Apresentação: A palavra “homofobia” refere-se a comportamentos e sentimentos negativos, como desprezo, antipatia ou ódio às minorias sexuais. Dessa maneira, entende-se homofobia como uma atitude de colocar um(a) pessoa homossexual na condição de inferioridade baseada no princípio da heteronormatividade, no qual a heterossexualidade é considerada o padrão normal das relações sexuais e sociais e a homossexualidade é considerada uma condição anormal. Apesar dos avanços na luta contra a homofobia, essa população ainda enfrenta injustiças e exclusões em diversas esferas da vida. Essa temática encontra-se nos Parâmetros Curriculares Nacionais (PCNs), conjunto de diretrizes para orientar professores acerca das principais abordagens em cada disciplina e em cada nível escolar. Na seção chamada Orientação Sexual, ressalta-se a importância da discussão do tema, por ser transversal e estar interligada a outras áreas, como saúde, sexualidade e sociedade. Portanto, torna-se pertinente uma abordagem adequada com adolescentes para discutir esse tema e ampliar a construção de conhecimento que promova uma sociedade livre de preconceitos e de violência no futuro. Nesse sentido, foi realizada uma ação educativa cujo objetivo foi promover a conscientização social de estudantes do terceiro ano do ensino médio, em prol do combate à homofobia e de uma sociedade mais segura para essa parcela da população. Descrição da experiência: Em virtude do Dia Internacional do Combate à Homofobia, 17 de maio, o comitê de Saúde e Direitos Sexuais e Reprodutivos (SCORA), composto por estudantes do curso de Medicina da Universidade Federal do Vale do São Francisco (UNIVASF), campus Paulo Afonso–BA idealizou e realizou uma ação em prol da conscientização acerca da importância do respeito aos homossexuais e do esclarecimento de mitos que ainda circundam na sociedade hodierna. Essa ação educativa foi organizada em parceria com o diretor de uma escola pública de Paulo Afonso e foi ministrada, das 9:00 às 11:20 do dia 19 de maio de 2023, para três turmas do 3° ano do Ensino Médio, totalizando 26 estudantes. Além dessa parceria, teve a colaboração, como palestrantes, de dois doutores em Saúde Coletiva, docentes da UNIVASF. Para a organização da ação, foram efetuadas duas reuniões, uma com o diretor do colégio e outra com os membros do comitê e os professores convidados. Ademais, também foram criadas dinâmicas para serem usadas na atividade e perguntas para avaliar o impacto da ação em relação ao aprendizado dos participantes.. A ação foi dividida em dois momentos, um realizado pelos discentes e outro realizado pelos convidados. No início da atividade, foi realizada uma dinâmica para promover maior entrosamento entre o grupo e gerar uma reflexão inicial, com perguntas sobre gostos pessoais. Essa dinâmica mostrou que existem personalidades e gostos diferentes e não há personalidade melhor ou pior, escolha certa ou errada, existem escolhas, dessa forma, não houve ganhador no final.Posteriormente, os coordenadores da ação abordaram a fisiologia do desenvolvimento sexual, e o processo de descoberta da identidade de gênero. Em seguida, teve a participação dos professores convidados, discutindo questões de identidade de gênero e desmistificação do tema. Ademais, um dos docentes compartilhou relatos de alguns acontecimentos em sua vida como pessoa homossexual. Durante a atividade, os adolescentes também foram estimulados a compartilhar questionamentos e experiências relacionadas ao tema. Dessa forma, a atividade seguiu uma linha de raciocínio estruturada, permitindo aos estudantes tirar suas dúvidas sobre as temáticas, além de haver um incentivo para o combate à homofobia. Resultados: A ação foi criada com o propósito de desconstruir tabus e ressignificar ideias preconceituosas sobre a temática, usando a educação como ferramenta para evitar a perpetuação da discriminação existente na sociedade. Foi realizada por meio da discussão de mitos e verdades, dentre alguns mitos: menino vestir roupa rosa e menina vestir roupa