A pandemia de COVID-19, a qual iniciou na China no ano de 2019 e rapidamente se espalhou pelo mundo, desde o seu início até os dias atuais, de acordo com o Ministério da Saúde, infectou somente no Brasil mais de 38 milhões de pessoas e levou a óbito mais de 700 mil pessoas, com uma taxa de letalidade de 1,8%, deixando milhares de famílias brasileiras convivendo com o medo do vírus e o luto pelas pessoas perdidas.
Para além disso, medidas como o distanciamento social, a qual foi de suma importância para frear a transmissão do vírus, se mostrou também como um fator adoecedor, acarretando danos à saúde mental de milhares de brasileiros, os quais se encontraram sozinhos, precisando assimilar as novas formas de ser e estar no mundo necessárias em um cenário de pandemia.
Nesse sentido, apesar de ter se mostrado como uma doença altamente transmissível e com efeitos nefastos para a saúde, o coronavírus se apresenta de forma mais perigosa quando se trata de populações vulnerabilizadas. Assim, observa-se que, além da população idosa, a pandemia tem causado maior impacto na saúde mental e coletiva de pessoas que vivem em contexto de extrema pobreza, pessoas de raça/etnia negra e indígena, população ribeirinha, mulheres grávidas e crianças.
No que tange à população ribeirinha, observa-se que tal recorte populacional possui características particulares, tal como a dependência do rio para locomoção e o distanciamento do contexto urbano, o que pode dificultar o acesso a serviços assistenciais e de saúde. Assim, o que se pretende no presente trabalho é analisar as produções científicas que versam sobre o impacto da pandemia na saúde mental e coletiva da população ribeirinha durante a pandemia de COVID-19.
A fim de atingir o objetivo proposto, foi realizada uma pesquisa exploratória, em busca dos materiais acadêmicos produzidos sobre a temática em questão. A pesquisa se deu em base de dados Google Acadêmico, onde diversos artigos foram encontrados para as palavras chaves: “população ribeirinha” e “saúde mental” e “pandemia”. Entretanto, apenas oito artigos se enquadram no objetivo da pesquisa, tendo sido estes elegidos para leitura na íntegra.
Os artigos encontrados versam desde as estratégias adotadas pela própria população ribeirinha no cuidado de si e no enfrentamento dos desafios postos pela pandemia, como também versam sobre o acesso de tal população nos serviços de saúde durante o período em questão. Um ponto observado na pesquisa bibliográfica realizada é que a literatura referente ao tema abordado é majoritariamente do campo da enfermagem, tendo sido cinco dos oito artigos incluídos escrito por enfermeiros. Assim, aponta-se para a necessidade de outros campos da saúde de se atentarem ao tema. Em virtude disso, foi necessário alterar os critérios de inclusão e exclusão iniciais, os quais tinham por objetivo avaliar a atuação de psicólogos em comunidades ribeirinhas durante a pandemia. No entanto, devido à escassez de materiais escritos e desenvolvidos por psicólogos, alterou-se o objetivo inicial.
Nesse ínterim, esse estudo identificou o predomínio de pesquisas sobre a saúde mental e coletiva de idosos ribeirinhos e rurais, destacando a idade como um fator que contribui para a vulnerabilidade dessa população. Para Monteiro e colaboradores, a saúde mental de idosos ribeirinhos é um aspecto de grande impacto na literatura mundial, uma vez que essa população estava submetida a diversos tipos de restrições durante o período pandêmico. Nesse sentido, o distanciamento social agravou os sentimentos de solidão e abandono que esse grupo já vivenciava, além de impedir a comercialização dos produtos advindos da florestas, indispensáveis para a subsistência dessas comunidades.
Durante a pandemia da COVID-19, as comunidades ribeirinhas enfrentaram desafios únicos e significativos. Isoladas geograficamente e muitas vezes carentes de infraestrutura básica, como acesso limitado a serviços de saúde e comunicação, essas populações encontraram-se em uma posição especialmente vulnerável. A falta de recursos médicos adequados e a dificuldade de acesso a informações confiáveis exacerbaram os temores e a incerteza entre os moradores ribeirinhos.
Os autores apontam para as estratégias desenvolvidas visando o autocuidado dessa população frente às novas condições epidemiológicas. Estudos mostram que no início da pandemia, muitos idosos não compreendiam ou não concordavam com as diretrizes postas pelas organizações de saúde, acabavam por adquirir a doença por se tornarem menos cuidadosos com as medidas de prevenção.
Entretanto, devido à alta taxa de mortalidade nessa faixa etária, nota-se o aumento de medidas incorporadas no seu cotidiano, visando o autocuidado de si e de seus familiares. Um estudo sobre conscientização das medidas para combater a COVID-19 realizado em aldeias da Índia apontam que a população estava adotando as melhores estratégias para a prevenção da doença, como o uso de máscaras artesanais compostas de roupas, consumo de fitoterápicos artesanais visando aumento da imunidade, além de se envolverem em atividades físicas e ioga.
Além dos desafios físicos enfrentados durante a pandemia, a saúde mental da população idosa em áreas ribeirinhas também foi profundamente impactada, preocupação com a própria saúde e a saúde de familiares, combinada com a incerteza em relação ao futuro, contribuiu para um aumento nos níveis de ansiedade e estresse entre os idosos ribeirinhos.
A falta de acesso a serviços de saúde mental adequados nessas comunidades tornou ainda mais desafiador lidar com essas questões. Em meio a esses desafios, muitas comunidades ribeirinhas demonstraram resiliência, recorrendo a práticas tradicionais de solidariedade e colaboração para enfrentar a crise. No entanto, a pandemia destacou a necessidade urgente de investimentos em infraestrutura e serviços básicos nessas áreas remotas, a fim de garantir que essas populações sejam mais bem preparadas para enfrentar desafios futuros.
Em conclusão, a pandemia da COVID-19 expôs e agravou as condições já precárias enfrentadas pela população ribeirinha, especialmente os idosos. Além disso, a necessidade urgente de melhorar o acesso a serviços de saúde mental e promover o bem-estar emocional da população idosa ribeirinha é evidente. À medida que emergimos desta crise global, é imperativo aprender com as experiências vividas durante a pandemia e tomar medidas significativas para garantir que as comunidades ribeirinhas estejam mais preparadas e capacitadas para enfrentar desafios futuros, tanto em termos de saúde física quanto mental.
Para além disso, enfatiza-se a necessidade de estudos mais amplos com tal população, tendo em vista que mais da metade dos estudos encontrados avaliavam a questão da pandemia apenas para a população ribeirinha idosa.