intervenção imediata (remoção para avaliação presencial e/ou internação) e na identificação dos usuários classificados como vermelhos (encaminhados à diretoria de vigilância notificando o acompanhamento) e dos cinza (para APS/SES-SE e secretarias municipais fazerem busca ativa).
Como estratégias de divulgação do aplicativo, foram utilizados: elaboração de cards informativos para redes sociais (Figura 2); elaboração de conteúdo para sites institucionais; parceria com envio de ofício às instituições públicas e privadas para parceiras e envio de mensagens por SMS e nas faturas (empresas de telefonia móvel, companhias de abastecimentos de água, distribuidoras de energia elétrica, Defesa Civil Estadual, Banco do Estado de Sergipe), entrevistas em telejornais de TV e rádios locais abertas, entrevistas em programas de rádios; elaboração de vídeos institucionais (orientações para o uso do aplicativo, depoimentos de profissionais da retaguarda do atendimento e depoimento dos usuários do serviço); além de elaboração de boletins diários com as informações do serviço e atendimento e classificações de risco.
RESULTADOS
Este relato mostra a experiência de vigilância, educação em saúde e cuidado aos usuários de 30 de abril de 2020 a 31 de dezembro de 2022. No decorrer desse período, cerca de 16.117 sergipanos realizaram o cadastro e se cadastraram no aplicativo “Monitora COVID-19”; foram efetuados 76.714 atendimentos em diversos municípios, sendo 63,5% na capital, epicentro da doença no estado. Maiores demandas identificadas nos atendimentos dizem respeito às dúvidas sobre a doença e seu manejo, uso de medicações, quadros de ansiedade e insegurança, reações adversas às vacinas.
Foi possível a formação de banco de credenciados para a instituição composto de 20 médicos de família e comunidade, 34 médicos generalistas e 223 enfermeiros generalistas para convocação e prestação de serviço temporário com base na demanda do serviço, dando celeridade ao processo de contratação e eficiência ao serviço. Ademais, o serviço promoveu a integração e a formalização de parcerias inéditas entre instituições municipais, estadual e interestadual, bem como proporcionou resposta integrada à pandemia, por meio de cuidado remoto, ação educativa e de vigilância a pacientes em isolamento, e direcionamento aos serviços assistenciais.
Por fim, ressalta-se que, mais do que números, a possibilidade de replicar a experiência em outros cenários ganha força quando o sentimento dos atores envolvidos reporta e referenda isso. As avaliações positivas de trabalhadores, gestores e usuários quanto à importância e à qualidade do serviço prestado aos usuários do aplicativo, reconhecem a potencialidade da ferramenta tecnológica nesse cuidado.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
A utilização das Tecnologias de Informação e Comunicação (TIC), promovendo TO e TM por meio do Aplicativo “Monitora COVID”, mostrou-se uma medida eficaz com potencial impacto para evitar a disseminação da doença, fornecendo acesso remoto às melhores práticas e reduzindo a necessidade de deslocamentos dos cidadãos sergipanos para os serviços de saúde presenciais.
Houve a formatação de resposta integrada de cuidado em rede, com ações de vigilância remota, protegendo trabalhadores e usuários do SUS Sergipe, tendo como garantia o cuidado em isolamento e direcionamento para a rede de atenção assistencial, configurando-se em arranjo organizacional dos serviços, com vistas a garantir o monitoramento do cuidado de pacientes e otimizar as portas de entrada dos serviços assistenciais.
Potencializado pela articulação multisetorial entre setores público e privado no enfrentamento da pandemia, sem ônus para nenhum dos entes, a experiência denota e fomenta a possibilidade de novas formas de entregar resultados palpáveis à sociedade em outros arranjos organizacionais de caráter multiplicador e de cuidado integral no, pelo e para o SUS.