azul influencia na sua identidade sexual, pessoas que têm amizade com homossexuais e que utilizam vocabulários ofensivos contra essa população não são homofóbicas, identidade de gênero é o mesmo que orientação sexual e LGBTQIAP+fobia acontece apenas quando outra pessoa agride fisicamente essa camada da população foram trabalhados durante a ação, momento em que os adolescentes discutiram e demonstraram opiniões. Já algumas verdades foram o entendimento das definições de homofobia, alguns tipos de comportamentos homofóbicos, como as diferentes agressões e a importância do nome social para pessoas trans. No evento, notou-se a compreensão da existência do preconceito, como a homofobia, e de que o Brasil é um dos países que mais mata membros da comunidade no mundo. Ainda, percebeu-se que esse tipo de discriminação está relacionado a diferentes formas de violências, como físicas e verbais. Desse modo, mesmo com a interação dos jovens, inicialmente de forma tímida, por meio das dinâmicas apresentadas, a ação foi considerada exitosa pela abertura receptiva que os estudantes apresentaram e pela interação e interesse demonstrados. Apesar do sucesso da ação, houve limitações com relação ao tempo e ao entendimento dos estudantes sobre alguns pontos, como a importância da educação sexual, um dos componentes dos PCNs, a fim de contribuir para o melhor entendimento sobre gênero e sexualidade, e os impactos da homofobia na saúde física e mental do indivíduo. No início e no final da ação, foram realizados alguns questionamentos aos adolescentes, acerca dos mitos trabalhados durante a ação, sobre educação sexual, em relação à construção histórica de masculinidade e feminilidade e o conceito de homofobia. Os adolescentes apresentaram um maior quantitativo de respostas corretas após a ação. Esse maior nível de acertos somado à participação ativa dos estudantes durante as discussões demonstraram objetivos alcançados e a efetivação da ação. Temas como discriminação, preconceito, saúde mental e curiosidades sexuais na infância foram tratados de forma leve e aberta, para ser possível concretizar o fim de tabus enraizados e presentes na sociedade brasileira. Considerações finais: A iniciativa de abordar temas relacionados à diversidade sexual e de gênero, especialmente na adolescência, período em que questionamentos são frequentes, é de extrema importância para sanar dúvidas e ajudar a mitigar violências e preconceitos, além de possibilitar o desenvolvimento de uma postura crítica em relação a essa temática. Dessa forma, a ação utilizou a educação como ferramenta para desconstruir esses estigmas, contribuindo para promoção de uma sociedade mais inclusiva e segura para a comunidade LGBTQIAP+. Os resultados evidenciaram uma compreensão por parte dos estudantes sobre a existência e os impactos da homofobia, além de uma maior conscientização acerca da violência e discriminação enfrentadas pela comunidade LGBTQIAP+. Apesar disso, algumas limitações foram identificadas, como a necessidade de mais tempo para aprofundar determinados temas, como a importância da educação sexual e os impactos da homofobia na saúde física e mental. Sendo assim, ao reconhecer esses obstáculos, abre-se espaço para utilizá-los como pontos de aprimoramento em futuras ações, o que pode contribuir para resultados mais eficientes. Por fim, os resultados sugerem a continuidade de iniciativas educativas semelhantes para fortalecer a conscientização e o entendimento dos jovens sobre essas questões. Além de que, ao participar de iniciativas relacionadas à homofobia, nós, estudantes de medicina, pudemos expandir o conhecimento sobre diversidade e inclusão, o que é essencial em um campo tão diversificado como a medicina. Ademais, houve a oportunidade de desenvolver empatia e sensibilidade em relação às experiências e desafios enfrentados pela comunidade LGBTQIAP+. Por fim, foi possível aprender a reconhecer e respeitar as diferenças individuais de futuros pacientes, contribuindo para uma prática médica mais centrada no paciente.