Quando o usuário não ouve e não fala a minha língua: o cuidado à saúde e a pessoa surda

  • Author
  • Leticia Garcia Aranhas
  • Co-authors
  • Gabrielli Bevilacqua Baldin , Giovanna de Souza Cordeiro , Maria Cecília Marconi Pinheiro Lima , Karin de Albuquerque Barros Nivoloni , Priscila Mara Ventura Amorim Silva , Thaís Antonelli Diniz Hein , Kátia Cristina Costa , Nubia Garcia Vianna
  • Abstract
  •  

    Os impactos da perda auditiva vão além do não ouvir, envolvendo barreiras comunicativas, psicossociais e socioeconômicas. Indivíduos que usam a Língua Brasileira de Sinais (Libras) enfrentam dificuldades adicionais no acesso aos serviços, discriminação e falta de preparo da rede de saúde. Este trabalho objetiva analisar a busca por cuidado de uma usuária surda, cuja comunicação se dá por meio da Libras. Trata-se de estudo qualitativo, cartográfico e do tipo interferência, realizado na rede de saúde de Campinas/SP. Foi feito um estudo de caso a partir da entrevista em profundidade de uma usuária-guia Surda, definida como um caso desafiador para a equipe de uma Unidade Básica de Saúde (UBS). A usuária, de 43 anos, tem perda auditiva neurossensorial de grau profunda bilateral e não faz uso de aparelhos auditivos ou implantes cocleares. Utilizou-se o conceito de “analisadores” proposto pela Análise Institucional. Carla (nome fictício) procurou a UBS encaminhada pela delegacia e de posse de um relatório, após ter sofrido violência doméstica. Na recepção da UBS, recebeu um papel com o dia e horário de um Grupo de Saúde Mental, onde a fonoaudióloga da E-multi, com pouco conhecimento de Libras, identificou suas principais demandas, que iam para além da situação de violência. O filho, de quatro anos, não falava devido à interação, quase que exclusiva, com o pai e a mãe Surdos, durante o período de isolamento social provocado pela Pandemia de COVID-19. A profissional da E-Multi, afetada e implicada no caso, teve importante papel no processo de cuidado da usuária e sua família, tecendo redes que interconectaram a UBS a serviços da assistência social, como ao Centro de Referência e Apoio à Mulher e à Central de Interpretação de Libras (CIL). Na UBS, Carla passou a ser atendida pelo psicólogo, com a presença de uma intérprete de Libras e seu filho, pela fonoaudióloga, ambos profissionais da E-Multi. Carla tinha ainda uma queixa secundária atrelada ao desejo de usar aparelhos auditivos, mesmo sabendo que ela ouviria apenas alguns sons com o equipamento, mas que já seria suficiente para o aumento de sua independência. Ela mesma foi ao serviço da atenção especializada para realizar os procedimentos para entrar na fila do aparelho, algo que a AB desconhecia. O caso destaca a importância do trabalho vivo em ato de uma profissional, munida de tecnologias leves, leve-duras e duras; o papel da E-multi na Atenção Básica; a necessidade de conhecimento de Libras na caixa de ferramentas dos profissionais de saúde e a rede viva na busca por serviços pelos próprios usuários.  

  • Keywords
  • Atenção Básica, Língua de Sinais, Surdez, Cuidado.
  • Subject Area
  • EIXO 5 – Saúde, Cultura e Arte
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