Apresentação
As fotografias no contexto da educação permitem ao docente trabalhar com a arte e despertam a afetividade necessária para o processo de ensino e aprendizagem, pois ilustram fatos e momentos que resgatam memórias visuais e psíquico-afetivas no observador. Um varal de fotografias foi utilizado em uma oficina na Atenção Primária em Saúde (APS), no processo de educação permanente, com o objetivo de promover a diversidade problematizadora necessária na prática pedagógica e capacitar os profissionais sobre o enfrentamento da violência doméstica contra a mulher.
Desenvolvimento
O curso de aperfeiçoamento em odontologia em Saúde da Família e Comunidade do Instituto Capixaba de Ensino, Pesquisa e Inovação (ICEPI) propõe uma prática educacional permanente nos municípios do Espírito Santo e utiliza as metodologias ativas para o ensino e aprendizagem, cujo escopo é a qualificação dos profissionais nos territórios de saúde, através de encontros remotos e presenciais entre supervisores e grupos de dentistas lotados na APS dos municípios.
Como metodologia, foi utilizado um varal confecionado em barbante com fotografias penduradas contendo imagens de mulheres vítimas de violência domética nos encontros presenciais entre supervisores e grupos de cirurgiões-dentistas. Os profissionais foram sentados em semicírculo a frente do varal de fotografias, tal qual as rodas de conversa dialógicas utilizadas nas reuniões das equipes de saúde e a comunidade. Foram convidados a olharem e refletirem naquelas fotografias e, em seguida, tecerem comentários sobre os sentimentos provocados pelas imagens e os impactos da violência de gênero no cotidiano e na clínica odontológica.
Os participantes puderam compartilhar democraticamente seus apontamentos, relatos e vivências sobre os variados tipos de violência contra mulheres, políticas públicas, referências de acolhimento e assistência em saúde, além das narrativas de como a violência de gênero pode afetar a autoestima e a saúde bucal. Propuseram hipóteses diagnósticas das lesões no rosto e na boca, abandono da higiene oral e das próteses, incremento no hábito de beber e fumar, alimentação inadequada, obesidade e possíveis quadros depressivos.
Resultados
Como resultado da experiência, observaram-se avaliações positivas e satisfação dos cirurgiões dentistas e supervisores docentes, relatos de ressignificação dos conhecimentos compartilhados e da abordagem humanizada dos episódios de violência de gênero. Manifestaram-se sensibilização e ampliação do olhar para o cuidado odontológico da mulher, qualificação e valorização de suas atuações na comunidade.
Os profissionais se viram estimulados, crítica e reflexivamente, sobre as realidades de seus territórios e dispostos a desenvolver comportamentos atitudinais ampliados nas intervenções, aproximação do conhecimento técnico com a realidade, valorização das relações com a equipe de saúde e usuários, cuidado ampliado e assistência às famílias e comunidades, para além do campo da saúde bucal.
Os supervisores demonstraram satisfação e interesse com a experiência, pois requereu poucos recursos e propiciou a sensibilização necessária ao aprimoramento dos profissionais de saúde e positivaram como uma prática educativa exitosa, que pode se firmar permanente no curso.
Considerações finais
Registros fotográficos podem ser recursos didáticos visuais problematizadores adequados na educação permanente da APS e podem fornecer bons insumos para a qualificação profissional de cirurgiões-dentistas, por registrarem momentos cotidianos similares à expressão da realidade.