Apresentação: Este estudo faz parte de um Trabalho de Conclusão de Residência de Enfermagem em Saúde da Família, da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ), conveniado com a Secretaria Municipal de Saúde do Rio de Janeiro (SMS/RJ), trazendo como temática a construção de grupos de promoção à saúde para pessoas em situação de rua. A população em situação de rua (PSR) é tida como um grupo populacional heterogêneo que possui em comum a pobreza extrema, os vínculos familiares interrompidos ou fragilizados e a inexistência de moradia convencional regular. Estima-se que essas pessoas enfrentam barreiras, como acesso limitado à educação e a saúde, aliado à falta de oportunidades de emprego, contribuindo para a perpetuação de um ciclo de vulnerabilidade. A partir dessa problemática, levantou-se a questão norteadora deste estudo: "Como as ações de cuidado em grupos voltados para pessoas em situação de rua, desenvolvidas por profissionais da Atenção Básica à Saúde na zona norte do município do Rio de Janeiro, podem contribuir para melhorar as condições de saúde e bem-estar dessa população?" Com isso, o objetivo desta pesquisa foi analisar as práticas de cuidado em grupos destinadas às Pessoas em Situação de Rua (PSR) através de ações desenvolvidas por profissionais da Atenção Básica à Saúde (ABS), localizados na zona norte do município do Rio de Janeiro. Desta forma, pode-se descrever as atividades de promoção à saúde desenvolvidas a pessoas em situação de rua. Desenvolvimento: A presente pesquisa adotou como metodologia o estudo qualitativo, com abordagem etnográfica. Assim, neste estudo, a abordagem etnográfica permitiu uma imersão profunda na realidade da população em situação de rua, buscando compreender não apenas suas condições materiais, mas também as significações, valores e práticas que permeiam suas vidas. O estudo foi realizado durante 6 meses, com a imersão de uma das pesquisadoras nos grupos com a presença de pessoas em situação de rua do território de abrangência. Esses grupos foram organizados por profissionais de uma Unidade Básica de Saúde (UBS), com o intuito de retirar dúvidas e acolher um grande número de pessoas que moram nas ruas que fazem parte do território da UBS, compreendendo no total de 6 encontros. Foram realizadas anotações e registros mais relevantes utilizando o diário etnográfico e fichas de atendimentos. A análise dos dados seguiu a análise de etnográfica de domínio, com apresentação de três domínios mais relevantes presentes nos relatos e nos encontros etnográficos: dificuldade do acesso à saúde, o estigma e preconceito e o cuidado a pessoas em situação de rua com tuberculose. Ademais, por se tratar de pesquisa realizada com seres humanos, esta foi cadastrada na Plataforma Brasil, tendo como área de estudo Ciências da Saúde, seguindo as recomendações da Resolução CNS n° 466/2012, sendo aprovada pelo Comitê de Ética em Saúde da UERJ e da SMS/RJ. Resultados: A partir de uma solicitação da gestão da Unidade Básica de Saúde (UBS), que orientou cada equipe a criar um grupo de saúde para realizar atividades, e em resposta à crescente demanda de atendimento às pessoas em situação de rua na Unidade, foi criado o grupo "Vivências Urbanas". Cujo principal objetivo foi ampliar o acesso à saúde para além dos consultórios, oferecendo cuidados diretamente no local onde essa população se encontra. O acesso à saúde é um conceito multifacetado que varia entre diferentes autores e evolui ao longo do tempo. Muitas vezes, sua compreensão e aplicação são imprecisas, especialmente quando se trata do acesso aos serviços de saúde, o que pode resultar em desafios significativos para certos grupos, como as PSR. Durante os encontros de promoção de saúde, pontos relacionados à dificuldade ou até barreira ao acesso às Unidades de Saúde tornava-se sempre uma temática importante nos encontros. Estas pessoas relataram que enfrentam barreiras como burocracia, falta de documentos e estigma social, que podem prejudicar sua capacidade de obter cuidados de saúde adequados. O estigma e a discriminação foram outros domínios importantes e sensíveis que afetam diretamente a vida das PSR. Rotuladas por estereótipos sociais, muitas vezes são excluídas ou colocadas à margem da sociedade, o que cria um distanciamento significativo entre elas e a população em geral. Além disso, os profissionais de saúde também contribuem para essa exclusão ao demonstrarem preconceito e falta de sensibilidade no cuidado a essas pessoas. Outro domínio também apresentado nos encontros estava relacionado ao cuidado à tuberculose. Esta doença continua sendo um desafio significativo para a saúde pública em todo o mundo. Apesar de ser uma doença tratável e curável, sua incidência permanece alta, especialmente entre grupos vulnerabilizados, como a PSR. As condições de vida precárias dessas pessoas favorecem a propagação da doença e dificultam o tratamento eficaz, exacerbando ainda mais os problemas de acesso aos serviços de saúde. Portanto, é crucial abordar essas questões complexas de maneira holística, considerando não apenas os aspectos biológicos da saúde, mas também os fatores sociais e estruturais que influenciam o acesso aos cuidados de saúde e o bem-estar desse grupo. Considerações Finais: Diante do exposto na pesquisa sobre os grupos de promoção à saúde para População em Situação de Rua, fica evidente que as equipes de saúde, principalmente os gestores, estejam atentos às demandas específicas dessa população, buscando estratégias que visam promover a equidade e universalidade do acesso aos serviços de saúde. A pesquisa reforça a importância de um olhar holístico nesse cuidado e a importância de abordagens sensíveis e inclusivas a esse grupo vulnerabilizado. Além de perpassar pelas barreiras enfrentadas, tais como o estigma, descriminação e a dificuldade de acesso aos serviços de saúde, ressaltando a necessidade urgente de políticas públicas que de fato sejam mais abrangentes, práticas de saúde mais empáticas que de fato sejam eficazes para entender essas pessoas. A abordagem da pesquisa, baseada na metodologia qualitativa e etnográfica, proporcionou um entendimento mais profundo das experiências e desafios enfrentados por essa população, permitindo a identificação de estratégias mais sensíveis e eficazes. Oferecendo como resultados percepções valiosas para a melhoria dos serviços de saúde, enfatizando a necessidade de políticas públicas mais inclusivas e práticas de cuidado mais abrangentes e sensíveis para atender às demandas inerentes da população em situação de rua na região investigada. Com isso, deixando evidente que os grupos de saúde coletiva demonstraram ser ferramentas potentes na promoção da saúde, permitindo a troca de experiências e o desenvolvimento de habilidades para o cuidado.